Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
segunda-feira, 31 de agosto de 2020
A grande questão civilizacional
Sérgio Godinho - 75 anos
Há uma continuidade da qualidade e da coerência, sempre em busca da descoberta.
É difícil encontrar outros casos assim.
Agora, encontramo-nos n'O novo normal.
domingo, 30 de agosto de 2020
Poema para o Nikias
Mas não me sai nada. Ou, com mais sinceridade: quando saltei da cama, tive a intuição do primeiro sinal.
Estas palavras:
A cidade de cristal.
Então, a sorrir, lembrei-me de que essa intuição estava há muito escrita num papelinho, ainda não aproveitado na Cidade Inexacta e talvez adaptável ao caso.
Cá está. Copio:
O cristal da cidade
tem muros de pedra
que cega o silêncio...
(porque aparecem as palavras morte e flores?):
A morte
é o outro lado das flores.
A cidade de cristal
oculta na sombra dos corredores
- olhos de pedra nas crianças...
é o outro lado das flores...
para a cidade de cristal
oculta na sombra dos corredores
do musgo inquieto...
é o outro lado das flores...
quinta-feira, 27 de agosto de 2020
Nikias Skapinakis (1931 - 2020)
Cortina mirabolante (pormenor) |
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
200 anos da Revolução Liberal - O dia por quem o viveu
«Na praça tudo era movimento e alegria. O coronel Sepúlveda, cercado de povo, lançava a barretina ao ar dando vivas à Revolução; os soldados e povo o imitavam e correspondiam. Tal era o espectáculo que se ofereceu aos meus olhos quando me reuni aos meus colegas de governo em uma das salas baixas da casa da câmara. E começámos os nossos trabalhos governativos. Foram estes: publicar o manifesto à Nação, expandir circulares às autoridades militares e civis das províncias para prestarem obediência ao novo governo; escrever à regência de Lisboa uma carta explícita sobre os fins da Revolução e decretar a criação de um tesouro público no Porto, destinado a receber as rendas públicas e satisfazer a todos as despesas do serviço.»
200 anos da Revolução Liberal
O início da mais importante revolução portuguesa - a entrada de Portugal na época contemporânea.
A última hora da tirania soou; o fanatismo, que ocupava a face da terra, desapareceu; o sol da liberdade brilhou no nosso horizonte, e as derradeiras trevas do despotismo foram, dissipadas por seus raios, sepultar-se no inferno.»
Almeida Garrett, O dia vinte e quatro de Agosto
As coisas não foram tão assim tão simples, mas não quero tirar o prazer ao Garrett...
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
A enganar os muralistas?
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
terça-feira, 18 de agosto de 2020
Carta aberta dos escritores de língua portuguesa
CARTA ABERTA DOS ESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA CONTRA O RACISMO, A XENOFOBIA E O POPULISMO E EM DEFESA DE UMA CULTURA E DE UMA SOCIEDADE LIVRES, PLURAIS E INCLUSIVAS
Nós, escritores portugueses e de língua portuguesa, estamos, por ofício, cientes do poder da palavra. E do poder da sua omissão também. Conhecemos os custos de dar palco ao que, em circunstâncias normais, não mereceria uma nota de rodapé. Pondo em cena aquilo que não é de cena – aquilo que é, e não só etimologicamente, obsceno.
Preferimos correr esse risco face às circunstâncias vividas em Portugal, que consideramos graves e inquietantes, nos domínios do racismo, do populismo, da xenofobia, da homofobia, das emoções induzidas, da confusão destas com ideias e, em geral, de tudo aquilo que de mais repugnante pode emergir de uma sociedade em crise e em estado de medo.
Temos de reagir antes que seja tarde. E usar as palavras contra o insidioso ataque à democracia, ao multiculturalismo, à justiça social, à tolerância, à inclusão, à igualdade entre géneros, à liberdade de expressão e ao debate aberto.
Exigimos compromissos políticos que detenham a escalada do populismo, da violência, da xenofobia – de todos esses reflexos primitivos, retrógrados, obscurantistas, destrutivos e abjectos. Tais são as nossas grandes riquezas: a diversidade e a tolerância. Como o expressa a língua portuguesa, feita de aglutinação, inclusão e aceitação da diferença.
Quem gosta de Portugal jamais diz «Vão!», antes diz «Venham!».
É preciso tomar consciência de que as ameaças que ora rastejam propiciam uma quebra irreparável dos valores humanistas, da solidariedade e do mútuo apoio – valores laborais e de igualdade de direitos constitucionais à saúde, à educação, ao emprego, à justiça, à cultura.
Cultura e literatura não florescem nestes tempos sufocantes, em que a terrível crise humanitária dos refugiados, nos deploráveis campos às portas da Europa, e a ameaça ecológica e ambiental, à escala planetária, são banalizadas nos noticiários. E ao que vem de trás ainda se junta o que se seguirá à pandemia da covid-19: o alastramento do desemprego e da pobreza, pasto fértil para demagogias, teses anti-imigração, racismos e extremas-direitas.
Não podemos olhar para o lado nem continuar calados, sob pena de emudecermos. Por tudo isto, nós, escritores portugueses e de língua portuguesa, assumimos o compromisso de jamais participarmos em eventos, conferências e/ou festivais conotados – seja de que maneira for – com ideias que colidam com os princípios da tolerância e da dignidade humana.
A todos os cidadãos portugueses, à sociedade civil, aos professores das escolas e das universidades, apelamos a que se distanciem de projectos e movimentos antidemocráticos e ajudem na consciencialização das novas gerações para a urgência dos valores humanistas e para os riscos das extremas-direitas; aos órgãos de justiça, que investiguem, processem e condenem os interesses económico-financeiros que se servem dos novos populismos para, a coberto da raiva e da intolerância, acentuarem as desigualdades de que sempre se sustentaram; às autoridades policiais e aos seus agentes, que se abstenham de condescender com movimentos e acções promotores da exclusão, da discriminação e da violência; à comunicação social, que assuma com veemência o seu papel de contraditório e de defesa da verdade; aos partidos políticos, que sejam capazes de recuperar os princípios esquecidos no decurso do jogo partidário de vocação eleitoral; ao Presidente da República, à Assembleia da República e ao Governo, que exerçam um escrutínio rigoroso da constitucionalidade e assegurem que o fascismo não passará.
Na certeza de que, como sempre nos mostrou a História, quem adormece em democracia acorda em ditadura,
os escritores de língua portuguesa:
Adélia Carvalho
Adriana Lisboa
Afonso Borges
Afonso Cruz
Alexandra Lucas Coelho
Alexandre Andrade
Alice Vieira
Almeida Faria
Álvaro Laborinho Lúcio
Álvaro Magalhães
Amosse Mucavele
Ana Bárbara Pedrosa
Ana Cristina Silva
Ana Luísa Amaral
Ana Margarida de Carvalho
Ana Marques
Ana Pessoa
Ana Saldanha
Ana Saragoça
André de Leones
Andréa del Fuego
Andrea Zamorano
Andreia Azevedo Moreira
António Borges Coelho
António Cabrita
António Ladeira
António Mota
António Tavares
Bernardo Carvalho
Carla Maia de Almeida
Carlos Campaniço
Carlos Nogueira
Carlos Tê
Carlos Vale Ferraz
Carola Saavedra
Catarina Santiago Costa
Catarina Sobral
Chico Buarque
Chissana M. Magalhães
Cláudia Lucas Chéu
Conceição Lima
Cristina Drios
David Machado
Diniz Borges
Domingos Lobo
Eileen A. Barbosa
Elsa Caetano
Eric Nepomuceno
Evandro Affonso Ferreira
Fabrício Corsaletti
Filinto Elísio
Filipa Martins
Francisco José Viegas
Francisco Resende
Fundação José Saramago
Gabriela Silva
Gonçalo Cadilhe
Gregório Duvivier
Helder Macedo
Helena Vasconcelos
Hélia Correia
Henrique Manuel Bento Fialho
Hugo Gonçalves
Inês Fonseca Santos
Inês Pedrosa
Isabel Minhós Martins
Isabel Olivença
Isabel Rio Novo
Isabel Zambujal
Isabela Figueiredo
Itamar Vieira Júnior
Jacinto Lucas Pires
Jaime Rocha
Jamil Chade
Joana Bértholo
Joana M. Lopes
João Cezar de Castro Rocha
João de Melo
João Paulo Cotrim
João Paulo Cuenca
João Pedro Porto
João Pinto Coelho
João Ricardo Pedro
João Tordo
Joel Neto
Jorge Serafim
José Anjos
José Carlos Vasconcelos
José Eduardo Agualusa
José Fanha
José G. Neres
José Jorge Letria
(escritor e Presidente da SPA)
José Luís Peixoto
José Manuel Mendes
José Mário Silva José Pinto
Juca Kfouri
Julián Fuks
Júlio Machado Vaz
Leonor Sampaio Silva
Lídia Jorge
Lúcia Bettencourt
Lucílio Manjate
Lucrecia Zappi
Luís Almeida Martins
Luís Carlos Patraquim
Luís Carmelo
Luís Corredoura
Luís Fernando Veríssimo
Luís Quintais
Luís Rainha
Luísa Costa Gomes
Luísa Ducla Soares
Luíz Filipe Botelho
Luiz Ruffato
Madalena B. Neves
Madalena San-Bento
Manuel Alberto Valente
Manuel Jorge Marmelo
Manuela Costa Ribeiro
Márcia Balsas
Margarida Fonseca Santos
Margarida Vale de Gatto
Maria do Rosário Pedreira
Maria Manuel Viana
Maria Valéria Rezende
Mário Cláudio
Mário de Carvalho
Mário Loff
Marta Bernardes
Mary del Priore
Mia Couto
Miguel Real
Miguel-Manso
Milton Hatoum
Mónia Camacho
Nara Vidal
Nazir Ahmed Can
Nélida Piñon
Nilma Lacerda
Noemi Jaffe
Nuno Camarneiro
Olga Santos
Olinda Beja
Ondjaki
Onésimo Teotónio Almeida
Patrícia Melo
Patrícia Portela
Patrícia Reis
Paula de Sousa Lima
Paulo Kellerman
Paulo M. Morais
Paulo Moura
Paulo Scott
Pedro Loureiro
Pedro Meira Monteiro
Pedro Pereira Lopes
Pedro Vieira
Pepetela
Possidónio Cachapa
Raquel Varela
Renato Filipe Cardoso
Ricardo Fonseca Mota
Ricardo Ramos Filho
Richard Zimler
Rita Ferro
Rita Taborda Duarte
Rodrigo Guedes de Carvalho
Rosa Freire D'Aguiar
Rui Cardoso Martins
Rui de Almeida Paiva
Rui Lage
Rui Manuel Amaral
Rui Zink
Ruth Manus
Sandro William Junqueira
Sérgio Godinho
Sérgio Nazar David
Sidney Rocha
Susana Moreira Marques
Tânia Ganho
Tatiana Salem Levy
Teolinda Gersão
Teresa Rita Lopes
Tiago Rodrigues
Tiago Salazar
Tom Farias
Valter Hugo Mãe
Vanda R. Rodrigues
Vera Duarte
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
Torga Magnificat
Quanto mais me magoa, mais a canto.
Mais exalto este espanto
De viver.
Este absurdo humano,
Quotidiano,
Dum poeta cansado
De sofrer,
E a fazer versos como um namorado,
Sem namorada que lhos queira ler.
Cego de luz, e sempre a olhar o sol
Num aturdido
Deslumbramento.
Cada breve momento
Recebido
Como um dom concedido
Que se não merece.
Aí, a vida!
Como dói ser vivida,
E como a própria dor a quer e agradece.
domingo, 9 de agosto de 2020
Mário Cesariny
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Perde-se muito...
«A Fernanda era inteligente, honesta, resistente. A sua rebeldia nunca endureceu ou beliscou em nada a sua sensibilidade e a sua inspiração.
Perde-se muito quando se perde uma companheira como a
Fernanda Lapa.»
Maria do Céu Guerra
A presença de Mário Viegas faz lembrar outra baixa, esta semana, do teatro português: Juvenal Garcez, seu cúmplice e sucessor na Companhia Teatral do Chiado.