Texto de João Costa, Secretário de Estado da Educação, no jornal Sol, a propósito dos rankings das escolas que a comunicação social adora (como adora qualquer classificação, porque uma lista ordenada simplifica o que é complexo e a comunicação social parece que tem tendência a só compreender o que é básico!).
E como parece que (finalmente?) temos um Secretário de Estado que percebe de educação...
Não tenho dúvidas de que é interessante para a comunidade saber qual o alinhamento da sua escola com um perfil nacional ou regional de desempenho. Tenho a certeza de que o interesse de uma lista ordenada de escolas é nulo. Mal comparado, é interessante para uns pais conhecerem o percentil de desenvolvimento do seu filho, mas é irrelevante saber qual a sua posição relativa em relação aos bebés todos do país.
Conhecer a qualidade de uma escola implica um olhar muito mais abrangente, pelo que são precisos mais indicadores e é necessário um olhar sistémico. Para isso, o Ministério da Educação tem vindo a disponibilizar mais indicadores, de que destaco: os Percursos Diretos de Sucesso, que medem o quanto a escola contribuiu para a progressão dos alunos; o indicador de desigualdades, que mede a dispersão de notas numa mesma escola; os indicadores por disciplina, que permitem uma análise comparada entre as disciplinas da mesma escola, estabilizando assim variáveis sociodemográficas, que a comparação entre escolas não permite controlar.
Mas há muito mais no trabalho das escolas que não tem sido valorizado e que os rankings não mostram. Trabalho que é essencial para o cumprimento da missão da educação:
1. Inclusão: há escolas que se destacam pelo trabalho absolutamente notável que fazem com alunos com deficiência, valorizando-os e incluindo-os.
2. Mobilidade social: a pobreza ainda é o principal preditor de insucesso, mas há escolas que se destacam por garantir que a correlação entre nível socioeconómico das famílias e resultados escolares não é tão forte.
3. Educação humanista: se os melhores resultados não estiverem associados ao desenvolvimento de um perfil que leva os alunos a colocar os seus conhecimentos ao serviço da construção de uma melhor sociedade, a escola não está a formar bem. Há escolas que desenvolvem um trabalho admirável na promoção de projetos de cidadania, serviço social, trabalho cooperativo. Um 17 a biologia de quem não considera os outros vale menos do que um 15 de um aluno respeitador e solidário.
4. Formação artística e desporto: há escolas que deixam florescer talentos artísticos, que promovem um trabalho notável na promoção da saúde e do desporto. Estas são áreas fundamentais na estruturação dos indivíduos e para as quais não temos ainda indicadores.
A reflexão em curso sobre a avaliação externa das escolas no Ministério da Educação pondera como alargar o leque de dimensões a valorizar. Uma educação integral envolve atingir metas em muitas dimensões. Nem todas se expressam numa nota. Mas sobre todas é preciso obter dados e valorizar o que de melhor se faz. Por isso, precisamos de vários olhares sobre a escola, para que, aos poucos, seja possível tornar visível o que leituras apressadas ocultaram.
Sol, hoje - aqui
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