domingo, 14 de abril de 2019

Estão todos doidos!

Em clima pré-eleitoral - um clima mais frequente do que as próprias eleições - e já no último ano da legislatura (não desvendaram mais cedo?), a direita descobriu um filão que colhe junto das ideias feitas: os tachos, tachinhos...
Como dizia Beckett, "os moralistas são pessoas que coçam onde os outros têm comichão."

Foi recordado - por ironia, a partir de uma fonte insuspeita, O Independente de Paulo Portas - que em tempos idos de governos de centro-direita também os familiares de ministros enxameavam os ditos governos. Mas o que lá vai, lá vai... o pessoal foca-se no presente e segue em frente.

E no presente, por possível interferência do tal clima - talvez por influência do aquecimento global (e mental) - as amêndoas são piores do que o cimento.
O Presidente também ajuda à festa e prepara legislação (sabendo e reconhecendo que não é da sua competência, mas é para ajudar e para precaver o futuro...).


E estes delírios são maus conselheiros.
Tudo se quer legislar. Mesmo onde, mais do que questões legais, se colocam questões éticas. Parece-me...
As decisões tomadas a quente, muitas vezes, revelam-se inadequadas.
Voltando a Beckett, "a virtude absoluta mata o ser humano com tanta segurança como o vício absoluto, pela letargia e pomposidade que provocam".

No actual sistema, em que o poder financeiro se sobrepõe ao político, considero mais preocupante os "tachos" e "tachinhos" dos ex-ministros que saltam para as grandes empresas que beneficiam (será impressão minha?) de legislações/decisões políticas.
Contem-se estes casos. Devem ser mais do que os familiares no Governo.

Sobre este tema, escreveu José Pacheco Pereira (Público, 30 de Março):
«A obsessão populista com os “políticos” esquece que a maioria deles não tem qualquer poder significativo e, ao concentrar-se neles, ajuda a permanecer discretos os verdadeiros poderosos. E esses continuam a “mandar” em Portugal. E não estou a falar do DDT mais conhecido, mas no “círculo de confiança” que dos negócios à advocacia, aos lóbis, às empresas, aos think tanks e fundações subsidiados, controlam tudo o que é importante na decisão económica, social e política em Portugal. Há um “círculo” parecido na cultura e nos media, com relações próximas com o que referi antes, mas esse fica para outra altura.

Esse “círculo de confiança” é informal, mas controla escolhas de pessoas, ou nomeando-as para lugares estratégicos ou vetando-as, talvez o mais importante poder que tem, e acumula uma enorme quantidade de informação, pura e dura, sem distracções, que lhe vem da circulação dos seus membros pelos lugares de poder, quer políticos, quer nos conselhos de administração, quer nas comissões de remuneração, quer na pseudo-governance nas empresas, quer nos escritórios de advogados de negócios – sempre os mesmos a serem contratados pelo Estado ou contra o Estado –, quer nas empresas de auditoria ou de consultadoria financeira, nos grandes bancos, no Banco de Portugal, nos clubes desportivos, nas ligações obscuras na União Europeia, etc., etc. Essas é que são as “famílias” perigosas e também estão no governo, como de costume nas áreas mais sensíveis.

Comparado com isto, as “famílias” governamentais e partidárias são chicken feed, excelente expressão inglesa para designar “uma pequena quantidade de alguma coisa”. Não é que não sejam um sintoma, só que não são um sintoma daquilo que se lhes aponta. São um sintoma de um outro problema da democracia, o encolhimento da oligarquia partidária à medida que, cada vez mais, nos grandes partidos, PS e PSD, se implantam carreiras profissionalizadas, desde as “jotas” ao partido adulto, com gente que não tem qualquer experiência das dificuldades da vida a não ser in vitro dentro dos partidos. E é natural que a endogamia cresça, como acontece em todos os grupos que encolhem ou são muito fechados.»


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