«A história da França é uma história de guerras incessantes. Guerras pelo território e pelo poder, mas também guerras e rebeliões contra o poder.
(...) Criou-se uma tradição de revolta, que atravessou os regimes políticos, monárquicos e republicanos, e que se sedimentou na subjectividade popular. (...) Desde as jacqueries medievais e um sem-número de revoltas populares dos séculos seguintes, até à Revolução Francesa, e às grandes manifestações de 2023 contra a mudança da idade da reforma, o espírito de revolta do povo francês explode regularmente contra os poderosos, detentores do poder político.
(...) A própria formação da sociedade e do Estado tornam mais complexa a natureza e o desenvolvimento desse traço das subjectividades. (...)
A sociedade francesa não é contra o Estado porque é também, sem dúvida, pró-Estado - mesmo se os franceses desconfiem, em geral, do seu poder soberano. Mas, se é certo que, reactivamente, o espírito de revolta se ergue contra o Estado que, paradoxalmente, o vai alimentando, positivamente exprime o desejo profundo de autonomia e liberdade, sedimentado e reforçado por séculos de lutas concretas e de ideias libertárias.»
José Gil, A sociedade contra o Estado? (Revista Visão História, Junho/Julho 2023)
Franceses que, mais do que nunca, vão constituindo uma mistura étnica/social que parece acentuar os padrões de revolta. Mesmo que às vezes esta se afigure gratuita.
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