Foi pelo seu Diário que entrei quando comecei a dar aulas, por acaso (ou não), em Setúbal. E durante a semana atravessava a Arrábida - a Serra-Mãe - para lá e para cá.
«"O que eu quero principalmente é que vivam felizes."
Não lhes disse talvez estas palavras, mas foi isto o que eu quis dizer. No sumário, pus assim: "Conversa amena com os rapazes." E pedi, mais que tudo, uma coisa que eu costumo pedir aos meus alunos: lealdade. Lealdade para comigo e lealdade de cada um para cada outro. Lealdade que não se limita a não enganar o professor ou o companheiro: lealdade activa, que nos leva, por exemplo, a contar abertamente os nossos pontos fracos ou a rir só quando temos vontade (e então rir mesmo, porque não é lealdade deixar então de rir) ou a não ajudar falsamente o companheiro.
"Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já me esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar não: falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos."
Não acabei sem lhes fazer notar que "a aula é nossa". Que a todos cabe o direito de falar, desde que fale um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela.»
Diário
Esta passagem do início do Diário serviu-me para o início das aulas e da relação com algumas das minhas primeiras turmas - como o 1.º 20 (agora chamaríamos 5.º 20), na Escola Paulo da Gama.
E assim foi com eles...
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