"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 30 de janeiro de 2011

Frontalidade face ao “Provedor do Povo”

Ouvido no dia seguinte às eleições, D. Januário Torgal Ferreira comentou a passagem do discurso de vitória de Cavaco Silva em que este afirmou que seria o "Provedor do Povo". Frontalmente, D. Januário disse: 


«Não é a brincar que se diz a alguém que se é provedor do povo. O provedor do povo tem que sujar as mãos. Não pode, como o velho pároco da aldeia, mandar recados ao povo, indirectas e menos agradáveis atitudes peremptórias do alto do seu púlpito. Peço desculpa pela comparação. Porque mandar recados é muito fácil. Fazer discursos é muito fácil. Sabe que concita a simpatia e consegue jogar em todos os tabuleiros. O que eu queria é que ele jogasse no único tabuleiro: aquele que tem sangue, aquele que tem dificuldades, aquele que tem injustiças, etc.»

TSF, 24 de Janeiro de 2011

Pode ser ouvido em:  http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1765140

S. Vicente de Fora - reabriu a igreja

A 22 de Janeiro comemora-se o dia de S. Vicente, padroeiro da cidade de Lisboa.
E no dia do seu padroeiro, reabriu a Igreja de S. Vicente de Fora, que se encontrava encerrada desde Agosto de 2008, por motivos de segurança.
A igreja, aberta ao culto e integrada no circuito de visita ao Mosteiro, estava muito degradada devido às infiltrações de água e à... caca de pombo. É que da cobertura da igreja, a acreditar nas notícias, foram retiradas 40 toneladas (!) de excrementos de pombo.
A igreja, que está ligada ao mosteiro onde Stº António estudou e viveu, onde a dinastia de Bragança e os Patriarcas têm os seus panteões, sofreu grandes obras estruturais completamente suportadas pelo Patriarcado de Lisboa, apesar de ser monumento nacional. O Estado... está em crise (e não é só financeira!...)


É um dos monumentos mais marcantes de Lisboa, com uma localização que permite que da sua cobertura se tenha uma paisagem privilegiada sobre parte da cidade, o Tejo (o Mar da Palha) e as várias bandas da Outra Banda.

Os fins de semana têm surpresas

Está uma pessoa a contar ir à exposição dos Primitivos Portugueses no Museu de Arte Antiga e acaba por ir parar à Misericórdia (Largo Trindade Coelho, Igreja de S. Roque) e à Cervejaria Trindade.
Há muito tempo que lá não me sentava e amesentava.

Gostei do regresso ao que foi o lugar do refeitório do Convento dos Frades Trinos, decorado com magníficos painéis de azulejo.
Comeu-se bem, sendo de assinalar uma mudança para melhor no serviço, que antes se assemelhava a um favor. Éramos sempre tratados como alguém que ia perturbar a paz conventual, uns chatos que dávamos um trabalho que não merecíamos de maneira nenhuma (mesmo pagando).

À saída misturámo-nos com os turistas em S. Pedro de Alcântara, vendo Lisboa à luz de um sol raro nos últimos dias.



quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Há 66 anos

A 27 de Janeiro de 1945 foi encerrado o campo de concentração de Auschwitz.


Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casa aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração.
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Primo Levi
 
 
"Filmem e fotografem o máximo possível, pois pode ser que um dia digam que nada disso aconteceu."
Dwight Eisenhower

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foi hoje a cerimónia de doação do espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen à Biblioteca Nacional.


Citações de... 
“(...) um momento cultural de grande beleza, quase um acto poético, que é o que ela mais merecia ou merece. Como falar de Sophia? Como é difícil falar de Sophia...”
Eduardo Lourenço

“O nosso privilégio foi termos recebido tudo o que recebemos da nossa mãe, o mínimo que nos competia é devolver tudo o que dela só foi nosso, por acaso ou sorte.”
Miguel Sousa Tavares


Ainda bem que nos lembramos de Sophia (soa bem dizer o seu nome assim).
Há pouco tempo foi a edição da sua obra poética.


Que Sophia, a sua obra e o seu espírito de poesia entre nós permaneça.


 

Jornalismo de matilha

No Público de 14 de Agosto passado, Paula Torres de Carvalho explicou o que era o jornalismo de matilha e os perigos que ele apresenta.

«Vai-se assistindo cada vez mais ao fenómeno do chamado "jornalismo de matilha" (pack journalism) na sociedade portuguesa. Os acontecimentos seleccionados como notícias são alvo de uma cobertura maciça por parte dos vários e distintos meios de comunicação social. Os jornalistas, em bando (ou seja, em matilha...) juntam-se nos mesmos sítios, às mesmas horas e para os mesmos acontecimentos marcados pelas mesmas agendas oficiais, entrevistam as mesmas pessoas e destacam os mesmos assuntos. Sem espírito crítico, sem um olhar próprio, copiam-se uns aos outros e escolhem o mesmo ângulo das notícias. (...)
A principal preocupação é dar mais depressa e não de forma diferente. Aliás, torna-se mesmo difícil contrariar esse espírito de "matilha", face à frequente resistência e desconfiança por parte das chefias, nada sensíveis a qualquer sugestão de se dar relevo a uma perspectiva diferente da que os outros media escolheram e já difundiram antes. O resultado é um produto final idêntico e uniforme para consumo de leitores de jornais, telespectadores e ouvintes de rádio.
Daí a prática frequente de "se copiarem" as versões de quem cabe noticiar os acontecimentos imediatamente ou em directo: a agência de notícias Lusa e as rádios e as televisões.
Nesta "correria" imposta pelo imediatismo e pela tirania do tempo, não se perde apenas a originalidade e o espírito crítico. Vão-se atropelando as mais elementares regras éticas e deontológicas do jornalismo.
(...) É uma dinâmica perigosa e gravíssima. Perigosa, porque os jornalistas, com o poder de assegurarem os direitos constitucionalmente consagrados de informar e de ser informado, tornam-se eles próprios instrumentos de interesses e de poderes estabelecidos. Grave, porque durante a correria, a "matilha" arrasta o bom nome das pessoas para a lama, não respeita a presunção da inocência e, sobretudo, não noticia a verdade. (...)
É sem dúvida um exercício difícil lutar contra a tirania do tempo nestes tempos dominados pela velocidade com que circula a informação. Mas há que fazer escolhas nesta guerra em que o jornalismo anda tão mal ferido pelo que aí se vai publicando em seu nome: ou se sobrevaloriza o sensacionalismo e a mentira, ou se opta por um jornalismo cívico e responsável.»

Quem melhor do que alguém do meio para falar do assunto?

O novo chamariz

Passadas as eleições presidenciais, esclarecidas (?)/esquecidas as situações que envolvem o Prof. Cavaco Silva, arrefecido o entusiasmo pela morte de Carlos Castro e acontecimentos colaterais, fiquei a pensar que assunto iria concentrar a atenção do "jornalismo de matilha".

Carlos Silvino, com a entrevista de ontem, deu-me a resposta.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Poema à mãe


(...)
Não me esqueci de nada, mãe
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade


domingo, 23 de janeiro de 2011

No meio da orquestra

Foi por onde andei, durante a execução da Sagração da Primavera.


Obrigado, Carlos R., por me teres avisado que, no MUDE, a exposição - instalação multimédia - terminava hoje.

A coerência de Sócrates

Há áreas em que não podemos acusar José Sócrates de incoerência.

A política na área da educação, por exemplo, empurrou para a reforma prematura um largo número de professores.
Os apoios do PS nas últimas eleições presidenciais a Mário Soares e a Manuel Alegre também os empurrou para a reforma.

Doloroso dever

Hoje, cumpri o doloroso dever de ir votar.

Não valeu de muito.
Nestas eleições nunca valeria!

Mas concordo que as expectativas e os resultados estão ao nível do país que somos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Bom livro

Com estas duas últimas leituras descobri uma nova definição de bom livro:

"Bom livro é aquele que nos faz passar a estação onde devíamos ter saído."

Boas leituras.

O espião de D. João II

A Fátima enviou a mensagem "O teu livrinho é viciante".
Pois é. Por isso é que eu não largava o espião. E tive pena que o livro acabasse.

Romance histórico de Deana Barroqueiro, que ficciona as aventuras de Pêro da Covilhã, personagem com "qualidades e talentos comparáveis aos de um James Bond e Indiana Jones, reunidos num só homem" (como publicitava a editora do livro).

Sem menosprezar a riqueza narrativa e o cuidado linguístico, atento à época e à origem beirã de Pêro da Covilhã, o que mais me impressionou neste livro, foi o rigor da pesquisa que se adivinha por detrás da escrita, enriquecendo uma aventura já por si fascinante.

A tábua de Flandres

«É tudo um tabuleiro de xadrez de noites e dias, onde o Destino joga com os homens como se fossem peças.»

A tábua de Flandres – um quadro pintado (na imaginação de Arturo Pérez-Reverte), em 1471, por Pieter Van Huys (pintor inventado com base no real Pieter Huys), é o motivo deste thriller.

Nesse quadro, dois cavaleiros disputam um jogo de xadrez. No trabalho de restauro da pintura, é encontrada uma inscrição: "Quis necavit equitem" – Quem matou o cavaleiro – que remete para um crime que vitimou um dos jogadores, 500 anos atrás.

Entra-se num processo de descoberta, de desmontagem e montagem do quadro, construção e desconstrução do jogo de xadrez, criando-se um vínculo entre as peças e as personagens da história. Uma história que nos prende, à boa maneira de Pérez-Reverte, com a descrição detalhada da pintura, lembrando O pintor de batalhas, obra em que a descrição/interpretação de uma pintura mural é levada quase ao extremo.
A precisão, quase pedagógica, é extensiva ao jogo de xadrez e à música de Bach, por onde faz pequenas digressões, no que se refere aos enigmas próprios de obras de arte artigas. Aliás, há personagens da história que são especialistas nas diferentes áreas ou artes em jogo no livro: antiguidades, pintura, música e xadrez.

«As obras de arte contendo jogos e chaves ocultas eram habituais antigamente. Bach, por exemplo. Os dez canones da sua Oferenda são das coisas mais perfeitas que compôs e, no entanto, não deixou nenhum deles completamente escrito... Fê-lo propositadamente, como se se tratasse de adivinhas propostas a Frederico da Prússia... Um ardil musical frequente na época. Consistia em escrever um tema, fazendo-o acompanhar de algumas indicações mais ou menos enigmáticas e deixar que o canone baseado nesse tema fosse descoberto por outro músico ou executante.»

E o enigma vai-se resolvendo, tal como um jogo de xadrez ou a Oferenda de Bach, através de um processo que nos leva a não querer parar a leitura.

Também o jogador é prisioneiro
- a sentença é de Omar - de um tabuleiro
de negras noites e brancos dias.

Deus move o jogador e este a peça.
Que Deus por trás de Deus tudo começa
o pó, o tempo, o sonho, as agonias...?
Jorge Luís Borges

Lua




sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Já estamos a perder

Acabou a campanha eleitoral.
Domingo vota-se.

O nível foi tão baixo que nunca tive tanta certeza: qualquer que seja o resultado... vamos perder!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Atenção à atenção do chefe!

Candidato fala aos “servidores” do Estado
Cavaco alerta para aumento das taxas de juro com segunda volta

A “campanha está no fim” e Cavaco Silva gasta os seus últimos argumentos a pensar nas presidenciais de domingo. E há uma fonte de preocupação: os funcionários públicos. Tendo promulgado o Orçamento do Estado e dado luz verde às medidas de austeridade, incluindo os cortes salariais na função pública, o Presidente e candidato promete agora vigilância. E dramatiza, ao máximo, as consequências de uma eventual segunda volta, que não deseja.
Público on-line, 20 de Janeiro de 2011

Mas... estava distraído quando assinou o Orçamento?
Esteve distraído 5 anos? Passou-se agora para a oposição? Tornou-se agora o líder da oposição, ocupando o lugar do Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Vila Real?
Não há nada como estar na oposição, quando as eleições se realizam na altura em que parte dos funcionários públicos se vêem confrontados com a redução dos vencimentos. Olh'a sorte do calendário eleitoral.

A ditadurazinha era melhor!

Pelos vistos, as eleições fazem contrair o crédito e subir taxas de juro!

Cavaco alerta para aumento das taxas de juro com segunda volta

Esta quinta-feira, num almoço com apoiantes em Felgueiras (Porto), Cavaco alertou para as consequências de uma segunda volta, que seria “desviar as atenções do essencial”. E “o essencial” é que iria causar “uma contracção do crédito e uma subida das taxas de juros. Com as consequências para as “empresas e famílias”.
Público on-line, 20 de Janeiro de 2011

Razão tinha Salazar: depois do susto com as eleições presidenciais a que concorreu Humberto Delgado, passou a ser o Parlamento a eleger o Presidente da República.
A democracia corresponde a um gasto de dinheiro! Nada desses luxos.
Cavaco mais 5 anos, pelo menos, e sem necessidade de eleições!

Federico Fellini

Em 1997 Caetano Veloso editava Omaggio a Federico e Giulietta. Era o resultado em disco de um espectáculo que tinha sido convidado a fazer em Rimini, em homenagem a Federico Fellini e a Giulietta Masina.
O convite partira da Fondazione Fellini , conhecidas que foram as "declarações de amor" de Caetano Veloso à poesia do cinema de Masina/Fellini.

O cinema, para mim, parou há uns anos. É a vidinha! Ou são opções (e preguiça!), não vale a pena arranjarmos desculpas.
Fellini é daqueles nomes que me ficaram - encantava-me aquele mundo estranho e aquelas personagens que tanto identificam o seu cinema, um belo horrível que lhe enchia a memória e derramava ternura.
Era o tempo da Faculdade, da Cinemateca no Palácio Foz aos Restauradores, a bicha que fazíamos pela calçada acima, paralela às linhas do elevador da Glória, para adquirir por 5$00 os bilhetes para os ciclos de cinema, onde Fellini provocava as maiores filas. Lá tínhamos de faltar às aulas...
Lembro-me de um ciclo dedicado a Fellini, com filmes diferentes à tarde e à noite. E eu, de 2.ª a 6.ª, a ver as várias sessões, para não perder nenhum.

Fellini faria hoje 91 anos.


A primeira música do disco de homenagem de Caetano Veloso - Que não se vê (como tu mi vuoi)

Assim consigo juntar dois artistas de quem gosto muito.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Nascidos no mesmo dia

A poesia, a música e a pintura estão aqui bem representadas.

A 19 de Janeiro nasceram












Eugénio de Andrade (1923)














Paul Cézanne (1839)

Janis Joplin (1943)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Sonhos (VII)

Mais do que o sonho...
O interessante é que hoje acordei relembrando o sonho que tinha tido.
Voltei a adormecer.
Sonhei, então, que estava a contar o meu primeiro sonho, por coincidência, a uma das pessoas que nele tinha entrado.

Oh, tristeza!

Cavaco Silva justificou o facto de ter assumido algumas divergências com o Governo nos últimos dias, durante a campanha presidencial, depois de ter ficado a «conhecer melhor a realidade e os problemas do país» após os contactos que tem feito. E disse: «Já tenho uma lista enorme de casos e dramas que me foram sendo apresentados ao longo desta campanha» (ouvir TSF)

Para quem diz que é o candidato melhor preparado, o único que tem conhecimentos e experiência para poder exercer capazmente o cargo, ter de esperar 5 anos por uma campanha eleitoral para conhecer os problemas do país...

“E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca…”
                                                                              Fernando Pessoa

Que tristeza!
 

Educação - O ridículo mata (2)

Ontem, ao telefone, a minha amiga Ana G. disse-me que estava na minha turma de iniciação às TIC.
Depois de 2000 fez uma acção já de nível II, mas como não fez a iniciação depois dessa data... tem de fazer agora!
É a tal lógica esperta do Ministério!

Por esta lógica, ainda me vão exigir que volte a fazer o exame da 4.ª classe.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Está a pensar suicidar-se?

Não entre em pânico, não está sozinho
Somos várias pessoas a partilhar as mesmas ideias e, até, alguma experiência. Escreva-nos um pequeno relato sobre si e a sua situação. Talvez possamos ajudar.

A partir deste anúncio conseguiu-se reunir um número elevado de potenciais suicidas a fim de se concretizar um suicídio colectivo.
A ideia foi de dois suicidas falhados, um empresário falido e de um coronel frustrado com a impossibilidade de exercer a sua arte. Conheceram-se quando, num acaso em que o destino é pródigo, ambos tencionavam suicidar-se, num mesmo celeiro isolado.

Um acaso menor salvara as vidas de dois homens robustos. Falhar o seu próprio suicídio não é necessariamente o que há de pior na existência. Não se pode ser sempre bem-sucedido em tudo.

É esse o ponto de começo de uma aventura delirante, escrita por Arto Paasilinna, um lapão finlandês.
Tenho tido dificuldade em conter o riso quando vou sozinho no comboio a ler este livro.

Mais uma dica: esta aventura de um grupo de finlandeses suicidas passa pelo Cabo Norte, no extremo da Europa, e termina em Portugal, no sudoestíssimo cabo de São Vicente, junto à fortaleza de Sagres.

No meio da alegria geral, os suicidas partiram para visitar o promontório do fim do mundo, no cabo de São Vicente (...). O transportador Korpela confessou que aquela viagem de Pori ao Cabo Norte, atravessando todas as regiões da Finlândia, e, depois, através de toda a Europa, até ao cabo S. Vicente, fora a viagem mais louca e incrível que fizera na sua vida.
- Dizes isso porque ainda estamos vivos ou porque ainda não conseguimos matar-nos? – perguntou-lhe o coronel.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Boca" presidencial

Sócrates pede "cooperação institucional" ao futuro Presidente

Título no Público on-line de hoje.
Não há dúvida que campanha eleitoral é sinónimo de jogos florais.

Mas é uma boa "boca"!

Cagarro - Ave do Ano 2011

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) elegeu o Cagarro como Ave do Ano 2011.

O cagarro é considerado pelos investigadores um excelente indicador da qualidade dos oceanos, por ser uma espécie muito sensível a alterações do meio ambiente. A SPEA pretende alertar para a sua situação, associada à conservação dos oceanos.
A notícia é do Açoriano Oriental, o mais antigo jornal diário de Portugal.

Para quem conhece e gosta dos Açores o cagarro dirá alguma coisa.
Dirá um leigo que é uma espécie de gaivota com hábitos nocturnos. Acho uma delícia ouvi-los à noite, junto ao mar, como os ouvi nas Flores e em S. Jorge. É um misto de som de gato e de bebé, se é que se pode imaginar. Parece que quase que fala.
Também há quem não goste nada de os ouvir. Mas há gente capaz de tudo.


Durante 2010 decorreu a campanha SOS Cagarro, com o objectivo de salvar cagarros jovens, vítimas das luzes nocturnas que perturbam a sua orientação.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Conceitos de SUCESSO

O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, considerou que a operação de emissão de dívida de hoje foi “um sucesso” e que “perante isto, não há necessidade” de recorrer a ajuda externa.

“A procura triplicou a oferta, o que é um recorde para Portugal”, afirmou Teixeira dos Santos, numa conferência de imprensa convocada para comentar os resultados da emissão desta manhã de Obrigações do Tesouro.” Cerca de 80 por cento da procura foi externa.

Expliquem-me: não recorremos a ajuda externa... mas a procura é externa. Qual é a diferença entre ter ou não ter a intervenção do FMI?

Se estes recordes e estes sucessos nos devem encher de tanta alegria... endividemo-nos mais! Para quê tantas medidas de austeridade?

Já Cavaco Silva, nos seus tempos de 1.º Ministro, nos falava de sucesso.
Vamos de sucesso em sucesso, até ao sucesso final.

Educação – O ridículo mata

O Min. Educação pretende que todos os professores tenham certificação de competências na área das TIC.
É normal, na actualidade, que se queira os professores aptos a lidarem com as novas tecnologias.
A certificação estrutura-se em níveis. Pacífico.
Para obtenção do nível I os professores tinham de apresentar provas de concretização de Acções de Formação, com o mínimo de 50 horas, efectuadas depois de 2000.

Porquê 2000? Porque não 1999? Ou 1998? Tem menos valor?
Resultado (exemplo): uso diariamente o computador desde 1990. Fiz acções sobre Internet, Páginas na Net, Word, Excel, Access... tudo antes de 2000. Trabalho regularmente com os meus alunos usando os computadores, em diferentes programas do Office, e faço a gestão de um blogue que lhes é destinado.
Agora: vou ter de frequentar uma acção de formação de iniciação (Office) para obter a certificação nível I do M.E. Aprender a trabalhar com o Word e o Excel!
Mais: o Coordenador e outros elementos da Equipa do Plano Tecnológico do meu Agrupamento de Escolas, pela mesma razão, também vão fazer a mesma acção de iniciação!!
Estamos a brincar!
Alguém acha isto sério?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Vítor Alves, capitão de Abril

Morreu o coronel Vítor Alves.
Membro da direcção permanente do MFA, foi em sua casa que se realizaram várias reuniões dessa direcção, como aquela em que Melo Antunes (outro "capitão" já desaparecido), a 22 de Março de 74, apresentou o documento que seria o programa político do MFA.
Pouco a pouco vão morrendo aqueles que fizeram e são a referência do 25 de Abril de 1974.
É uma outra morte do 25 de Abril.

Tenho de procurar as mensagens que os militares de Abril - velha expressão! - enviaram para os meus miúdos do 9.º 2 e do 9.º 4, quando organizámos as actividades comemorativas dos 25 anos daquela data.
Vítor Alves foi um deles.
Fica a sua memória. Do 25 de Abril também vai restando só a memória.

Escritores esquecidos...

Quando repunha o stock de mensagens (como se escreverá stock de acordo com a nova ortografia? Estoque?) passei pela imagem do Super-homem a voar. Eu não voo, só posso saltar, dar pulos...

Quem sabia de pulos era outro escritor injustamente esquecido: Nuno Bragança.
A sua primeira obra, A noite e o riso, abre com a frase (?) fonética "U omãi qe dava pulus era 1 omãi qe dava pulus grãdes. El pulô tantu qe saiu pêlo tôpu."


Há já algum tempo que não a recordava.

Contos da barbearia

Este é o título de um dos discos da Banda do Casaco, o único que não tenho desta magnífica banda portuguesa (1975 - 1984), que vi actuar ao vivo na Aula Magna, em 1978 (?), numa das suas pouquíssimas actuações públicas (chegam os dedos de uma mão para as contar e acho que ainda sobram!).

Mas os contos até eram outros quando me sentei ao computador para escrever esta mensagem.
Tinham a ver com barbeiros, sim, com as conversas que são próprias das barbearias e com a comunicação social.
A propósito de histórias destes dias referidas nos jornais, dizia um cliente "Os jornais de hoje, se os espremermos, deitam sangue."
É aquilo que eu dizia da imprensa, sobretudo da televisão: pobrezinha, muito pobrezinha.

Barbeiros (2) ou José Rodrigues Miguéis (1)

A ida ao barbeiro fez-me lembrar uma história de José Rodrigues Miguéis, Pouca sorte com barbeiros.
José Rodrigues Miguéis, esse escritor tão injustamente esquecido.
Uma lembrança mais completa ficará para um dia destes.



Nota: É engraçado que quando procurava uma imagem de uma barbearia antiga, fui parar a um site onde a fotografia que escolhi estava acompanhada por um excerto de Pouca sorte com barbeiros. Acasos. E gostos: alguém com quem partilho o gosto por JRM.

Barbeiros

Ao fim de três tentativas, em que encontrei sempre o barbeiro cheio, hoje consegui que me cortassem o cabelo.


Parece que a crise ainda não chegou aos cabelos. Disse isto ao Sr. Gil (o barbeiro), que confirmou os fins de semana como o momento em que as pessoas têm a oportunidade de ir ao barbeiro. Mas falou, também dos muitos momentos mortos durante a semana.
Lamentava que as pessoas não pudessem deixar a cabeça na barbearia para ele distribuir melhor o trabalho. Ele devolveria a cabeça mais tarde, com o cabelo bem tratado.
Sugeri-lhe que nesse serviço pudesse também apertar alguns parafusos mais soltos ou repor alguns, mas ele acha que muitas cabeças, nesse aspecto, já não têm reparação possível.
Achei melhor não perguntar o que ele achava da minha.

Amizade e Facebook ou viceversa

Ao chegar à estação, ouvi uma jovem dizer para outra, a propósito de alguém notoriamente mais público:
"É minha amiga no facebook."

E se não for no facebook? Já não é amiga?

Sonhos (VI)

A Amália , ao fundo da rua onde moravam os meus pais, reclamava contra a censura por não a deixarem fazer um espectáculo.
Como protesto deu a sua viola. Propus que fosse dada ao Francisco Fanhais. mas quem agarrou a viola foi a minha colega Fátima P. para a levar à Vanessa ("Bana"), que estava a acenar na janela do prédio da esquina.

Como é que conseguimos juntar gente tão díspare no mesmo sonho?
O.K! É a única situação em que todos podem estar juntos.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Super-Homem

Hoje vi, de passagem, umas cenas do filme do Super-Homem.


Desisti por inveja: eu não consigo fazer o que ele faz!

Repórter pós-moderno


Identifico nesta imagem os (mais ou menos) jovens repórteres que enxameiam (sobretudo) os canais de televisão, sempre vibrantes, a galvanizarem os telespectadores, sem saberem muito bem o que estão a dizer.
Um reconhecimento inteligente de Luís Afonso (Revista Sábado).

E podíamos falar do gosto pela exploração do sofrimento e dos sentimentos (dos outros), pelo mais chocante, pelo espectaculozinho degradante, pelo pequeno pormenor sórdido...
Cada ponto negro que encontram é uma vitória, um êxito (e, provavelmente, uma possibilidadezinha de promoção, porque a vidinha se faz a pulso... será muita gente a chafurdar neste meio).

sábado, 1 de janeiro de 2011

Conselhos do poeta

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
                                             Miguel Torga




Começo do novo ano


Saudavam com alvoroço as coisas
Novas
O mundo parecia criado nessa mesma
Manhã
Sophia de Mello Breyner Andresen, Ilhas