"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 22 de outubro de 2017

Oportunidades... (que nos deixam a pensar)





«Quatro meses depois dos incêndios de Pedrógão, rebentam eucaliptos, fenos e silvas. Operários e camionistas cortam e carregam árvores. A maioria dos imóveis atingidas continuam destruídos. População está ainda mais isolada.

O silêncio é o mesmo, a tristeza nos olhos das pessoas também. A diferença é que, agora, se ouve o barulho das motosserras e camiões com árvores queimadas por todo o lado. Veem-se eucaliptos novos com mais de um metro de altura, fetos e silvas verdejantes. Assim vivem as populações de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, atingidos pelas chamas há quatro meses, num interior desertificado agora ainda mais isolado.

A força com que rebenta a vegetação é a primeira estranheza quando se chega às aldeias e lugares daqueles três concelhos. Mas quem percebe da floresta e ali vive sabe que os eucaliptos se reproduzem automaticamente, agora é podar e deixar o ramo mais forte crescer e transformar-se em árvore, seis anos para atingir 25 metros. No pinhal florescem fetos, nada sai das raízes cujos troncos as chamas atingiram. Precisam de ser colocadas sementes para nascer um pinheiro, que leva 20 anos para ter cinco metros. As silvas são outro elemento verde naquela floresta de paus queimados.

A grande atividade local é a dos madeireiros. "É cortar por todo o lado e os pinheiros são praticamente dados", reclama Maria Graciete Henriques, 76 anos, de Vila Facaia. Pagaram-lhe 1250 euros por dez pinhais, madeira que se não fosse os incêndios valia o triplo, garante. A prima, Hermínia Rosário, 68 anos, tem as mesmas queixas. "Deram-me 500 euros e tive de mostrar quatro propriedades, algumas com carvalhos, só cortam o que tem valor. O argumento é que ardeu e está seco, que o pinheiro queimado ganha doença ( fica azul) se não for cortado." Pinheiros que "valiam 50 euros e agora nem 20". Estes relatos multiplicam-se entre os agricultores obrigados a vender barato. "Isso ou nada", dizem.»
DN, 22 de Outubro de 2017

Um novo paradigma para o interior de Portugal...


2 comentários:

  1. enviaram me, vale o que vale, mas da que pensar :
    http://puntocritico.com/2017/10/19/el-cartel-del-fuego-por-daniel-toledo/

    ResponderEliminar
  2. Dá!...
    É sentir que estamos a ser enganados e não conseguir provar objectivamente que o estamos a ser.
    E vamos continuar a ser enganados...
    Obrigado

    ResponderEliminar