Morreu Carlos Matos Gomes, um dos mais destacados elementos do Movimento dos Capitães na Guiné, berço do nascimento do espírito que levaria ao 25 de Abril. Sempre muito interventivo na defesa dos valores por que se bateu mais de cinco décadas, "comando" nas três frentes de guerra (Angola, Moçambique e Guiné), foi um dos militares descartados com o 25 de Novembro.
Seguia-o nas suas análises políticas, argutas, por via de regra em contracorrente, mas, sempre, comprometidamente livres.
Comecei por o conhecer pelo nome de Carlos Vale Ferraz, pseudónimo com que assinou um conjunto de romances em que as questões em torno da guerra colonial são centrais.
Investigou e publicou sobre História Contemporânea de Portugal, nomeadamente Guerra Colonial, com Aniceto Afonso.
Vítima de doença oncológica, fez o deve e haver de uma vida em Geração D (editado em Março de 2024) .
«Esta geração protagonizou a grande mudança da história de Portugal, a que acabou com a ditadura, com a guerra, com as leis da sociedade patriarcal, mas continuou a conviver com a ideia de um glorioso passado em simultâneo com a ilusão de um futuro maravilhoso. É a geração de outros D: da Democracia, da Deserção, da Descolonização, das Doutrinas e do Doutrinar, da Discussão, da Dialéctica, do Desmistificar e do Desmitificar, do Desmobilizar, da Denúncia, da Desobediência, do Divórcio.
A Geração D viveu sob um regime de "doidos do império" e libertou-se dele! Calhou-lhe ser a primeira geração que, pela liberdade e universalidade do voto, foi inteiramente responsável pelo seu presente e pelo seu futuro.
Obedecer ou contestar? Falar ou calar-se? Recordar ou esquecer? Manter os ideais ou renegá-los? Vender-se no mercado ou manter-se fora da montra? Dilemas éticos e morais que têm provocado enjoos.
O D dos Dilemas é também o do Desafio e o do Desprezo pelos Desprezíveis da Geração D.»