"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 27 de janeiro de 2018

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto




Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelo e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa, andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entrave,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Primo Levi


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Reina a ordem em Brasília

«Um país onde Lula é condenado e Temer é presidente e Aécio Neves senador é algo da ordem do escárnio.»
(Vladimir Safatle, Folha de S. Paulo, 26 de Janeiro)



«É uma tristeza que a justiça brasileira se tenha prestado a uma evidente instrumentalização política, ao serviço objetivo de um certo Brasil, acelerando artificialmente os seus procedimentos, com a finalidade de evitar que Lula viesse a ser candidato e, muito provavelmente, o futuro presidente eleito do Brasil.

É uma tristeza que um homem como Luiz Inácio Lula da Silva, que devolveu a esperança a milhões de brasileiros, muitos dos quais tirou da fome e da miséria, se tivesse deixado enredar em práticas e comportamentos que o deixaram à margem da exigência ética que a sua história pessoal e política requereria.

É tudo uma imensa tristeza.»
(Francisco Seixas da Costa, do fb, 24 de Janeiro)


                                                                   Título roubado num artigo de Carlos Fino.


quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

E então a noite caiu...


E então a noite caiu, para que não se falasse
do cair da noite. A noite caiu tão fria como as
últimas noites que caíram, neste princípio de
inverno, e ninguém pôs um colchão por baixo
dela para que a noite não se magoasse, ao cair.
A noite limitou-se a cair, e com ela caiu o céu
sem lua, com todas as estrelas do universo a
caírem com ela. Só os olhos não caíram, porque
para verem o céu e as estrelas que o enchiam
tiveram de se levantar. E foi preciso falar
do cair da noite para que os olhos tomassem
a direcção do céu, e descobrissem tudo o que
havia no céu sem lua. “Deixem cair a noite”,
disse alguém. E logo alguém pediu que o
dia se levantasse, como se uma coisa estivesse
ligada à outra. Então, o dia levantou-se da
noite em que caiu; e a noite caiu sobre o dia
que se levantava, para que a sua queda fosse
amparada pelo colchão do dia, e as estrelas
tivessem onde pousar, à medida que caíam.
Nuno Júdice, As coisas mais simples

10 anos...


sábado, 20 de janeiro de 2018

Possíveis candidatos ao Nobel da Literatura

Propostos pelos membros da Classe de Letras da Academia de Ciências de Lisboa, Agustina Bessa-Luís e Manuel Alegre são possíveis candidatos ao Nobel da Literatura de 2018.

Todos os anos o Comité Nobel da Academia Sueca convida várias instituições a apresentarem candidaturas ao Nobel. É a quarta vez que a Academia de Ciências de Lisboa é chamada a participar na apresentação de candidaturas.









Tão diferentes, assim irmanados...

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Sua cabra!...

O problema não são as cabras.
O problema é chamarem nome às cabras!

Diário de Notícias de hoje


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Ondas


«As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.»
Sophia de Mello Breyner Andresen


A espantosa virtualidade das coisas

Continuamos no domínio do virtual.




Já em 2017...

Vidas cada vez mais virtuais...

«A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.»

Alberto Caeiro reescreveria o poema?


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Quando o vazio gera riqueza

A reportagem do Público de hoje:


Já o jornal digital Dinheiro Vivo tinha trazido informação sobre os 10 maiores youtubers portugueses e o seu sucesso, medido em seguidores e receitas.


Para conhecer o que eles fazem...
Espreitei o primeiro...
Espreitei o segundo... que não é um segundo qualquer: ele "subiu à segunda posição do terceiro lugar".


Já não espreitei o terceiro... (nem acabei de ver os dois primeiros. Haja pachorra!)

Penso que os pais têm razões em estar preocupados!

Penso que, socialmente, temos razões para estar preocupados com a saúde mental dos jovens seguidores.
Quanto aos youtubers, se também devemos ter o mesmo tipo de preocupação, devemos considerar a atenuante de ser uma falta de saúde mental geradora de riqueza. 

O mundo é dos espertos!
Salve-se quem puder!
Mas temo pelo futuro da agricultura...


domingo, 14 de janeiro de 2018

O que procuramos será real?



O que procuramos será real? Ou será o impossível
fruto do desejo sempre latente e indefinível?
Ou não será imediata presença
e só a nossa distracção a perde ou turva o seu cristal?
Talvez tenhamos perdido o dom da simplicidade
e da tranquila conivência com as coisas
Se pudéssemos coincidir o movimento com a suspensão
o vazio seria a plenitude
e a palavra não trairia o silêncio 
nem a evidência solar de cada coisa
Só esta presença nos daria o túmido equilíbrio
de pertencer ao mundo como uma haste de trigo
e de possuir um corpo com a turgência nova
de uma primavera vagarosamente ingénua
vagamente indolentemente luminosa
António Ramos Rosa, As Palavras




sábado, 13 de janeiro de 2018

Do Outro Lado do Espelho


Em exposição...
... até 5 de Fevereiro...
... Fundação C. Gulbenkian.


«Os espelhos fariam bem em reflectir um pouco antes de nos devolverem as imagens.»
Jean Cocteau





«E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.»
(Herberto Hélder)



















Ao luar de Janeiro...



Ainda não me lembrei de comprar o Borda d'Água...