"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 25 de novembro de 2025

25 de Novembro - Final do PREC, sinal do PREC

Os setores da direita, ao fim de 50 anos, sentiram-se institucionalmente com força para, num exercício de revanchismo, celebrarem o 25 de Novembro de 1975 como uma data relevante e minimizarem o 25 de Abril de 1974.

O labroste do Chefe do Governo não esteve para se chatear, lavou as mãos e delegou a festa no Ministro da Defesa, líder do partido menor da coligação.

O Ministro da Defesa, um boçal, encheu o peito de ar e arcou com a organização da gala, estimulando a manipulação da História, de forma a que até parece verdade que da direita tenham partido as acções decisivas do 25 de Novembro ou do processo que a ele conduziu.

O PS, que, na realidade, foi o partido vencedor do golpe ou contra-golpe das forças moderadas de esquerda ou centro-esquerda - destaque para o Grupo dos Nove, o Presidente da República (Gen. Costa Gomes) e Ramalho Eanes - nunca assumiu inteiramente o sucesso da sua acção pró-institucional/democracia liberal e parece ter vergonha da derrota causada à esquerda. Não se afirmou como vencedor e a vitória, agora, é cantada pela direita (que, à boleia, bastante beneficiou, pelo que se compreende a romaria).

As esquerdas à esquerda do PS foram derrotadas, não têm nada a celebrar no 25 de Novembro, a não ser... terem a liberdade de continuar a existir. Esquerdas no plural, porque havia grupos para todos os gostos e diferentes perspectivas. Dizer que, de um lado, havia o PCP e, do outro, havia os "esquerdistas", simplifica, mas há nuances (tal como a direita não era/é toda igual). Mas, para todos eles, o PREC entrou em falência!

As massas ululantes que agora, por vários meios, se manifestam à direita, acham bem que se celebre ardorosamente a data, pois vibram, sobretudo, com a derrota dos Abrilistas/Comunistas/Esquerdistas e outros nomes (esclarecedoramente) atribuídos a uma massa informe aos seus olhos, porque o sectarismo embisga as mentes, não me parece que muitos compreendam (ou queiram, sequer!) a complexidade do contexto histórico (político e militar) em que os acontecimentos se deram e nem me parece que conheçam os próprios acontecimentos. Alguns lamentarão não se ter chegado à interditação do PCP e de outras organizações de esquerda. A vontade de celebração, nestes casos, não se fica pelo 25 de Novembro : chegará ao dia 24 de Abril de 74! É o PREC - Processo Reaccionário em Curso.


Parece-me que ainda há factos no 25 de Novembro que não estão suficientemente claros quanto à sua génese, e duvido que alguma vez isso venha a acontecer: as fontes escritas não deixarão a verdade escarrapachada, o que alguns dos intervenientes contaram não esclarece a 100 por cento e muitos deles já não poderão (re)contar a(s) sua(s) verdade, a(s) qual(is), uns anos depois, também já teriam umas distorções, zinhas ou zonas, conforme os casos.

Há peças difíceis de encaixar no puzzle político-militar da época. As leituras não são uniformes e o quadrante ideológico de quem interpreta ajuda a divergi-las.

Os historiadores podem continuar o seu trabalho, de preferência sem as manipulações que enviesam a realidade.


Sem comentários:

Enviar um comentário