No quarteto do vídeo não há contrabaixo, mas lembrei-me.
O músico do violoncelo fez-me lembrar o livro O Contrabaixo, de Patrick Süskind (o autor de O Perfume).
Num monólogo, e enquanto bebe umas cervejas, um músico de uma orquestra - um contrabaixista - fala do instrumento que toca e da paixão que sente por uma das cantoras. O problema é como chamar-lhe a atenção e demonstrar o seu amor. Delirante.
«Um dia, no ensaio da Ariadne, quis forçar isso. Ela fazia de Eco, um papel menor, meia dúzia de trinados (...). Ela havia de me ter visto dali, se tivesse olhado, se não se tivesse concentrado no DM... Estive a pensar, se eu agora fizesse qualquer coisa, se despertasse a atenção dela... deixando cair o contrabaixo ou entrando com o arco pelo violoncelo que está à minha frente, ou ainda, tocando falso, de modo a dar nas vistas... (...) Mas acabei por desistir. É mais fácil dizer do que fazer.»
«Às vezes acordo a meio da noite... a gritar. Grito, porque no sonho a oiço cantar, meu Deus! Ainda bem que o quarto está isolado à prova de som. Fico alagado em suor e, depois, volto a adormecer... e acordo de novo com os meus próprios gritos. E é assim toda a noite: ela a cantar, eu aos gritos, adormecendo, ela a cantar, eu aos gritos, adormecendo, etc. A sexualidade é isto.»
Por isto, acho que compreendi melhor o complexo revelado inicialmente pelo violoncelista.
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