domingo, 28 de abril de 2019

José Rodrigues Miguéis e Lisboa (4)

«(...) Há horas em que a Cidade parece regressar àquele instante inicial de paz e criação: o sol cai a pino sobre a calçada reverberante e um recolhimento no ar, uma vela vermelha e cautelosa rasteja (como ao tempo dos califas) no esmalte azul do Tejo, um calor voluptuoso irradia dos corações... Presépio, anfiteatro, cais dum destino, plano inclinado por onde há séculos um povo e uma alma parecem escoar-se a caminho de outros mundos e paisagens, do pão amargo sobretudo, - Lisboa é este rio imenso, este horizonte de apelos sem fim, e não se pode ter nascido aqui, vivido aqui, ou ser-lhe assimilado, sem lhe sofrer o influxo, sem ficar para sempre marcado duma vocação, dum desgarramento e fatalismo, dum anseio de partir e tornar, duma sensual melancolia.»
José Rodrigues Miguéis, Lisboa, cidade triste e alegre




sábado, 27 de abril de 2019

As casas de Almeida Garrett

Ardeu o interior do prédio onde nasceu Almeida Garrett (1799).
Ficaram as fachadas onde se pode ainda ver o medalhão que assinala esse facto.



O medalhão no prédio (foto de 2017? Vou procurar no "arquivo")

Ardeu agora a casa onde nasceu.
Foi demolida, em Campo de Ourique, no ano de 2006, a casa onde viveu os últimos anos da sua vida e onde faleceu.

Do fogo não sabemos as causas.
Da demolição, sabemos que foi ordenada por Manuel Pinho, ex-membro do Conselho de Administração do Grupo Banco Espírito Santo e Ministro da Economia e Inovação de um dos governos de Sócrates, que tinha adquirido a casa.
Manuel Pinho tem mais sensibilidade para as finanças do que para a cultura.
Depois de comprar a casa, terá exigido contrapartidas financeiras para a vender à Câmara (é o que se depreende do texto do jornal Público de 6 de Janeiro de 2006) ou, com toda a legitimidade, apenas a pretendia vender?

Porta da casa de Almeida Garrett em Campo de Ourique, Lisboa
A vida profissional de Manuel Pinho parece ter continuado com sucesso, apesar das polémicas associadas ao BES e à EDP.
As casas que foram de Garrett parecem estar com menos sorte.

Excerto da notícia de 6 de Janeiro:
«Como actual presidente do executivo camarário, Carmona Rodrigues justificou a decisão de autorizar o proprietário a demolir o imóvel com a inexistência de interesse da autarquia na preservação do edifício, além da falta de dinheiro para a sua transformação numa casa-museu, a aquisição de um espólio e o pagamento de contrapartidas a Manuel Pinho.

A autarquia recorda também que o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) não classificou o edifício, tendo apenas recomendado a sua classificação como edifício de interesse municipal, mas já depois de emitida a autorização da demolição.»

Público, 6 de Janeiro de 2006

Este excerto também é elucidativo da forma de funcionamento de algumas instituições públicas.

A casa desenhada na capa do livro de José-Augusto França

Em 2007, José-Augusto França editou Garrett e outros contos, obra assim intitulada por incluir textos provocados pela demolição danosa, em 2006, da casa em que Almeida Garrett viveu os últimos anos da sua vida.


sexta-feira, 26 de abril de 2019

Guernica

Cidade de Guernica, bombardeada a 26 de Abril de 1937.



«O ataque da Legião Condor, com uma pequena ajuda da Aviazione Legionaria italiana, designado como Operação Rügen, iniciou-se às 16.30 de 26 de Abril, com a cidade cheia de gente e animais, pois era dia de mercado, a que se somavam também refugiados, pelo que se estima que a cidade de 5.000 habitantes albergasse naquele dia mais alguns milhares. Quando os sinos tocaram a rebate, a população buscou refúgio nas caves, mas surgiu apenas um bombardeiro solitário, que lançou as suas bombas e partiu. A população saiu dos abrigos e foi então que chegou uma vaga de bombardeiros Heinkel He 111, a que se seguiu uma vaga de Junkers Ju 52. Enquanto os bombardeiros largavam uma combinação de bombas explosivas, incendiárias e de fragmentação, num total de 40 toneladas, os caças Heinkel He 51 e Messerschmitt Bf 109 metralhavam as pessoas que, em pânico, fugiam da zona urbana e procuravam abrigo nos campos em redor.»
Observador, 8 de Abril de 2017

Esboço da obra de Picasso, Guernica


Revisionismo asséptico


 Fundamentalismo preocupante (como todos os fundamentalismos).

Qualquer dia irão rever a Ilíada, a Odisseia, a Divina Comédia, Romeu e Julieta, Bíblia...
Estaremos proibidos de ler tudo o que seja, porque se descobrirá sempre uma impureza! 
Só gente acéfala!


Só saem duques!...

Não li a entrevista...


... fiquei a pensar o que seria um ministro das Finanças mão-de-vaca (sem aspas).
Alguém que trata as finanças com os cascos?
Alguém que não abre a mão (um agarradinho ao dinheiro, tipo Tio Patinhas)?

Procurando o significado, encontrei


Acho piada à forma como evoluiu o "tratamento" dado ao ministro das Finanças, da sua tomada de posse ao momento actual.

Começou por ser tratado como um "Zé Pateta" (tem o seu ar de Zé Colmeia - reconhecível para quem tem idade de se lembrar desta personagem), de quem muitos se riam, convencidos de que iria ser engolido (em várias acepções da palavra).

Acabou por se revelar o contrário, causando erisipela a muita gente - quer aqueles que contestam a sua política de austeridade aplicada aos diferentes ministérios, quer os defensores da política austeridade dos tempos da troika, onde se inclui João Duque* (por inveja de não serem "eles" a apresentar os números que Mário Centeno tem conseguido). 

Centeno evoluiu de motivo de chacota, sistematicamente questionado, a personagem (quase) inquestionável -já não é perseguido por jornalistas amadores.


Mão de vaca gastronómica já vi em vários livros de receitas: mão de vaca guisada, mão de vitela com molho de vilão, mão de vitela de fricassé, mão de vitela frita, mãos de vitela à minut, mão de vitela guisada à portuguesa, mão de vaca com grão, geleia de mão de vaca... 



*João Duque, nos tempos do Plano Inclinado, estava sempre de acordo com a política mão-de-vaca defendida por Medina Carreira.



A Imagem de Abril

Programa da RTP onde, numa entrevista conduzida por Paulo Dentinho, o fotógrafo Alfredo Cunha conta como foi o (seu) 25 de Abril de 1974, a partir das fotografias que foi tirando ao longo desse dia.


(detesto a publicidade a meio, mas...)


quinta-feira, 25 de abril de 2019

Janela (agora) com cravos

Janela da cadeia do Aljube, Abril de 2019.


Ariane é um navio. 
Tem mastros, velas e bandeira à proa, 
E chegou num dia branco, frio, 
A este rio Tejo de Lisboa. 

Carregado de Sonho, fundeou 
Dentro da claridade destas grades... 
Cisne de todos, que se foi, voltou 
Só para os olhos de quem tem saudades... 

Foram duas fragatas ver quem era 
Um tal milagre assim: era um navio 
Que se balança ali à minha espera 
Entre as gaivotas que se dão no rio. 

Mas eu é que não pude ainda por meus passos 
Sair desta prisão em corpo inteiro, 
E levantar a âncora, e cair nos braços 
De Ariane, o veleiro.
Miguel Torga

Poema escrito na cadeia do Aljube, no primeiro dia do ano de 1940.




Memorial na Fortaleza de Peniche

“Nomeai um a um todos os nomes. Lutaram e resistiram. A liberdade guarda a sua memória nas muralhas desta fortaleza.“

Os memoriais parece que são como as cerejas...

Inaugurado, no Forte de Peniche, o memorial em homenagem a presos políticos da ditadura - um mural que tem os nomes de 2.500 perseguidos políticos que aí ficaram detidos entre 1934 e 1974.

Arquitecto João Barros Matos junto ao memorial que concebeu




Inaugurada, também hoje, a Exposição Por teu Livre Pensamento, como uma amostra do que vai ser o futuro Museu Nacional da Resistência e Liberdade, integrado nesta prisão emblemática do regime ditatorial, que deverá abrir em 2020.




Os retratos

«A minha amiga Teresa , hoje professora reformada, no principio da sua carreira foi mandada para uma aldeia lá para trás do sol posto. A escola não tinha condições nenhumas, e todos os meses, com a sua melhor caligrafia (onde é que ainda vinham os computadores...) a Teresa mandava uma carta ao ministério da Educação a explicar que não havia nada na escola, nem um mapa, nem os sólidos geométricos, nem uma caixa de pesos, nem giz - e como podia ela ensinar assim as crianças? E para ver se os comovia, acrescentava sempre que a escola - imagine-se! - nem sequer tinha os retratos do Senhor Presidente do Conselho nem do Senhor Presidente da República para pendurar na parede!

Todos os meses lá seguia uma carta, mas do Ministério nem palavra,o silêncio mais absoluto. Meses a fio. Nem sei quanto ela terá gasto em selos. Até que uma manhã, ia ela a chegar, quando vê a Sra. Palmira, empregada da escola, a correr para ela, felicíssima, de braços abertos :"chegou a encomenda, professora, finalmente o ministério mandou as coisas!" Correu para ela, quis saber mais coisas, se tinham deixado algum recado - mas a Sra.Palmira disse que não, tinham descarregado os caixotes e tinham-se ido logo embora, ela até tinha perguntado se não era preciso assinar nenhum papel, mas eles que não, que tinham de voltar depressa porque em Lisboa havia grandes complicações, ainda ninguém percebia bem o que se estava a passar, mas andava tropa pelas ruas, a rádio até já tinha dito para toda a gente ficar em casa, aquilo era mesmo uma grande confusão. A Sra. Palmira até ria: "ó professora,olhe que eu até percebi "revolução"!! A Teresa riu também, "ó Sra Palmira, uma revolução em Lisboa?" E riram muito as duas, enquanto começaram a abrir os caixotes para retirarem o material tão desejado. 

Só que, de todo o material pedido, o Ministério tinha apenas mandado os retratos do Senhor Presidente do Conselho e do Senhor Presidente da República....Que, evidentemente, nunca chegaram a ser pendurados.»
Alice Vieira



Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos


Por iniciativa de um conjunto de cidadãos, durante um ano estará instalado na estação de Metro da Baixa-Chiado, em Lisboa, o Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos.
O objectivo é prestar homenagem aos milhares de homens e mulheres que se bateram pela liberdade, em Portugal e nas ex-colónias.
Lembra Alfredo Caldeira que, durante 48 anos, em Portugal, foram presas por motivos políticos, em média, duas pessoas por dia.

O Memorial "vai lembrar a vida de 30 mil portugueses, homens e mulheres, que durante 48 anos foram presos, muitos torturados, por dizerem o que pensavam e lutarem contra a falta de liberdades políticas, sindicais e sociais. (...) são três dezenas de milhar de pessoas de todas as idades, profissões, origens sociais e geográficas a quem devemos um Obrigada por podermos falar sem termos medo de ser torturados".



A sugestão da estação da Baixa-Chiado, prende-se com a densidade de pessoas que ali passam por dia. Mas há outra razão: como Helena Pato lembrou, "a estação está a uma distância equidistante tanto da sede da PIDE, na António Maria Cardoso, do largo do Carmo, onde Marcello Caetano foi capturado e também de outro local que não se fala tanto, a rua da Misericórdia, onde estava instalada a sede da censura".


É um um projecto que quer cumprir o “dever da memória” e ser uma memória para o futuro.
«Não queremos que o memorial tenha uma visão passadista, mas não há futuro sem memória. Não podemos construir o nosso futuro a esquecer o que se passou, tanto de bom como de mau. Temos que encarar a História como foi.» (Alfredo Caldeira)




O Memorial "físico" é completado por uma página da internet.
Aí pode ser encontrada a lista completa de mulheres e homens presos durante o Estado Novo, incluindo os que perderam a vida durante os períodos de cárcere. 
Pode também ser consultada uma série de biografias em destaque.



Carta a Salgueiro Maia

Querido Pai!

Hoje, mais uma vez, te escrevo por aqui! 25 de Abril de 2019!
Já passaram 45 anos, acreditas? E nestes 45 anos tanta coisa mudou! Mas eu acho que ainda há tanto a mudar!
Sabes, as pessoas têm-se queixado muito. Fazem greves, manifestações... mas às vezes tenho vontade de as questionar se lutam no dia a dia para as coisas melhorarem!
O País não está bem! Temos políticos que só olham para o próprio umbigo, mas que apregoam que o que fazem e fizeram foi pelo bem do povo!
Temos uma justiça que pune o mais fraco mas liberta o mais forte! Que "condena" uma mulher que é vitima de violência doméstica, por exemplo!
Temos entidades patronais que se acham acima da lei e tratam os trabalhadores como escravos!
Temos pessoas numa lista de espera interminável para serem operadas!
Mas isto não é de agora, Pai! Já vem de alguns anos! Precisamos de recuperar! Precisamos de lutar pelo nosso país!
Oh, Papi, que falta que fazes cá! O Homem que sonhou e lutou pelo sonho! O Homem que nunca se auto proclamou herói! O Homem com H maiúsculo... aliás com H gigante!!!
Um dia voltaremos a erguer-nos! Voltaremos a sorrir e a gritar Vitória!
Mas nem tudo é mau! Temos liberdade! Temos educação! Temos um Serviço Nacional de Saúde, apesar de eu achar que precisa de ser "actualizado"! E temos, acima de tudo, Vida!!!
Obrigada por este dia! O primeiro dia do resto das nossas vidas!

Com amor,
Catarina Mau-Feitio

Catarina Salgueiro Maia


25 de Abril


Dantes
era um silêncio imenso
de grito amordaçado

Hoje
há uma festa à nossa beira
fazendo a liberdade

florescer em cravo

Mudando o sonho
em vida
e canto alado

Maria Teresa Horta
26 de Abril de 1974


Os professores, esses lorpas!

Vou ser rico e não sabia!...
... Daqui a 2 anos e meio!


Os descontos (IRS, CGA, ADSE) levar-me-ão cerca de 44%...

P.S. - Já me esquecia: a ILC, como previa, não deu em nada!


Assim me sinto!
(como o último fósforo)


2.º P.S. - A serem 3364,63€, significa que os ordenados se mantêm inalteráveis até ao final de 2021.


segunda-feira, 22 de abril de 2019

À Terra


Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
Miguel Torga, Odes



Capitalism is destroying the Earth

Hoje, dito de Dia da Terra, Lembrei-me deste artigo de George Monbiot (The Guardian)



Amanhã é sempre longe demais



P.S. - Já me está a parecer perto demais!


O que faz andar a estrada?

«O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.»
Mia Couto



Será melhor não celebrar?

22 de Abril - Dia da Terra

«Cinco décadas passadas desde o primeiro “Dia da Terra”, nos EUA, a humanidade mais do que triplicou a extracção de recursos naturais do planeta, em actividades que só por si contribuem em 90% para a perda de biodiversidade e são responsáveis por quase metade das emissões de CO2.»




domingo, 21 de abril de 2019

Páscoa


Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ali, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.
Miguel Torga, Diário XVI


sábado, 20 de abril de 2019

Escapei a uma crise urbana!


Estive fora uns dias e não vivi este fim do mundo!

E não foi preciso sair do país para estar longe desta loucura.
Na província vivia-se a normalidade dos dias.

Há situações e comportamentos que dão muito que pensar!


A defesa de Notre-Dame de Paris por Victor Hugo


«Todas as formas de profanação, degradação e ruína ameaçam simultaneamente o pouco que resta desses admiráveis monumentos da Idade Média que trazem a marca das glórias passadas de nosso país, às quais estão ligadas tanto a memória dos reis quanto a tradição do povo. Enquanto assistimos a construção, a alto custo, de edifícios bastardos (estes que, com a pretensão ridícula de parecerem gregos ou romanos na França, não são nem gregos nem romanos), outras estruturas admiráveis e originais estão ruindo sem que ninguém se dê conta disso, enquanto seu único crime é o de ser francês por origem, por história e por propósito.»
Victor Hugo

Este era o pensamento de Victor Hugo e a razão por que escreveu Notre-Dame de Paris (1831).




O escritor pensava que a catedral estaria em risco de ser demolida, depois dos danos sofridos durante a revolução francesa, período em que chegou a funcionar como armazém e teve várias imagens e estátuas destruídas.
Victor Hugo apresentava Notre-Dame como o símbolo de um passado glorioso.
A sua obra acabou por ser uma peça fundamental na campanha pela sua restauração, iniciada em 1844.

Catedral de Notre-Dame de Paris em 1840 
Gravura de Gustave Doré para a edição de Notre-Dame de Paris de 1860

A curiosidade de outra gravura de Gustave Doré, com a imagem da catedral, para ilustrar Gargantua, de François Rabelais, na edição de 1854. Gargantua surge refugiado nas torres, de onde roubaria os sinos.


Neste momento, a catedral de Notre-Dame de Paris está a arder...


O tempo, esse grande escultor

A agenda da sessão plenária do Parlamento de amanhã, 16 de Abril, contempla o “Projecto de Lei n.º 944/XIII/3.ª (Cidadãos)” sobre a “Consideração integral do tempo de serviço docente prestado durante as suspensões de contagem anteriores a 2018, para efeitos de progressão e valorização remuneratória”, resultante de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) desenvolvida desde 17 de Abril de 2018.

Um ano - a democracia custa!

Dos resultados... duvido. 
Penso que será uma discussão inconclusiva, semelhante às do Parlamento inglês, a propósito do Brexit.
As responsabilidades serão empurradas, os custos financeiros apresentados pelo PS continuarão sem confirmação, os imbróglios legais arrastarão a situação até...
E vamos todos continuar na mesma, voltando a página da austeridade.

Não se vê nada à frente


Bibi Anderson

Bibi Anderson, uma das actrizes de Ingmar Bergman, faleceu hoje.



Nem vejo a idade da reforma!

O dinheiro manda!

A sustentabilidade da segurança social... a juntar à da ADSE...
Em período pré-eleitoral, uma nova frente de ataque.
Mais fraquinha, no entanto, do que a já enjoativa nomeação de familiares.
Porque mesmo comentadores como José Gomes Ferreira consideraram, desde logo, que estava em jogo "fazer jeito aos fundos de pensões e às seguradoras".

Será de lembrar que...
... o "isento" coordenador do estudo, Amílcar Moreira, foi Secretário de Estado do Governo de Passos Coelho, época em que se falou do corte de 600 milhões em pensões e o começo da sua privatização - "abrir o mercado ao privado". No fundo é pretender que os privados do sector vivam encostados ao Estado (que nos obrigaria a colocar os nossos rendimentos naquelas instituições).
... o estudo foi encomendado e/ou, pelo menos, pago por quem não prima por bons salários e, logo, ajuda a fracas contribuições para a segurança social.
... quem defende estas políticas tem garantida ou vive de reforma dourada.

Cada vez maior é o problema das políticas de redistribuição - também há estudos que indicam que a percentagem que os trabalhadores recebem relativamente à riqueza produzida tem vindo a diminuir.
E cada vez maior é o problema dos horários de trabalho escravizantes e da perspectiva de reformas indignas (como não serão as dos seus legisladores, do mentor do estudo, de pessoas desta "casta", que acautelaram mui condignamente, com largos cabedais, o seu futuro).

A sustentabilidade do sistema de repartição é uma questão mais política do que económica, financeira ou demográfica. 
Há sempre produção de riqueza e haverá sempre opções a tomar sobre a forma como distribuir essa riqueza.


Estão todos doidos!

Em clima pré-eleitoral - um clima mais frequente do que as próprias eleições - e já no último ano da legislatura (não desvendaram mais cedo?), a direita descobriu um filão que colhe junto das ideias feitas: os tachos, tachinhos...
Como dizia Beckett, "os moralistas são pessoas que coçam onde os outros têm comichão."

Foi recordado - por ironia, a partir de uma fonte insuspeita, O Independente de Paulo Portas - que em tempos idos de governos de centro-direita também os familiares de ministros enxameavam os ditos governos. Mas o que lá vai, lá vai... o pessoal foca-se no presente e segue em frente.

E no presente, por possível interferência do tal clima - talvez por influência do aquecimento global (e mental) - as amêndoas são piores do que o cimento.
O Presidente também ajuda à festa e prepara legislação (sabendo e reconhecendo que não é da sua competência, mas é para ajudar e para precaver o futuro...).


E estes delírios são maus conselheiros.
Tudo se quer legislar. Mesmo onde, mais do que questões legais, se colocam questões éticas. Parece-me...
As decisões tomadas a quente, muitas vezes, revelam-se inadequadas.
Voltando a Beckett, "a virtude absoluta mata o ser humano com tanta segurança como o vício absoluto, pela letargia e pomposidade que provocam".

No actual sistema, em que o poder financeiro se sobrepõe ao político, considero mais preocupante os "tachos" e "tachinhos" dos ex-ministros que saltam para as grandes empresas que beneficiam (será impressão minha?) de legislações/decisões políticas.
Contem-se estes casos. Devem ser mais do que os familiares no Governo.

Sobre este tema, escreveu José Pacheco Pereira (Público, 30 de Março):
«A obsessão populista com os “políticos” esquece que a maioria deles não tem qualquer poder significativo e, ao concentrar-se neles, ajuda a permanecer discretos os verdadeiros poderosos. E esses continuam a “mandar” em Portugal. E não estou a falar do DDT mais conhecido, mas no “círculo de confiança” que dos negócios à advocacia, aos lóbis, às empresas, aos think tanks e fundações subsidiados, controlam tudo o que é importante na decisão económica, social e política em Portugal. Há um “círculo” parecido na cultura e nos media, com relações próximas com o que referi antes, mas esse fica para outra altura.

Esse “círculo de confiança” é informal, mas controla escolhas de pessoas, ou nomeando-as para lugares estratégicos ou vetando-as, talvez o mais importante poder que tem, e acumula uma enorme quantidade de informação, pura e dura, sem distracções, que lhe vem da circulação dos seus membros pelos lugares de poder, quer políticos, quer nos conselhos de administração, quer nas comissões de remuneração, quer na pseudo-governance nas empresas, quer nos escritórios de advogados de negócios – sempre os mesmos a serem contratados pelo Estado ou contra o Estado –, quer nas empresas de auditoria ou de consultadoria financeira, nos grandes bancos, no Banco de Portugal, nos clubes desportivos, nas ligações obscuras na União Europeia, etc., etc. Essas é que são as “famílias” perigosas e também estão no governo, como de costume nas áreas mais sensíveis.

Comparado com isto, as “famílias” governamentais e partidárias são chicken feed, excelente expressão inglesa para designar “uma pequena quantidade de alguma coisa”. Não é que não sejam um sintoma, só que não são um sintoma daquilo que se lhes aponta. São um sintoma de um outro problema da democracia, o encolhimento da oligarquia partidária à medida que, cada vez mais, nos grandes partidos, PS e PSD, se implantam carreiras profissionalizadas, desde as “jotas” ao partido adulto, com gente que não tem qualquer experiência das dificuldades da vida a não ser in vitro dentro dos partidos. E é natural que a endogamia cresça, como acontece em todos os grupos que encolhem ou são muito fechados.»


Taiguara - Terra das palmeiras



Esta canção é do disco Imyra, Tayra, Ipy, de Taiguara, músico de origem uruguaia que viveu no Brasil.
Imyra, Tayra, Ipy é um disco com uma história muito atribulada, a qual teve início quando da sua edição, em 1976.
O seu compositor já tinha um historial de perseguição pela censura brasileira. Tinha regressado, pouco tempo antes, do exílio em Inglaterra. Algumas canções que integram o álbum, como Terra das palmeiras, fizeram a censura actuar.
O disco foi proibido e banido das lojas apenas 72 horas após ter sido lançado. 

Ainda bem que o Brasil não teve ditadura militar!...

Como dizem os versos de Outra Cena (uma outra canção do disco):
A grana o gado o ladrão
O pau o podre o país
Amado o medo a matriz
Só não sofreu
Quem não viu
Não entendeu
Quem não quis


Íntima fracção

À memória de Francisco Amaral.

A música que iniciava o Íntima Fracção, num tempo de boas músicas... há já umas décadas.

«Sempre pouco para dizer, muito para escutar, tudo para sentir.»



sexta-feira, 12 de abril de 2019

Robert Delaunay





Quando deflagrou a I Guerra Mundial, Robert e Sónia Delaunay encontravam-se de férias em Espanha. Decidiram fixar-se em Madrid, mas, no Verão de 1915, vieram para Lisboa, à procura de um clima mais ameno. 
Por possível sugestão de Eduardo Viana, alugaram uma casa em Vila do Conde, juntando-se-lhes outros artistas estrangeiros amigos e o próprio Eduardo Viana. 


Fotos encontradas aqui

A luz e as cores fascinaram Robert, contribuindo para as suas teorizações e experiência de novas técnicas. «(...) des contrastes violents de tâches colorées (...) des costumes populaires d'une richesse de couleur rare. Toutes ces rondeurs éclatantes brisées par les noirs profonds et les blancs étincelants des costumes masculins qui apportent de la gravité, des angles dans cette mer mouvante de couleurs répandus.»

Com eles contactaram outros portugueses, como Amadeo Souza-Cardoso e Almada Negreiros.
Em 1917, os Delaunay regressaram a Espanha, já depois de terem vivido os últimos tempos em Valença do Minho e após uma rocambolesca acusação de espionagem (que poderá ficar para uma próxima história...).

Robert Delaunay nasceu a 12 de Abril de 1885.


Cidades, vilas, aldeias, lugares


«Portugal. Começámos por procurar um país com o desejo de o representar. Construímos um corpo de informação que reúne mais de 30 anos de viagens, 750.000 quilómetros percorridos, mais de 1.650.000 fotografias. São todas as cidades, todas as vilas, inúmeras aldeias e paisagens pouco povoadas, da orla marítima, das margens dos rios ao topo das montanhas. Encontramos em Portugal um território de uma grande diversidade, com diferentes modos de expressar a terra, desde tempos imemoriais até ao presente. As formas de mostrar este trabalho são um desafio constante e esta exposição enquadra mais uma tentativa, sempre mais completa, eventualmente mais complexa, que a anterior.»
Duarte Belo

Exposição Fuga. Ar.Co. Lisboa. 2019

«A exposição FUGA - Fazeres de Unidade para a Génese de um Atlas é um conjunto de fotografias, textos, desenhos, mapas e outros elementos gráficos, sobre o processo de mapeamento fotográfico do território. É a descrição extensiva de um caminhar que vai da terra, do demorado contacto com o solo, à palavra. É a geografia de uma construção.»
Duarte Belo



quinta-feira, 11 de abril de 2019

Buracos negros






Bem perto de nós...
(não é preciso fotografar o que está tão longe)


quarta-feira, 10 de abril de 2019

Pornografia!

Uma questão de castas.


São gestores topo de gama!

É o seu trabalho árduo que faz avançar as empresas, a economia, o país, a comunidade europeia, a civilização ocidental...

(e muitos devem ser das mesmas famílias, o que é politicamente incorrecto 
segundo os cânones das últimas semanas)


Os anos da avó

10 de Abril
Era o dia do aniversário da minha avó Alda.



segunda-feira, 8 de abril de 2019

Jacques Brel



Jacques Brel faria hoje 90 anos.


Alfarrabista centenário



Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
é gérmen que faz a palma
É chuva que faz o mar.
Castro Alves




Ao contrário do que o título (e a lógica da vida com os anos contados) possa fazer pensar, é mesmo o alfarrabista - o homem e não a loja - que faz 100 anos.

Li no Público (e as televisões também devem ter lido - hoje, lembraram-se de livros!): João Rodrigues Pires cumpre hoje o seu centenário, trabalhando ainda na sua loja, O Mundo do Livro.

1970

O Mundo do Livro, na esquina do Largo da Trindade com a Rua da Misericórdia, desde 1951, fica numa zona em que o grande número de alfarrabistas antes existentes tem vindo a diminuir drasticamente, em resultado da lei do arrendamento e dos interesses imobiliários numa Lisboa que, a continuar assim, será visitada, no futuro, por turistas que vêm ver os outros turistas, porque indígenas não haverá, pela certa!

Antes de O Mundo do Livro, de que muito se orgulha, João Rodrigues Pires trabalhou para o livreiro Sá da Costa (foi o primeiro empregado da Sá da Costa na livraria do Chiado, hoje, também, espaço de um alfarrabista).

Parabéns João Rodrigues Pires!