Fernão Mendes Pinto, Peregrinação
"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
domingo, 31 de agosto de 2014
Por este rio acima
Peregrinação - após 400 anos da 1.ª edição
«O autor de Peregrinação e a sua obra confundem-se à primeira vista: Fernão Mendes Pinto é para nós o herói da Peregrinação. Mas não deve esquecer-se que o Fernão Mendes Pinto da Peregrinação é uma criação literária do Autor do livro.
(...)
Hoje em dia Fernão Mendes Pinto pode considerar-se um desconhecido. Não só porque a Peregrinação deixou de ser lida fora de Portugal, mas porque os leitores portugueses nem sempre se dão conta do rico conteúdo que o livro encerra.»
António José Saraiva
Vou repegar o livro que nunca li até ao fim.
E depois na ficção sobre a ficção ou o seu autor, vamos lá saber...
É sempre por este rio acima (a caminho do Seixal...).
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Fui ao Banco de Portugal
Metido num saco com serpentes venenosas e escorpiões, por insistir na sua fidelidade ao Cristianismo, S. Julião foi deitado ao mar.
Penso que seja este o orago da igreja que, junto aos Paços do Concelho (C. M. de Lisboa), em terrenos que teriam sido da faustosa Patriarcal destruída pelo terramoto, foi transformada em Museu e espaço de exposições do Banco de Portugal.
A história é mais longa, mas houve mesmo uns "vendilhões do Templo", no novíssimo Estado de Salazar: a venda da igreja ao capital aconteceu em Junho de 1933.
Mas fui ao Banco à procura de um troço da muralha de D. Dinis, encontrado nas escavações arqueológicas realizadas quando das obras da sede do Banco de Portugal (2010).
O que se observa sabe a pouco, porque ficamos sempre com aquela vontade de ter ou de ver tudo. Mas há mais um pequeno conjunto de objectos recuperados pelas escavações, animações audiovisuais e informações de contextualização sobre o reinado de D. Dinis que enriquecem o espaço.
Um espanto são alguns dos aspectos arquitectónicos da ex-igreja, criando espaços aproveitados para exposição de obras de arte.
Vale a pena ir ao Banco de Portugal por estas questões extra-financeiras.
Penso que seja este o orago da igreja que, junto aos Paços do Concelho (C. M. de Lisboa), em terrenos que teriam sido da faustosa Patriarcal destruída pelo terramoto, foi transformada em Museu e espaço de exposições do Banco de Portugal.
A história é mais longa, mas houve mesmo uns "vendilhões do Templo", no novíssimo Estado de Salazar: a venda da igreja ao capital aconteceu em Junho de 1933.
Mas fui ao Banco à procura de um troço da muralha de D. Dinis, encontrado nas escavações arqueológicas realizadas quando das obras da sede do Banco de Portugal (2010).
O que se observa sabe a pouco, porque ficamos sempre com aquela vontade de ter ou de ver tudo. Mas há mais um pequeno conjunto de objectos recuperados pelas escavações, animações audiovisuais e informações de contextualização sobre o reinado de D. Dinis que enriquecem o espaço.
Um espanto são alguns dos aspectos arquitectónicos da ex-igreja, criando espaços aproveitados para exposição de obras de arte.
Vale a pena ir ao Banco de Portugal por estas questões extra-financeiras.
Vestígios da muralha de D. Dinis
Não fui espreitar a casa em que nasceu Raul Brandão
«E nas minhas visitas à Foz raro é que não vá à Cantareira, espreitar a casa em que nasceu Raul Brandão. Esse foi meu mestre e meu amigo o deslumbramento inesquecível da minha juventude de incipiente sonhador, que ele acalentou a um fogo ardente e magnífico.
É uma ruazita estreita e sinuosa, à qual deram o nome do escritor. A pequena casa tem dois pisos, as janelas e as portas emolduradas de grossa cantaria de granito. Nunca sequer ali tentei entrar, porque não sei quem hoje lá mora, quem habita debaixo daquelas telhas, e temo que me confrangeria o que ia ver.»
É uma ruazita estreita e sinuosa, à qual deram o nome do escritor. A pequena casa tem dois pisos, as janelas e as portas emolduradas de grossa cantaria de granito. Nunca sequer ali tentei entrar, porque não sei quem hoje lá mora, quem habita debaixo daquelas telhas, e temo que me confrangeria o que ia ver.»
Manuel Mendes, Na Cantareira (Abril de 1963)
Faço quase sempre o mesmo: espreitar a casa do mestre.
Este ano não o fiz.
Jardim do Passeio Alegre, em frente ao Douro |
domingo, 24 de agosto de 2014
Dia de S. Bartolomeu
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Debussy - uma nova beleza
Em 1915, numa carta para Stravinsky, Debussy afirmava que "uma nova beleza deverá permear o ar quando os canhões se calarem".
Claude Debussy morreu cerca de 8 meses antes da I Guerra Mundial terminar, dois dias depois da cidade de Paris ter sido violentamente atacada pelos alemães. A sua morte passou despercebida. Não assistiu à nova beleza que ansiava, mas deixou-nos a que criou.
Debussy nasceu a 22 de Maio de 1862.
Claude Debussy morreu cerca de 8 meses antes da I Guerra Mundial terminar, dois dias depois da cidade de Paris ter sido violentamente atacada pelos alemães. A sua morte passou despercebida. Não assistiu à nova beleza que ansiava, mas deixou-nos a que criou.
Debussy nasceu a 22 de Maio de 1862.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Dia Mundial da Fotografia por Lisboa
Fotografia de uma fotografia de 1939 (Entreposto central do Porto de Lisboa, com destaque para os fardos de cortiça sobre a esquerda) |
Filhos e enteados
Nas redes sociais multiplicam-se os parabéns aos ex-contratados agora promovidos a professores - linguagem do ministério.
Segundo o Público, os promovidos apresentam uma situação tipo de 14 anos de serviço e uma média de 41 anos de idade.
E, digo eu, aparentam uma felicidade genuína de quem vê uma luz ao fundo do túnel: falta a colocação efectiva.
Também há os que não conseguiram essa promoção, mesmo com um bom número de anos de serviço e um percurso académico que pode ser longo e excelente.
Em contraste com esta realidade temos a outra. A dos ricos e famosos, por boas ou más razões. A dos filhos de algo.
No parágrafo 3.º do Artigo 3.º da Constituição de 1911, a primeira Constituição republicana, era afirmado que "A República Portuguesa não admite privilégio de nascimento (...), extingue os títulos de nobreza (...) com todas as suas regalias." Costumo analisar este artigo com os meus alunos do 6.º ano. À luz da chamada ética republicana, será difícil aceitar...
O "rapaz" até pode ser bom, mas isto de ser filho de alguém a quem se deve (obrigado, meu benfeitor!) uma pipa de massa terá o seu peso.
Se arranjou uma pipa de massa, é melhor ter alguém da família a... supervisioná-la.
Todos em funções públicas, mas, como diz o ditado, uns são filhos e outros enteados.
É o que parece.
Segundo o Público, os promovidos apresentam uma situação tipo de 14 anos de serviço e uma média de 41 anos de idade.
E, digo eu, aparentam uma felicidade genuína de quem vê uma luz ao fundo do túnel: falta a colocação efectiva.
Também há os que não conseguiram essa promoção, mesmo com um bom número de anos de serviço e um percurso académico que pode ser longo e excelente.
Em contraste com esta realidade temos a outra. A dos ricos e famosos, por boas ou más razões. A dos filhos de algo.
No parágrafo 3.º do Artigo 3.º da Constituição de 1911, a primeira Constituição republicana, era afirmado que "A República Portuguesa não admite privilégio de nascimento (...), extingue os títulos de nobreza (...) com todas as suas regalias." Costumo analisar este artigo com os meus alunos do 6.º ano. À luz da chamada ética republicana, será difícil aceitar...
O "rapaz" até pode ser bom, mas isto de ser filho de alguém a quem se deve (obrigado, meu benfeitor!) uma pipa de massa terá o seu peso.
Se arranjou uma pipa de massa, é melhor ter alguém da família a... supervisioná-la.
Todos em funções públicas, mas, como diz o ditado, uns são filhos e outros enteados.
É o que parece.
domingo, 17 de agosto de 2014
O Clube dos Poetas Vivos ou "carpe diem"
Há quem, surpreendentemente, morra.
Isso acontece com as pessoas que nos fazem falta (e que nós julgamos imortais).
Por outro lado, essas pessoas continuam vivas, exactamente porque não podem morrer.
Uma pessoa está uns tempinhos fora e... aproveitando a ausência, há quem faça essa surpresa.
Robin Williams, um dia destes...
O meu professor Keating.
Mas como os poetas não podem morrer de todo, porque os seus versos contribuem, ele continua vivo.
«As pessoas lêem poesia porque fazem parte da raça humana e a raça humana arde de paixão! Medicina, direito, a banca... Estas coisas são necessárias à vida. Mas poesia, romance, amor, beleza? São estas coisas que nos mantêm vivos. Deixem-me citar-vos um poema de Whitman:
Pobre de mim! Ó vida! E os constantes problemas que se me deparam,
Os infinitos cortejos de incrédulos, as cidades repletas de loucos...
Qual o valor de tudo isto, pobre de mim, ó vida?
Resposta
A tua presença - que a vida e a identidade existem,
Que o intenso espectáculo prossiga e que possas contribuir um verso.
Keating calou-se. A classe manteve-se em silêncio, digerindo a mensagem do poema. Keating olhou à sua volta uma vez mais e repetiu:
- Que o intenso espectáculo prossiga e que possas contribuir um verso.
O professor permaneceu em silêncio e depois, calmamente e com todos os olhos cravados em si, dirigiu-se ao quadro.
- Qual será o vosso verso? - perguntou.»
Isso acontece com as pessoas que nos fazem falta (e que nós julgamos imortais).
Por outro lado, essas pessoas continuam vivas, exactamente porque não podem morrer.
Uma pessoa está uns tempinhos fora e... aproveitando a ausência, há quem faça essa surpresa.
Robin Williams, um dia destes...
O meu professor Keating.
Mas como os poetas não podem morrer de todo, porque os seus versos contribuem, ele continua vivo.
«As pessoas lêem poesia porque fazem parte da raça humana e a raça humana arde de paixão! Medicina, direito, a banca... Estas coisas são necessárias à vida. Mas poesia, romance, amor, beleza? São estas coisas que nos mantêm vivos. Deixem-me citar-vos um poema de Whitman:
Pobre de mim! Ó vida! E os constantes problemas que se me deparam,
Os infinitos cortejos de incrédulos, as cidades repletas de loucos...
Qual o valor de tudo isto, pobre de mim, ó vida?
Resposta
A tua presença - que a vida e a identidade existem,
Que o intenso espectáculo prossiga e que possas contribuir um verso.
Keating calou-se. A classe manteve-se em silêncio, digerindo a mensagem do poema. Keating olhou à sua volta uma vez mais e repetiu:
- Que o intenso espectáculo prossiga e que possas contribuir um verso.
O professor permaneceu em silêncio e depois, calmamente e com todos os olhos cravados em si, dirigiu-se ao quadro.
- Qual será o vosso verso? - perguntou.»
N. H. Kleinbaum, O Clube dos Poetas Mortos
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Ele há acasos que até parecem de propósito
Os informadores do GS trabalham melhor que os supervisores ou um passarinho lhes cantou ao ouvido.
Quem sobreviveu ao naufrágio do BES? O Goldman Sachs - Economia - DN
sábado, 2 de agosto de 2014
José Afonso
Faria hoje 85 anos.
Inesquecível.
Inesquecível.
«José Afonso, trovador, é o mais puro veio de água que torna o presente em futuro, que à tradição arranca a chama do amanhã.» (Urbano Tavares Rodrigues)
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Para facilitar os trocos
Uma "pipa de massa", diz o outro.
Uns trocos (do que pagamos em juros). Mas calem-se! Não sejam pobres e mal agradecidos.
Enquanto isso... Seguro, feito parvo, toca ferrinhos...
Dêem-lhe uma moedinha!
E a gente aguenta, aguenta!
Jonas que terá 25 anos no ano 2000
Era por causa destas histórias mal contadas de filhos da mãe que vivem acima das nossas possibilidades e nos lixam as vidas e depois ainda dizem que nós é que temos a culpa porque preferimos viver de subsídios e assim que eles até são todos gente séria honrada e trabalhadora e coiso...
Lembrei-me de uma passagem do Jonas que terá 25 anos no ano 2000, filme do Alain Tanner, 1975 ou 76, época em que ia ao cinema, ia muito ao cinema... a personagem sobe ao cima do monte de estrume e grita "Sou o rei da merda".
O outro era o dono disto tudo. Agora é um vigarista e aldrabão, mas antes era sujeito creditado e acreditado. Ou seja, era o rei da merda. A gente desconfiava - cheirava-nos - mas não gritava...
É o capitalismo. Numa volta somos donos de várias ruas, temos até estações de comboios ou a companhia das águas, casas, hotéis e umas voltas mais à frente o dinheiro evaporou-se... (até nos pode sair a carta para irmos para a prisão, sem passar pela casa da partida e sem receber o dinheirinho correspondente)
Isto do Monopólio tem muito que se lhe diga...
Lembrei-me de uma passagem do Jonas que terá 25 anos no ano 2000, filme do Alain Tanner, 1975 ou 76, época em que ia ao cinema, ia muito ao cinema... a personagem sobe ao cima do monte de estrume e grita "Sou o rei da merda".
O outro era o dono disto tudo. Agora é um vigarista e aldrabão, mas antes era sujeito creditado e acreditado. Ou seja, era o rei da merda. A gente desconfiava - cheirava-nos - mas não gritava...
É o capitalismo. Numa volta somos donos de várias ruas, temos até estações de comboios ou a companhia das águas, casas, hotéis e umas voltas mais à frente o dinheiro evaporou-se... (até nos pode sair a carta para irmos para a prisão, sem passar pela casa da partida e sem receber o dinheirinho correspondente)
Isto do Monopólio tem muito que se lhe diga...
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