"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Um Ano Novo cheio de erva fresca


«Postam-se aquelas vacas inglesas, meu amigo, numa consciência da abundância e numa certeza dos objectivos que nenhum funcionário público português se atreverá a igualar.
(...)
Portugal inteiro deveria pôr os olhos nisto, numa forma assim de permanecer na vida limpamente, tendo o estômago cheio ou vivendo a perspectiva de o encher, satisfeito com as cousas, sem se presumir de herói, nem de poeta, nem de santo, e dotado de muita erva fresca antes de mais para desviar o sentido de toda a frustração.»
Mário Cláudio, As Batalhas do Caia


Feliz Ano Novo
Muuuuuuuuu!...


A ilha do Corvo no centro do Mundo

Participação especial do Professor Marcelo.


O espírito do Corvo


Balanço da década, dizem eles!...

Em muitos meios de comunicação social insistem nos "balanços da década".
Acontece que a década ainda está incompleta - termina no final de 2020.

E quando vamos entrar num ano que inclui a aprovação de dois OEs, a mudança de líderes partidários e o previsível desenvolvimento de casos da justiça, a nível interno, o Brexit, as eleições presidenciais norte-americanas, o Médio-Oriente a mexer... parece-me que é muito cedo para encerrar a década com um ano de antecedência.


Aqui está uma década bem contada, a primeira do século XXI: 2001-2010.
A segunda década do século é de 2011 a 2020 (inclusive - até 31 de Dezembro).


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Vaclav Havel - Pela liberdade, um homem da cultura na presidência (há 30 anos)

A 30 de Dezembro de 1989 teve lugar a tomada de posse de Vaclav Havel como presidente da república da Checoslováquia.

Depois da Revolução de Veludo (Novembro-Dezembro de 1989) ter conduzido à deposição do governo de continuidade da linha pró-soviética, a Assembleia Federal elegeu, por unanimidade, Vaclav Havel, escritor e dramaturgo.
Uma revolução veloz!

Cidadãos checoslovacos concentrados junto ao Castelo de Praga,
durante a tomada de posse de Vaclav Havel, há 30 anos

Mário Soares chegou a Praga como o primeiro presidente ocidental, um dia antes de Havel ser eleito, e foi o único Chefe de Estado a assistir à tomada de posse.

Vaclav Havel e Mário Soares, em Praga, Dezembro de 1989

As primeiras eleições livres, em 1990, confirmaram Vaclav Havel no cargo.
A 13 de Dezembro desse ano, receberia o Grande-Colar da Ordem da Liberdade de Portugal.

Em 1997, quando estive pela primeira vez em Praga, as recordações de 1989 estavam ainda muito vivas, sendo comparáveis às da Revolução dos Cravos de 1974.
Monumento que assinala, em Praga, o local onde estudantes foram
encurralados e sofreram a violência policial a 17 de Novembro de 1989.
Em Bratislava algo de semelhante acontecera no dia anterior.
Foi o início da Revolução de Veludo 


Pensemos adiante! Vaclav Havel 💓
(se eu percebi bem a letra e se o tradutor do Google está certo...)


terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Natal

Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos.

S. Martinho da Anta, 24 de Dezembro de 1966
Miguel Torga, Diário X


A quem por aqui passar
Feliz Natal


Caretos de Ousilhão e a festa de St.º Estevão

O mesmo solstício, outros Natais, outros pagãos...



Saturnalia

«É agora o mês de Dezembro, em que a maior parte da cidade está em festa. Rédeas soltas são dadas para a dispersão pública, em qualquer lugar que se vá são ouvidos os sons de grandes preparações, como se houvesse realmente uma grande diferença entre os dias devotados a Saturno e os dias comerciais. Se você estivesse aqui, eu gostaria de debater com você se deveríamos ter uma noite como as outras ou se, para evitar a diferença, deveríamos ambos ter um jantar melhor e deixar de lado a toga.»
Carta de Séneca



«Que ninguém tenha actividades públicas nem privadas durante as festas, salvo no que se refere aos jogos, as diversões e ao prazer. Apenas os cozinheiros e pasteleiros podem trabalhar. Que todos tenham igualdade de direitos, os escravos e os livres, os pobres e os ricos. Não se permite a ninguém enfadar-se, estar de mal humor ou fazer ameaças. Não se permitem as auditorias de contas. A ninguém se permite inspeccionar ou registar a roupa durante os dias de festas, nem depor, nem preparar discursos, nem fazer leituras públicas, excepto se são jocosos e graciosos, que produzem zombarias e entretenimentos.»
Saturnalia, descrição do famoso festival em honra de Saturno, que se realizava a 17 de Dezembro (e na época de Cícero durava 7 dias, de 17 a 23 de Dezembro)
, por Luciano de Samósata (125-181 d.C.).

Jogadores de dados, fresco de Pompeia

Pelo solstício de Inverno, as celebrações romanas da Saturnalia (de Saturno, deus do tempo e da agricultura, e de outras coisas mais, porque muitos cargos acumulava), e de Mitra, o Deus-Sol, nascido a 25 de Dezembro, antecederam as celebrações do Natal Cristão. 

A Igreja Romana, oficializada por Constantino, na procura de uma base de apoio ampla, foi absorvendo e dando outro significado aos festejos pagãos.
A "absorção" do festejo pagão do nascimento do Sol e uma ligeira deslocação temporal dos festejos da Saturnalia terão dado lugar à celebração do nascimento de Cristo. O calendário gregoriano, no século XVI, perpetuou o Natal a 25 de Dezembro.

Como alguém disse: "É mais fácil mudar o calendário do que mudar a apetência do povo pelas festas..."
O consumismo voltou a aproximar o Natal de um neo-paganismo.


Natal da Galileu

22 de Dezembro...



A caminho do meio século.
Parabéns!...


domingo, 22 de dezembro de 2019

Ou lá o que isso seja!...


Repudiados?

Não me esqueço de uma frase escrita por um aluno meu, no primeiro ano em que dei aulas: "Há pássaros que não gostam de viver em gaiolas e vice-versa."


O último pôr-de-Sol deste Outono

Ontem (que o Inverno entrou hoje, de madrugada).



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Patxi Andion



E assim, de repente...

A recordação de ouvir as suas músicas nos idos anos 70, de ter assistido a um dos seus concertos no teatro Monumental (que ano, ao certo?), de continuar a ouvir os seus discos...

Patxi Andion (1947-2019)

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Sou mais um português à procura de coisa melhor

«Fui estudante, serralheiro, marceneiro, estofador, impressor de litografia, desenhador, publicitário, professor, pintor, fotógrafo, tocador de gaita, emigrante, exilado, director de museu, assessor de ministros, pesquisador, jornalista, poeta, júri de concursos, conselheiro de pinacotecas, comissário de eventos internacionais, designer de feiras industriais, cenógrafo, pai de filhos, bolseiro, e tenho duas pátrias - uma que me fez e outra que ajudo a fazer. Como se vê, sou mais um português à procura de coisa melhor.»

Fernando Lemos, vindo do Brasil (onde vivia desde 1953), para o
lançamento do livro sobre a sua obra como fotógrafo, em Junho deste ano.
Veio do Brasil para "pôr o amor em dia".

Desenvolveu a sua actividade entre a fotografia, a pintura, o desenho, a tapeçaria, o design (gráfico e industrial) e também a escrita.

«Eu sou a soma de actividades que têm vários nomes. Criei essas partes de trabalho como testemunhos, exactamente como Fernando Pessoa fez com os heterónimos. São os meus heterónimos.»

O conhecido Auto-retrato. Eu poeta (1949)


Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen,
os dois centenários deste ano, fotografados por Fernando Lemos (1949)

Painel de Fernando Lemos na estação de metro do Brigadeiro (S. Paulo) 


Fernando Lemos (1926 - 2019)


domingo, 15 de dezembro de 2019

Para um bom começo de semana...




Esmagamento dos eleitores


A diferença entre o número de deputados eleitos pelo Partido Conservador e os eleitos dos restantes partidos é enorme.
A vitória parece esmagadora.

Vendo os resultados eleitorais...


A votação dos Conservadores não atingiu os 50% (é de 43,6%), a percentagem de deputados do partido no Parlamento é que é bem superior (365 em 650 - 56%).

Os Liberais Democratas tiveram uma votação de 11,6% e o número de deputados (11) corresponde a 1,7% do número de deputados do Parlamento. A votação nos Liberais Democratas é mais do que um 1/4 da votação nos Conservadores, mas corresponde a 1/33 dos deputados destes.   
Uma análise em sentido contrário pode ser vista no caso do Partido Nacionalista Escocês (3,9% dos votos - 7,4% dos deputados), resultante da sua concentração em função dos círculos eleitorais.

Regra geral, não existindo um círculo eleitoral único, os partidos mais votados são favorecidos pelos métodos de eleição. Em Portugal, o PS teve 36,7% dos votos e tem 46% do número de deputados.

Mas em sistemas eleitorais como o britânico, o número de deputados está bem mais distorcido. Mais do que um esmagamento da oposição, o que me parece que existe, no caso do número de deputados vários partidos, é um esmagamento da vontade de um bom número de eleitores britânicos.

E em sistemas como o francês, as distorções parecem-me ainda maiores.
Mas se os eleitores desses países convivem bem com os seus sistemas eleitorais...

Quanto aos jornalistas, regra geral, ficam-se pelos sound bites.


Viveu a sua vida...




P.S. - Do tempo em que eu ia ao cinema...


Movida de Natal em Lisboa

Lisboa, Rua do Ouro (?), 1947
Fotografia de Judah Benoliel

Lisboa, Rua Garrett, 195x
Fotografia do Estúdio de Horácio Novais

Lisboa, Rua do Ouro (?), 1959
Fotografia de Armando Maia Serôdio


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Caretos de Podence - Património chocalheiro ao quadrado



Na lista do Património Imaterial da Humanidade português, o DN esqueceu-se da arte chocalheira.

Imagino que a distinção tenha sido comemorada com uns saltos e uma valente chocalhada!

Satisfeito com o reconhecimento, pergunto-me se a candidatura não podia ter sido mais abrangente, incluindo os caretos de Ousilhão, de Varge, de Lazarim...

Careto de Lazarim
Fotografia de Paulo Chaves


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Reunião do Conselho de Ministros ocupou-se exclusivamente do ensino

Parece-me difícil, nos dias de hoje!

DN de 10 de Dezembro de 1974.

A confidencialidade dos assuntos tratados não permitiu saber o que realmente foi discutido.
Terá sido sobre o ensino superior...


Ai se o Alberto Jardim soubesse!...




 Conjunto de bananas fotografando uma banana


Artistas em livro(s)

Helena Almeida e José de Guimarães

Foi hoje apresentado um livro póstumo de Helena Almeida, que traça um percurso retrospectivo da obra da artista plástica, que foi pioneira, nos anos de 1960, no uso da imagem fotográfica no universo da arte contemporânea portuguesa.
É o terceiro volume da série de livros referenciais de fotografia Ph., editados pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. 



Volta ao Mundo - obra gráfica de José de Guimarães será apresentado no próximo dia 12, coeditado pela Imprensa Nacional e pela Biblioteca Nacional, instituição à qual José de Guimarães doou a totalidade da sua obra gráfica, para estudo e divulgação.
Trata-se de um catálogo, associado à exposição que pode ser vista na BN até ao fim do mês de Março.



domingo, 8 de dezembro de 2019

Dia da Mãe

E da padroeira da Universidade de Coimbra.

Imaculada Conceição
(Capela de S. Miguel da Universidade de Coimbra)

Nossa Senhora da Conceição é padroeira da Universidade de Coimbra.
A decisão é das Cortes de Lisboa de 1646, quando D. João IV,  na sequência da elevação de Nossa Senhora a padroeira do Reino de Portugal, ordenou que os estudantes, antes de tomarem algum grau, na Universidade de Coimbra, jurassem defender a Imaculada Conceição.


Indecisão...

Ir a uma feira medieval ou a uma Vila Natal?



sábado, 7 de dezembro de 2019

Nuvens...

«Estar no presente não é olhar o que está em baixo; é olhar para cima. Houve uma altura em que dei por mim a olhar para as nuvens. É curioso que vejo muitas pessoas da minha idade a publicar muitas fotografias de nuvens no Facebook, não sei se sentem o mesmo. Aliás, o meu próximo livro vai chamar-se Teoria das Nuvens, e é uma história que se passa na contemporaneidade, não tem uma viagem ao passado.»
Mário Cláudio




domingo, 1 de dezembro de 2019

Esperar pelo seu tempo...

«O mundo é um campo de batalha onde as flores esperam pelo seu tempo de brilhar e pelo seu tempo de serem arrancadas. As mãos dos homens igualmente esperam, enredam-se, desesperam e brilham.»

Julieta Monginho, Um Muro no Meio do Caminho