O subtítulo esclarece melhor o que podemos encontrar no livro: “Lições de cooperação, liderança e motivação”. Na edição portuguesa da Casa das Letras, a capa anuncia-o como “o livro de motivação empresarial mais vendido no Brasil nos últimos anos”, acrescenta um apelativo “Melhore a qualidade de vida, o ambiente de trabalho e a produtividade da sua empresa” e traz a figurinha de um ganso.
O tamanho do texto facilita a sua transcrição integral:
«Podemos aprender muito com os gansos selvagens.
Quando, por exemplo, um ganso bate as asas voando numa formação em V, cria um vácuo para a ave seguinte passar, e o bando inteiro tem um desempenho setenta e um por cento melhor do que se voasse sozinho.
Sempre que um ganso sai da formação, sente, subitamente, a resistência do ar, por tentar voar sozinho e, rapidamente, volta para a referida formação, aproveitando o vácuo da ave imediatamente à frente.
Quando um ganso líder se cansa, passa para trás e de pronto outro assume o seu lugar, voando para a posição da ponta.
Na formação, os gansos que estão atrás grasnam para encorajar os da frente a voarem mais depressa.
Se um deles adoece, dois gansos abandonam a formação e seguem o companheiro doente, para o ajudar e proteger. Ficam com ele até que esteja apto a voar de novo ou venha a morrer. Só depois disso voltam ao procedimento normal, com outra formação ou atrás de outro bando.
A lição dos gansos:
Pessoas que compartilham uma direcção comum e senso de comunidade podem atingir mais facilmente os objectivos que pretendem.
Para os atingir, é necessário estar junto daqueles que se dirigem para onde queremos ir, dando e aceitando ajuda.
É preciso haver um revezamento na liderança e nas tarefas pesadas. As pessoas, assim como os gansos, dependem umas das outras.
Precisamos de assegurar que o nosso “grasnido” seja encorajador para a nossa equipa e que a ajude a melhorar o seu desempenho.
É necessário estar ao lado dos colegas também nos momentos mais difíceis.»
Actualmente (passaram 5 anos depois da publicação do livro), num mundo dominado pela paranóia financeira dos mercados e pelos resultados, as pessoas são meros números para as estatísticas. A realidade da gestão empresarial não tem nada a ver com os princípios que os gansos selvagens nos podem ensinar. É exactamente o seu contrário, sem consideração, sem respeito pela dimensão humana, sem atender aos valores básicos de uma sociedade que se pretende livre. Não existe o sentido do colectivo, não existe, aliás, um sentido para a nossa vida em sociedade que não seja o de apresentar números que nos ponham de acordo com padrões fictícios criados por quem, de forma poucas vezes clara, dita as regras e as muda quando quer, de acordo com os seus interesses privados. Já nem é o poder político eleito, que teoricamente nos representa, que governa – ele também é governado pelos particulares interesses que se sobrepõem. E as modernas gestões estão ao seu serviço.
Sejamos gansos selvagens e seremos mais felizes.
Quanto aos gestores de aviário, ao sabor das modas e ao serviço dos privadíssimos interesses... só desejo que batam c’os corninhos no muro mais próximo!
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