Carlos Marques da Silva
E é isto!
Uma mão na mão (em vez de uma mão na cara)
Carlos Marques da Silva
E é isto!
Uma mão na mão (em vez de uma mão na cara)
Parece uma daquelas anedotas... mas não é!
Ontem foi o Dia Mundial do Teatro.
Há dias, por todo o seu percurso, tinham sido homenageados 4 nomes de referência do chamado teatro independente, sendo-lhes atribuída a medalha de mérito cultural.
Maria do Céu Guerra, João Lourenço, Jorge Silva Melo (a título póstumo) e Luís Miguel Cintra.
Nos discursos de agradecimento, o que se destaca é a situação em que se encontram as companhias ou as instalações dessas companhias a que estas figuras maiores estão ou estiveram ligadas: teatros à espera de obras (A Barraca), companhias teatrais que desapareceram (A Cornucópia) ou que estão em risco de ficar sem espaço para o desenvolvimento do seu trabalho (Artistas Unidos).
Companhias de teatro que, para além do nome, não conseguem ser independentes (eu sei qual era o sentido do adjectivo, na época em foi adoptado!...).
Uma política cultural de medalhística, mas de fraco apoio à arte.
No orçamento, a Cultura deve continuar abaixo de 1%.
«Não sabem como são as fajãs? Imagine-se uma linha de falésias em sucessão ao longo de toda a costa, a norte e a sul da ilha. Para melhor o imaginar, é preciso "ver" a grande muralha verdejante: não inteiramente a pique, antes em declive e em erosão; sobre ela, como um manto de lã tinturada a verde de urze e faia, toda uma coberta vegetal de rara unidade e harmonia. Quando a falésia abate, ou se do alto ela se despenha, formam-se sobre o mar uns terreiros desabados que as forças da natureza moldam e afeiçoam à sua maneira (...). Fajãs são breves territórios postados como esfinges deitadas sobre a linha do mar. Tangidas pela ilha-mãe, vogam como crias ao lado de quem as pariu. As fajãs fazem a pura e inocente beleza de S. Jorge. Sob nomes que tanto lembram Deus como o Diabo: Além, Ouvidor, Cubres, Santo Cristo, a norte; Almas, Vimes, Bodes, Labaçal, ao sul.»
João de Melo, Açores - o segredo das ilhas
Fajã da Caldeira de Santo Cristo |
Fajã do Ouvidor |
Fajã dos Cubres |
«O mar está espelhado e o céu tão espelhado como o mar, com brancuras de algodão, e nuvens meio adormecidas, orladas de cinzento. Tudo tão branco e parado que parece que o tempo suspendeu a sua marcha. Olho para o mar com rastejados de caracol e pedaços brancos iluminados por dentro. Ao longe vai aparecendo e acompanha-me sempre outra ilha. S. Jorge, estiraçada a outro comprimento. Já percebi que o que as ilhas têm de mais belo e as completa é a ilha que está em frente.»
Raul Brandão, As ilhas desconhecidas
No centro do grupo central (mais central era difícil), S. Jorge é um território insular com 56 km de comprimento e apenas 8 km de largura máxima, com uma cadeia de relevos em posição central, criado por uma série de episódios vulcânicos, no seguimento uns dos outros, mas espaçados no tempo.
A orla costeira é escarpada e alta, erguendo-se verticalmente do mar. Na base das arribas, encontram-se as numerosas fajãs (a que havemos de voltar, porque de Velas e de fajãs agora muito se fala).
Dizem que hoje (também) é dia do cacau.
A leitura faz-se da direita para a esquerda |
«É, andei por aí. Com gente, procurando gente, pontes e vales, tem sido assim esta vida.»
Jorge Silva Melo (1948 - 2022), em 2005