"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Setembro termina com música

Um luxo!...


Early Home Recordings, de Sandy Denny em gravações caseiras do início da carreira (1966-68), ainda pré-Fairport Convention.

Uma surpresa que não esperava encontrar tão cedo!

Uma caixa com os 7 discos de Stomu Yamashta gravados para a Islands (1972-76). Encomendada...

Em Go (1976), rodeado por músicos virtuosos, Stomu Yamashta oferece-nos um extraordinário disco.

Hoje fiquei de barriga cheia ouvido cheio!


domingo, 29 de setembro de 2024

Dia do Arcanjo S. Miguel

«Foi então que no céu se deu uma batalha. Miguel e os seus anjos declararam guerra ao dragão e, por sua vez, o dragão e os seus anjos responderam, mas foram vencidos e desapareceram do céu definitivamente. O grande dragão foi esmagado. Ele é a antiga serpente, aquele a quem chamam Diabo e Satanás, o sedutor de toda a gente. Ele e os seus anjos foram atirados para a Terra.*»

Apocalipse, 12:7-9

29 de Setembro é o Dia de S. Miguel. Miguel é o príncipe dos anjos, mas, desde as reformas do Concílio Vaticano II (1961), está acompanhado na celebração deste dia por S. Rafael e S. Gabriel, Arcanjos, os soldados do exército celeste. 

Li que a data de celebração de S. Miguel é comum a cristãos, judeus e muçulmanos, "como uma homenagem a um dos sete espíritos puros de Deus"**.  


* Esse terá sido o descuido do Arcanjo Miguel...
** Que S. Miguel valha a alguns líderes políticos mundiais! Mas parece que o Diabo e os seus anjos maus, impuros e corruptos ainda andam na Terra...


A dignidade está no ócio

«Falam da dignidade do trabalho. Que disparate! O trabalho real é uma necessidade da condição terrena da humanidade pobre. A dignidade está é no ócio. Para além disso, 99% de todos os trabalhos realizados no mundo são tolos e desnecessários, ou prejudiciais e cruéis.»

Herman Melville, carta de 5 de Setembro de 1877

Claude Monet - Au bord de l'eau, Bennecourt (1868)

Amanhã é 2.º feira!...


sábado, 28 de setembro de 2024

28 de Setembro de 1974

Passam hoje 50 anos sobre o 28 de setembro de 1974, data em que os spinolistas projectaram a realização da grande manifestação da "maioria silenciosa", como forma de forçarem a instauração de um regime presidencialista (com a dissolução da Comissão Coordenadora do MFA) e, na sequência, o bloqueio do processo de descolonização (com o apoio da direita civil e militar) e a contenção do processo revolucionário.


De 27 para 28 de Setembro foram organizadas barreiras populares (civis de partidos de esquerda - moderados e radicais -, de sindicatos, de comissões de trabalhadores e de trabalhadores) com a participação de militares, com revista das viaturas que se deslocavam para Lisboa (procurando armas), dificultando a acção dos potenciais manifestantes.



No próprio dia 28, a manifestação seria proibida pela Comissão Coordenadora do MFA e cancelada pelo General Spínola.
Vários elementos associados ao regime ditatorial foram presos, acusados de implicação na "intentona de direita" .
O General Spínola renunciou ao cargo de Presidente da República (30 de Setembro) e verificou-se uma alteração da correlação de forças no aparelho de Estado e nas Forças Armadas - acelerava o PREC.

O General Costa Gomes substituiu Spínola na presidência


Israel procura a paz... à lei da bomba!

«Decidi vir e falar pelo meu povo, pelo meu país, pela verdade. E aqui está a verdade: Israel procura a paz, Israel fez a paz e vai fazer a paz outra vez.»

Netanyahu na ONU, 27.09.2024

Era a brincar!


No fundo, muito lá no fundo, Netanyahu é um tipo divertido... 

domingo, 22 de setembro de 2024

Outono artístico


Um Outomno... à volta da vinha
(Rafael Bordalo Pinheiro)


O início da minha época balnear

Logo hoje, quando pensava iniciar a minha época balnear, o tempo estava assim na praia da Parede.



Não se descortinavam, nas proximidades, os proprietários destes sapatos!


terça-feira, 17 de setembro de 2024

A cunha a património nacional

... Mas é um problema dos outros. Corruptos são só os outros...

A “cunha” (tecnicamente, tráfico de influências) não é uma forma de corrupção ou, pelo menos, não lhe está associada?

A "cunha" é bem portuguesa - é o "jeitinho" (a "Portuguese word to describe a method of finding a way to accomplish something by circumventing or bending the rules or transgressing social conventions").

O "jeitinho" é uma tradição que já vem de longe.

É nosso património! 


domingo, 15 de setembro de 2024

Bocage


Poema de José Jorge Letria

Bocage nasceu a 15 de Setembro de 1765, data em que Setúbal, a sua terra Natal, celebra o Dia da Cidade.


sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Viajar através dos livros


Parece de propósito!
Abrir o fb e encontrar publicidade de um organismo oficial de turismo de Portugal ao programa Viajar através dos livros
"Descubra Portugal pelos olhos dos seus escritores"... mas só de Julho a Setembro e a meio tempo! (ver a mensagem anterior)


Mestre Aquilino

A 13 de Setembro de 1885 nasceu Aquilino Ribeiro.


No passado mês de Junho, estando no Alto Minho, fazia intenção de visitar a Casa Grande de Romarigães, no município de Paredes de Coura.
Fazia...

Li na página da Câmara: «“Entre para dentro”, como se costuma dizer no Minho, e percorra os 3 espaços que o investimento do Município de Paredes de Coura e a disponibilidade da família do autor, prepararam.»
Mas não entrei... Não pude entrar!

Não tinha lido: «A Casa grande está aberta ao publico de 01/07 a 15/09 de quarta a sábado das 14h às 18h. Nos restantes meses deverá ser feita marcação (mediante disponibilidade), via e-mail casagranderomarigaes@paredesdecoura.pt»

Ainda tentei o contacto telefónico. Impossível a visita.
E pensei no investimento do Município (de que desconheço o valor), e pensei... Aberta só dois meses e meio por ano, só quatro dias por semana, só numa parte do dia? Será que não justifica um melhor complemento ao investimento já feito? 
A inauguração parece ter sido bonita. Muita gente bem-posta... Mas... será que Aquilino não merecia um espaço a tempo inteiro?
Será que Aquilino não merecia um espaço a tempo inteiro?

Para Olivença, rapidamente e em força!


"Irreversivelmente" portuguesa desde 1297, quando da celebração do Tratado de Alcanizes (fez ontem anos), Olivença foi perdida, de facto, para os espanhóis, em 1801, na Guerra das Laranjas, primeiro ensaio do que vieram a ser as invasões francesas. 

O Tratado de Viena (9 de Junho de 1815) recomendava a designada retrocessão de Olivença.
O dito já foi assinado pela Espanha... há mais de 200 anos (10 de Junho de 1817).
Assinar ou não assinar... 
Não sai mais vinho para essa mesa!...


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

A estrela do vinho

«Se ao céu e à terra fosse indiferente
não haveria no céu a estrela do vinho 
nem o vinho brotaria de uma nascente
Amá-lo é pois digno dos deuses

Incomparáveis as virtudes do vinho
Puro ou terno como os homens e o seu coração
Com três copos conquistamos a felicidade
Mais três copos: temos o universo na mão»

Li Bai (China, séc. VIII)



quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O que faz ter bebido muito Vinho do Porto


A embebedar os quatro cantos do mundo

«Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre. Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No setembro, os homens deixam as eiras da Terra-Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem. E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo.»

Miguel Torga, Um Reino Maravilhoso - Trás-os-Montes


Ainda o Douro, o vinho e os estrangeiros

«A terra do seu nome e do seu amor são as léguas de xisto que dum lado e doutro das margens se levantam em presépio, a encandear o sol que as aquece. Aí sucedem-se as quintas que os turistas que passam vão encontrando num deslumbrado encontro do mito com a realidade. Por mais de uma vez haviam bebido vinho do Porto em Londres, Paris ou Nova Iorque. No rótulo da garrafa vinha o nome desconhecido do sítio onde se criara o néctar. Roncão, Rodo, Canal, Boa Vista, Rio Torto, Crasto, Sagrado... (...) Nomes e apelidos das mais variadas línguas acenavam a cal das paredes dos calços. Diez Hermanos, Cosens, Andresen, Kopke, Sandeman, Croft, De Laforce, Calém -, parecia a torre de Babel.» 

Miguel Torga, Vindima


Ontem descobri que também existia um Dia Internacional do Vinho do Porto. 

O negócio exige!...


O Douro do senhor Smith

O Douro vinhateiro tem dois grandes poetas: Miguel Torga e António Cabral.  

«São ambos duas vozes poderosas, Torga e Cabral, duas vozes bem timbradas e cheias, substanciosas, empenhadas ambas no canto duriense, mas os olhos com que vêem o Douro são diferentes, e por isso diferente a voz com que o cantam.»

A. M. Pires Cabral (1993)

António Cabral vê com alguma ironia o predomínio inglês sobre o território... e os seus homens:

«(...) Hoje, o senhor Smith é o dono da grande quinta:
Setenta pipas de vinho de primeira,
além dum extenso olival, dois pomares,
um palacete, a habitação dos caseiros, os caseiros,
trabalhadores eventuais e outras árvores de fruto. (...)»

Poemas durienses

O senhor Smith era "um menino bonito" do Duque de Wellington. Comprara uma quinta no Alto Douro por uma bagatela e visitava-a de cinco em cinco anos. 

O poeta contava as suas histórias.


terça-feira, 10 de setembro de 2024

Dia do Vinho do Porto

O dia 10 de Janeiro é considerado o dia do Vinho do Porto.


A 10 de Janeiro de 1756, o Marquês de Pombal assinou o alvará régio que determinou a criação da Região Demarcada do Douro, a primeira região demarcada de vinhos em todo o mundo. O território abrangido para a produção de vinhos de "feitoria" ou de "embarque" circunscrevia-se a 40 mil hectares.

Em 1907, João Franco - o Presidente do Conselho de Ministros cuja acção conduziria ao Regicídio - alargou a Região Demarcada para 600 mil hectares, mas Ferreira do Amaral (que sucedeu a João Franco) restringiu-a aos actuais 250 mil, logo no ano seguinte.

Mapa do País Vinhateiro do Alto Douro, de Josh. James Forrester (1843)
(dedicado respeitosamente a sua Majestade Fidelíssima, a Sr.ª Dona Maria II)

O negócio do vinho do Douro desenvolveu-se durante o século XVII graças às importações feitas pelos negociantes ingleses. As elevadas taxas aplicadas pelo governo francês sobre os vinhos de Bordéus fez os ingleses virarem-se para os vinhos do Douro, os quais passaram a exportar regularmente pela barra da foz do Douro. As exportações cresceram, sobretudo, a partir da assinatura do Tratado de Methuen (1703).

Embarque de pipas de Vinho do Porto em Vila Nova de Gaia, cerca de 1900

Segundo o historiador Gaspar Martins Pereira, a designação "Vinho do Porto" surge a partir da segunda metade do século XVII (1675). Esta designação resulta do processo de aguardentação do mosto e é este processo que distingue o velho Vinho do Douro do novo Vinho do Porto. A adição de aguardente vínica ajudava o vinho a suportar as travessias marítimas.  

No Porto e em Vila Nova de Gaia estabeleceram-se as sociedades inglesas para o comércio de vinhos, nomes ainda hoje reconhecidos: C. N. Kopke (1638), Croft (1670), Taylor, Fladgate & Yeatman (1692), J. W. Burmester (1730)... 

No Porto, os ingleses uniram-se na British Factory, a Feitoria Inglesa, que determinou preços, dominou mercados e controlou transportes, mandando em todo o comércio dos vinhos.

A primeira sociedade portuguesa surgiu em 1751: a de D. Antónia Adelaide Ferreira.

Rua Nova dos Ingleses (1834)

Feitoria Inglesa (foto actual)

A criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 1756, seguida da demarcação da região do Douro foram a resposta a uma crise do sector, procurando proteger o negócio, o que passava pela qualidade dos vinhos. Foi estabelecida a diferença entre vinhos "de feitoria" ou "de carregação" dos vinhos "de ramo", o vinho comum "sem direito a viajar".


O território vinhateiro destinado à produção de Vinho do Porto coincide com a área onde se podem produzir outros vinhos (maduros, moscatel, espumantes). No início do século XXI estavam plantados 45 278 hectares. 




Parabéns à Imperial Maria João Pires!




segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Entre Nós e Vocês

Na qualidade de Professor, a propósito do início do ano lectivo, recebi uma cartinha do meu chefe superior, o Ministro da Educação, Ciência e Inovação.

O discurso está entre o nós (também sou Professor - somos mestres do mesmo ofício) e o vocês (os que vão/vamos ter o trabalho).

«Esta semana iniciam as aulas. Para nós, Professores, o mês de setembro marca sempre um recomeço. Os últimos dias foram já de preparação para mais um ano letivo. Na escola, vão encontrar novos alunos, que trazem novas energias e que nos ajudam a mantermo-nos jovens. Como sabemos, o início de um novo ano letivo é sempre pleno de desafios. Mas é, também, um momento de reencontros. De reencontrar colegas e de conhecer novos colegas para partilharmos conhecimentos e experiências.

(... etc., etc., etc...)»

Não gosto do estilo, também não gosto do português (soa-me mal)...

Mas sou optimista: as aulas vão ajudar a manter-me jovem!...

A sério: o recomeço é um acto inicial e traz sempre um sinal de esperança.


Os novos "cacilheiros" - mudar para a vagarosidade?


Haja , Carnide, S. Julião, Algés, Castelo...

Ou seja, não faltem os velhos catamaran, porque a primeira viagem Cais do Sodré - Seixal no Cegonha Branca, o primeiro dos barcos eléctricos a navegar, não correu muito bem quanto ao tempo demorado. 

A viagem, na 4.ª feira, demorou um pouco mais do que o normal nos velhos catamarans e a atracagem levou uns 5 minutos a ser feita. Como a partida já tinha sofrido um atraso de 5 minutos, perdi as ligações de autocarro e tive de chamar um TVDE ao terminal fluvial do Seixal para não chegar tarde à primeira reunião na escola.

Depois desta experiência, penso que talvez seja melhor os novos barcos continuarem parados, por mais um ano, nas docas da Lisnave, com falta de baterias ou com problemas nos carregamentos. 




domingo, 8 de setembro de 2024

Vida navegada de escritores

Cruzei-me com o Damião de Góis.

O Almeida Garrett está no estaleiro. 

Ouvi dizer que o Miguel Torga está avariado, mas o Jorge de Sena já navega.

Em Agosto, ardeu a casa das máquinas do Cesário Verde. 


sábado, 7 de setembro de 2024

Imagens que passais pela retina

Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais!...

Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
– Porque ides sem mim, não me levais?

Sem vós o que são os meus olhos abertos?
– O espelho inútil, meus olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos...

Fica sequer, sombra das minhas mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
– Estranha sombra em movimentos vãos.

Camilo Pessanha

Camilo Pessanha nasceu a 7 de Setembro de 1867, em Coimbra.



sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Energicador


«As pessoas não fazem ideia da coisa esquisita que é a pintura, como é uma coisa íntima (a mais íntima de todas), como está ligada à nossa vida, mas não da maneira que eles pensam – é muito mais tortuosa essa ligação, mais clara e obscura ao mesmo tempo. Não se pintam as emoções, os sentimentos mas essas emoções e sentimentos servem de detonador ou de «energicador» para a partida como é preciso vento para as nuvens correrem depressa no céu (...).»
Menez (carta a Júlio Pomar)

Menez nasceu a 6 de Setembro de 1926.


O lugar do nascimento

«O verdadeiro lugar do nascimento é aquele em que se lançou pela primeira vez um olhar inteligente sobre si próprio».

Marguerite Yourcenar

Não sei quando isso aconteceu, penso só que já terá acontecido!...

Menos filosoficamente, o meu nascimento deu-se por aqui... 
Produto caseiro!



domingo, 1 de setembro de 2024

Mar de Setembro

Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto, 
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves - só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem; 
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Puríssimo. Doirado.

Eugénio de Andrade


Marques de Oliveira, Praia de banhos, Póvoa de Varzim (pormenor)