"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Saturnalia

«É agora o mês de Dezembro, em que a maior parte da cidade está em festa. Rédeas soltas são dadas para a dispersão pública, em qualquer lugar que se vá são ouvidos os sons de grandes preparações, como se houvesse realmente uma grande diferença entre os dias devotados a Saturno e os dias comerciais. Se você estivesse aqui, eu gostaria de debater com você se deveríamos ter uma noite como as outras ou se, para evitar a diferença, deveríamos ambos ter um jantar melhor e deixar de lado a toga.»
Carta de Séneca



«Que ninguém tenha actividades públicas nem privadas durante as festas, salvo no que se refere aos jogos, as diversões e ao prazer. Apenas os cozinheiros e pasteleiros podem trabalhar. Que todos tenham igualdade de direitos, os escravos e os livres, os pobres e os ricos. Não se permite a ninguém enfadar-se, estar de mal humor ou fazer ameaças. Não se permitem as auditorias de contas. A ninguém se permite inspeccionar ou registar a roupa durante os dias de festas, nem depor, nem preparar discursos, nem fazer leituras públicas, excepto se são jocosos e graciosos, que produzem zombarias e entretenimentos.»
Saturnalia, descrição do famoso festival em honra de Saturno, que se realizava a 17 de Dezembro (e na época de Cícero durava 7 dias, de 17 a 23 de Dezembro)
, por Luciano de Samósata (125-181 d.C.).

Jogadores de dados, fresco de Pompeia

Pelo solstício de Inverno, as celebrações romanas da Saturnalia (de Saturno, deus do tempo e da agricultura, e de outras coisas mais, porque muitos cargos acumulava), e de Mitra, o Deus-Sol, nascido a 25 de Dezembro, antecederam as celebrações do Natal Cristão. 

A Igreja Romana, oficializada por Constantino, na procura de uma base de apoio ampla, foi absorvendo e dando outro significado aos festejos pagãos.
A "absorção" do festejo pagão do nascimento do Sol e uma ligeira deslocação temporal dos festejos da Saturnalia terão dado lugar à celebração do nascimento de Cristo. O calendário gregoriano, no século XVI, perpetuou o Natal a 25 de Dezembro.

Como alguém disse: "É mais fácil mudar o calendário do que mudar a apetência do povo pelas festas..."
O consumismo voltou a aproximar o Natal de um neo-paganismo.


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