O que procuramos será real? Ou será o impossível
fruto do desejo sempre latente e indefinível?
Ou não será imediata presença
e só a nossa distracção a perde ou turva o seu cristal?
Talvez tenhamos perdido o dom da simplicidade
e da tranquila conivência com as coisas
Se pudéssemos coincidir o movimento com a suspensão
o vazio seria a plenitude
e a palavra não trairia o silêncio
nem a evidência solar de cada coisa
Só esta presença nos daria o túmido equilíbrio
de pertencer ao mundo como uma haste de trigo
e de possuir um corpo com a turgência nova
de uma primavera vagarosamente ingénua
vagamente indolentemente luminosa
António Ramos Rosa, As Palavras
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