«O Nikias pediu-me um poema - que seria inspirado numa gravura que me ofereceu...
Mas não me sai nada. Ou, com mais sinceridade: quando saltei da cama, tive a intuição do primeiro sinal.
Estas palavras:
A cidade de cristal.
Então, a sorrir, lembrei-me de que essa intuição estava há muito escrita num papelinho, ainda não aproveitado na Cidade Inexacta e talvez adaptável ao caso.
Cá está. Copio:
Mas não me sai nada. Ou, com mais sinceridade: quando saltei da cama, tive a intuição do primeiro sinal.
Estas palavras:
A cidade de cristal.
Então, a sorrir, lembrei-me de que essa intuição estava há muito escrita num papelinho, ainda não aproveitado na Cidade Inexacta e talvez adaptável ao caso.
Cá está. Copio:
O cristal da cidade
tem muros de pedra
que cega o silêncio...
Traços violentos sobre tudo isto e, a seguir, estas palavras já com sabor de poesia
(porque aparecem as palavras morte e flores?):
(porque aparecem as palavras morte e flores?):
A morte
é o outro lado das flores.
Mais abaixo outra versão:
A cidade de cristal
oculta na sombra dos corredores
- olhos de pedra nas crianças...
E o final inevitável:
A morte
é o outro lado das flores...
é o outro lado das flores...
Mais riscos e, por fim, a poesia:
Pedras secretas
para a cidade de cristal
oculta na sombra dos corredores
do musgo inquieto...
para a cidade de cristal
oculta na sombra dos corredores
do musgo inquieto...
A morte
é o outro lado das flores...
é o outro lado das flores...
Existem mais hipóteses. Entre elas uma em que substituí a palavra morte por vida (E até por sonho...)
A vida
é o outro lado das flores...
Oh! a aventura dos poetas que cantam por aproximações e experiências sucessivas!»
José Gomes Ferreira, Dias Comuns VI
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