"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 5 de julho de 2025

General Garcia dos Santos (1935-2025)

«Não há nenhuma operação militar que tenha êxito se as transmissões não funcionarem. E felizmente as transmissões funcionaram bem.»

Quem o disse foi o General Garcia dos Santos, Tenente-Coronel à data do 25 de Abril de 1974, acontecimento em que foi o responsável pelas transmissões, a sua área de eleição nas Forças Armadas e de que era professor na Academia Militar.

Garcia dos Santos faleceu ontem, com 89 anos.

Tendo começado a participar nas reuniões do MFA a convite de Fisher Lopes Pires, elaborou o "anexo de transmissões" - todo o plano de transmissões, por telefone e rádio, do posto de comando da Pontinha com todas as forças militares - depois de Otelo Saraiva de Carvalho lhe ter passado a "Ordem de Operações" no dia 15 de Abril.

O seu "anexo de transmissões" foi distribuído, a 23 de Abril, aos oficiais que participaram no golpe.

«Uma das mais importantes acções então adoptadas foi a colocação [em tempo recorde] de um cabo telefónico entre o Regimento de Engenharia na Pontinha, local escolhido para posto de comando e o Serviço de Telecomunicações Militares, o que permitiu aos revoltosos escutar os contactos estabelecidos entre as forças que apoiavam o regime (PIDE/DGS; Legião Portuguesa, GNR; PSP) e as comunicações entre membros do governo e as chefias militares nos dias 24 e 25 de Abril, o que constituiu uma importante mais-valia para o sucesso do golpe.»

Foi um dos "Nove", estando envolvido no plano operacional do 25 de Novembro - novamente as transmissões -, coordenado por Ramalho Eanes, de quem foi chefe da Casa Militar.

Desempenhou ainda vários cargos políticos e militares até ao final do século XX. Demitiu-se do Conselho das Ordens Nacionais, órgão que funciona na dependência do Presidente da República, em ruptura com Cavaco Silva quando este era Chefe do Estado, acusando-o de ser uma "nulidade completa". 


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