Sobre a polémica do que fazer em relação às estruturas arqueológicas da antiga mesquita de Lisboa, preservadas sob o claustro da Sé, pronunciou-se - com bom senso, parece-me - um largo conjunto de professores universitários da área da arqueologia.
«Os professores universitários na área da arqueologia entenderam, através do presente comunicado, tomar posição relativamente às notícias que têm vindo a lume sobre os achados de época medieval islâmica surgidos no âmbito do projecto de valorização da Sé de Lisboa.
Por um lado, cumpre-nos sublinhar que os dados conhecidos até ao momento
são inequívocos quanto à excepcionalidade científica e patrimonial dos achados,
tratando-se de estruturas associadas ao complexo da mesquita maior da cidade de
Lisboa em época islâmica, singulares no contexto nacional e relativamente raros
no panorama europeu. De resto, já há anos que se conheciam vestígios deste
período no claustro da Sé, não tendo, contudo, à época sido possível
interpretá-los cabalmente. As imagens até agora divulgadas mostram vários compartimentos
de grande monumentalidade, ocupando uma área e com um grau de preservação
assinaláveis, tornando imperiosa a sua conservação e desejável a sua
valorização.
Por outro lado, é impensável que um projecto de valorização de um monumento
nacional, como é a Sé de Lisboa, destrua as suas preexistências. Em Portugal
afirmou-se globalmente nos últimos anos o princípio da conservação pelo
registo, em que os achados arqueológicos são eliminados de forma sistemática em
operações de reabilitação urbana, de saneamento, ou da construção de
equipamentos públicos, num equilíbrio sempre frágil entre a preservação do passado
e as necessidades prementes do presente. No entanto, o caso presente é o de um projecto
de valorização patrimonial, pelo que é paradoxal a eliminação de estruturas
desta importância. É de rejeitar em absoluto a ideia de deslocalização dos
vestígios, uma prática abandonada há muitas décadas pelas mais elementares
normas internacionais. Não é igualmente sustentável que a preservação dos
vestígios ponha em causa a integridade da Sé, tendo a engenharia mostrado, em
vários pontos da Europa, as possibilidades de compatibilização em situações
idênticas à presente. Em todo o caso, não sendo possível a valorização, é
sempre viável o seu aterro, regressando-se à situação prévia à deste projecto garantindo,
deste modo, a preservação destes achados singulares para gerações vindouras.
A academia está aliás, como sempre esteve, disponível para ajudar a
encontrar as melhores soluções.»