"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Adriano, o Imperador

«Meu pai, Élio Afer Adriano, era um homem sobrecarregado de virtudes. A sua vida passou-se em administrações sem glória; a sua voz nunca foi tomada em conta no Senado. Ao contrário do que costuma acontecer, o seu governo de África não o enriqueceu. No nosso município espanhol de Itálica esgotava-se a resolver conflitos locais. Não tinha ambições, nem alegria, e, como muitos homens que assim se apagam cada vez mais de ano para ano, acabou por dedicar uma atenção maníaca às pequenas coisas a que se restringia. Eu próprio conheci essas respeitáveis tentações da minúcia e do escrúpulo. A experiência tinha desenvolvido no meu pai, relativamente aos seres, um extraordinário cepticismo em que me incluía, era eu ainda criança. Os meus êxitos, se tivesse assistido a eles, não o teriam deslumbrado absolutamente nada; o orgulho familiar era tão forte que se não reconheceria que eu pudesse acrescentar-lhe qualquer coisa. Tinha doze anos quando este homem extenuado nos deixou. A minha mãe instalou-se para o resto da vida numa austera viuvez; não a tornei a ver depois do dia em que, chamado pelo meu tutor, parti para Roma.»
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano

Dizem que Adriano nasceu a 24 de Janeiro de 76.
Para mim é espantoso como convertem no nosso o calendário romano!



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