No Museu Nacional de Arte Contemporânea, a exposição Francis Smith. Em Busca do Tempo Perdido, aqui apresentada pela directora do museu.
«Mas ainda me estava reservado outro privilégio: o de assistir àquele momento extraordinário em que os pintores, como os poetas na presença das mulheres amadas, principiaram a fechar os olhos diante de Lisboa, para a imaginarem e pintarem de cor (e assim lhes parecer mais real).
Pouco a pouco, descobriram, separaram, reuniram, seleccionaram uma espécie de abecedário para escrever Lisboa. Uma estranha colecção de sinais que exprimia os aspectos mais característicos da realidade cenográfica lisboeta - escadinhas, arcos, chafarizes, janelas de guilhotina, manjericos, cunhais, roupa estendida, brasões, telhados, estes com abismos e poços de saguão tão imprevistos que já me permitiu um dia propor um desporto novo, o "telhadismo", exploração audaciosa da paisagem de marias-frias, arroz do telhado e musgos vários da nossa Lisboa das trapeiras misteriosas. De posse desta linguagem, qualquer pintor poderia reinventar Lisboa com facilidade. Foi esse o caso de Francisco Smith (também o conheci, o vi, de passagem em Portugal) que, durante anos e anos longe da pátria, em Paris, aplicou com talento pessoal e tintas saudosas, esse alfabeto.»
Pouco a pouco, descobriram, separaram, reuniram, seleccionaram uma espécie de abecedário para escrever Lisboa. Uma estranha colecção de sinais que exprimia os aspectos mais característicos da realidade cenográfica lisboeta - escadinhas, arcos, chafarizes, janelas de guilhotina, manjericos, cunhais, roupa estendida, brasões, telhados, estes com abismos e poços de saguão tão imprevistos que já me permitiu um dia propor um desporto novo, o "telhadismo", exploração audaciosa da paisagem de marias-frias, arroz do telhado e musgos vários da nossa Lisboa das trapeiras misteriosas. De posse desta linguagem, qualquer pintor poderia reinventar Lisboa com facilidade. Foi esse o caso de Francisco Smith (também o conheci, o vi, de passagem em Portugal) que, durante anos e anos longe da pátria, em Paris, aplicou com talento pessoal e tintas saudosas, esse alfabeto.»
José Gomes Ferreira
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