"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 9 de julho de 2022

Vivo e deixo viver

«Pouco sabemos de nós. Nada sabemos dos outros. Por isso, cada vez evito mais ser juiz em causa própria ou alheia. Vivo e deixo viver. Indigno-me ainda com certas acções que pratico ou vejo praticar, mas é uma indignação ao mesmo tempo lúcida e céptica. A experiência acaba sempre por nos ensinar que o ser humano é insondável e que não há actos puros, nem normas morais que os fundamentem. Que, portanto, apenas nos resta aceitarmo-nos como somos e aceitar cada semelhante como ele se aceita a si mesmo. Dando de alma lavada o melhor que pudermos e recebendo sem reservas o que nos puderem dar. Só na reciprocidade do amor a liberdade encontra a sua expressão verdadeira.»

Miguel Torga, Diário XIV (9 de Julho de 1985)



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