O primeiro-ministro, na passada 5.ª feira, anunciou o primeiro dos roubos. A realidade com que nos vamos confrontando, o seu discurso e outros do género provocam o segundo dos roubos. Porque vivemos essa realidade e sabemos que o discurso é falso.
O seu discurso não merece crédito. O primeiro-ministro nem sequer governa! Ele faz-que-governa, mas é mentira. Não são os governos, apesar do título, que governam. Os governos são governados.
No sistema capitalista, o capital tem de se reproduzir, de crescer. Os caminhos podem ser os mais ínvios. Os meios não interessam, as consequências sofridas pela maioria também não. Doa a quem doer, a acumulação/concentração de capital é o fim.
Só aparentemente vivemos em democracia e em liberdade. As grandes empresas financeiras controlam não só os mercados financeiros como os governos e a comunicação social e, através destes, as várias instituições (ditas democráticas) do Estado, incluindo a justiça.
As crises, provocadas e estimuladas por esses poderes financeiros, são momentos privilegiados para essa acumulação/concentração. O mundo é dos mercados, essa abstracção hipócrita nunca antes tão usada. É dos "espertos" que sabem manipular esses mecanismos, jogar com as regras, impor as regras.
O governo que aparentemente nos governa é um instrumento dos tais mercados: faz o que os mercados querem que faça, com desculpas mais ou menos esfarrapadas e patéticas declarações de intenção.
Isto é uma verdade de La Palice. É o óbvio.
Tão óbvio e tão verdade como os resultados que serão atingidos em 2012 e 2013: continuação da crise, agravada pelo rol dramático das situações sociais provocadas. Até pessoas da área política do governo o afirmam.
Vamos caminhando de Orçamento de crise em Orçamento de crise, como caminhámos de PEC em PEC, até à derrocada final. “Lá vamos, cantando e rindo / levados, levados sim”.
Portanto, não podemos acreditar em quem nos devia dirigir, nem nas medidas, nem na generosidade das mesmas e muito menos no sucesso da sua aplicação, porque não é possível. Se tivéssemos sucesso os mercados perdiam e eles não podem perder.
A continuarmos por este caminho, daqui a uns meses haverá repetição das medidas, nunca mais voltaremos a ter subsídios de férias e de Natal – o mais difícil é decretar a primeira vez! – mais medidas que serão descobertas para satisfação dos mercados que elogiarão o esforço e a atitude de bom comportamento de Portugal, o “bom aluno”.
Nada do que nos é
As regras do sistema têm de ser alteradas, sob pena de continuarmos nesta espiral auto-destrutiva.
Nada do que nos é
Quando me tiram dinheiro para alimentar este sistema em que vivemos, estou a ser roubado.
Quando me transformam num mero número ou num instrumento sem pertença a uma comunidade e deixo de ter identidade, estão-me a roubar a alma.
Citemos Camões, quando este se referia a D. Fernando I (que nos lançou na crise de 1383):
“Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.”
Porque será que me lembrei de Zabriskie Point?
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