Para obviar à memória cada vez mais curta dos viventes, a morte de Nuno Portas é apresentada como a morte do pai de Miguel e de Paulo Portas (esperando eu que o Miguel ainda esteja em muitas memórias). Falta a referência à Catarina...
Numa sessão de homenagem a Nuno Portas, na Cooperativa Árvore (Porto), a 8 de Outubro de 2004, afirmou Nuno Teotónio Pereira, outro grande arquitecto já desaparecido:
«Falar de Nuno Portas é de facto para mim, uma pesada responsabilidade, por temer ficar aquém do que é a sua figura e do que devemos ao seu trabalho e à sua maneira de estar, de pensar e de agir. Mas é também gratificante pelo que intensamente fizemos juntos e pelo que temos aprendido um com o outro.
(...)
Mas é aqui que julgo ser necessário acrescentar mais alguns dados a respeito da sua personalidade: a insatisfação permanente face aos objectivos alcançados, aliada a uma extraordinária capacidade de trabalho, que o levam a aprofundar sempre os estudos já desenvolvidos; a coragem em contrariar, de peito aberto, ideias feitas e conclusões simplistas ou redutoras, o que o expõe com frequência à controvérsia; a necessidade de partilhar e comunicar, abrindo constantemente frentes de debate e discussão, sacudindo a inércia das instituições e abrindo caminho a novos horizontes. Finalmente, a firmeza das suas convicções, que resulta de um confronto constante com realidades escondidas ou contraditórias, mas que se lhe impõem como norma de conduta através da profundidade do seu pensamento e dos fundamentos do seu saber.»
Após o 25 de Abril de 1974, Nuno Portas foi Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, tendo uma acção importante no lançamento de programas de realojamento condigno das populações urbanas mais carenciadas, nomeadamente através do projecto SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local), e no reenquadramento da função política e social da arquitectura no desenho da cidade.
As ideias que então teve oportunidade de concretizar já as houvera apresentado no Colóquio Nacional de Habitação, que decorreu em 1969, no Ministério das Obras Públicas.
É muito interessante todo o seu trajecto enquanto urbanista, intimamente relacionado com uma visão sociológica e filosófica muito coerente.
E quando a habitação é um problema central na sociedade actual, penso na falta que faz a existência de gente deste calibre, com a sua visão e a sua capacidade de intervenção partilhada, com ideias para realmente ajudar a resolver o problema.
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