domingo, 29 de outubro de 2017

Marcelo Rebelo de Sousa põe em risco a nossa independência!!!

Não sabemos qual foi a forma de contacto com o rei Filipe IV - o jornal diz que foi de "viva voz", mas Filipe IV já está tão morto que terá sido numa sessão à volta de uma mesa pé de galo!
O Público online dava conta da posição do Presidente da República em relação à "unidade do Estado espanhol".
Marcelo Rebelo de Sousa, sendo favorável à manutenção dessa unidade, não apoia os Conjurados na luta pela independência de Portugal, o que não deixa de causar surpresa e põe o seu lugar em risco!
Filipe IV de Espanha, portanto, Filipe III de Portugal, pode estar descansado por esse lado. Não é por Marcelo que a União Ibérica está em causa e que existirá um 1.º de Dezembro!



sábado, 28 de outubro de 2017

Os gigantes de 1867 por Eugénio de Andrade (3) - Camilo Pessanha

«(...) creio que só a Camilo Pessanha amei em segredo como mestre.»



«(...) ele coara de todo o sarro as poéticas fin-de-siècle, que eram as do seu tempo, o que nem Pessoa nem Sá-Carneiro haviam conseguido, relativamente ao tempo deles, com tal perfeição. Mas a sedução maior daquela alquimia estava na sua magistral capacidade de sugerir, de insinuar, de não concluir o que fora começado a dizer, como se dizer não fora para Pessanha o que mais importava. Era a indecisão tornada matéria de poesia, criando-se com esta reticência, uma hesitação entre pensar e sentir. Nunca no corpo do poema o rigor se aproximara tanto do abandono, como se nenhuma elaboração preexistisse àquela trama de misteriosa transparência, como se as palavras desde sempre estivessem apenas destinadas ao ritmo daquela "água morrente", o que eu já sabia ser impossível.»

Eugénio de Andrade, Os afluentes do silêncio


Os gigantes de 1867 por Eugénio de Andrade (2) - António Nobre

«Uma ou outra vez a voz insinuante de António Nobre me seduziu: foi quando descobri o singular ritmo dos seus versos - o ritmo de quem embala ao peito as próprias mágoas, que teimam em não adormecer.
Se à sua visão falta fundura, a melodia nela sobe, sobe, sem hesitações, e diz o que tem a dizer com uma comovida e dificílima naturalidade.»



«Como não reconhecer em António Nobre um mestre, um mestre da sensibilidade portuguesa?»


Eugénio de Andrade, Os afluentes do silêncio


Os gigantes de 1867 por Eugénio de Andrade (1) - Raul Brandão

«Era um poeta - às palavras estava condenado, mas só elas o poderiam salvar. Só nas palavras a treva do seu ser abria para a luz. E não era a luz toda a ternura do mundo? Por isso se lhes abandonava, com uma confiança que nunca dera à vida. Quando, oh quando poderia regressar ao azul limpo dos seus olhos, sem tropeçar na angústia mais viva? Que voz o poderia reconduzir aos dias em que a consciência de existir não era ainda consciência de ser uma só e paciente espera da morte? Contra a morte só tinha palavras - as que lhe subiam à boca. Na "noite velha" cantava. Cantava para sua mãe que, debaixo da terra, talvez o ouvisse ainda; cantava para o Nel, que depois de tantos anos ainda o via subir às figueiras, aos figos lampos, para lhe dar; cantava para aquela velhinha que lenta, lentamente, subia a ladeira apoiada numa bengala. Cantava para a transparência do mundo.»

Eugénio de Andrade, Os afluentes do silêncio



Gigantes

«1867, Um Ano de Gigantes» foi o título de um congresso organizado, esta semana, pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias - CLEPUL (da Faculdade de Letras de Lisboa), que assinalou os 150 anos do nascimento de três nomes grandes da literatura portuguesa: Raul Brandão, António Nobre e Camilo Pessanha, por ordem cronológica.

Vivendo na mesma época, foram três personalidades bem distintas que construíram, cada um per se, uma obra original e precursora, que reflecte os respectivos universos particulares.

«Os seus percursos autorais configuram importantíssimas respostas a um momento de confluências e transições, que passam pela receção crítica da cultura portuguesa em sentidos convergentes e distintos dos ensaiados ao longo do século XIX, em particular pela Geração de 70, pela imagem que deles foi feita por parte dos mais representativos escritores das primeiras décadas do século XX, e pela renovação que deram aos géneros e formas consagrados, antecipando em muitos aspetos o que de mais moderno e singular se produziria ao longo de Novecentos.» 
(do programa do congresso)


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Complexidade político-social

Greve da Função Pública



À oposição agrada a realização da greve - é uma acção contra a política do Governo (uma jornalista da Antena 1 dizia "é a primeira greve contra António Costa"!) e mais um factor de desgaste.

À oposição não agrada a política do Governo de reposição de direitos e regalias dos funcionários públicos. Portanto, não lhe deverá agradar o sucesso da greve.

A oposição está pelo Governo ou pelos funcionários públicos?
Abstém-se, porque pensa que tudo é mau?

1 X 2 - jogo de tripla?


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Júlio Resende - No cavalete, um espaço num desafio


«No cavalete, um espaço num desafio. Os pincéis estão ao alcance da mão. O homem subsistirá numa progressiva ascensão enquanto existir a arte como imagem do espírito, como paradigma da fraternidade universal e sinal de transformação...»
Júlio Resende





Casa-atelier Júlio Resende, local de vida e de trabalho do pintor entre os anos 1962 a 2011 (Gramido, Valbom - Gondomar).


Júlio Resende - centenário do nascimento



«Nasci a 23 de Outubro na Trav. de Sá de Noronha, número 14, na cidade do Porto. Era o segundo filho de um casal curioso. Meu pai, de nome Manuel Martins Dias, era um pequeno comerciante de fazendas e camisaria, com estabelecimento aberto nos baixos do prédio. Passara de caixeiro esforçado e diligente, tempos atrás, à sua independência, talvez sonhada… O estabelecimento dispunha de uma montra e duas portas. Não era, decididamente, dotado de perspicácia e sorte para o comércio.
Minha mãe, Emília Resende da Silva Dias, por seu lado, era o que poderá dizer-se uma mulher singular. Incrível que pareça, recebera de meu próprio pai, em menina, as primeiras noções de música. Entre ambos havia uma notória diferença de idade.»
Júlio Resende, Autobiografia



domingo, 22 de outubro de 2017

Impressionante!...


Não estamos habituados a estes níveis em modalidades técnicas.
Digo eu (pode ser ignorância!)


E a mulher teve sorte!...

Cometido o adultério, podia ter sido lapidada, punida de acordo com a lei bíblica, morta ao abrigo do Código Penal de 1866... 


Excerto do acórdão da Relação do Porto:





A propósito de reformas florestais, incêndios, ataques políticos...

... tudo em literatura!

«Meteu a passo, primeiro, depois onde o caminho era recto e areado a galope. À desbanda de Urrô, dentro do Perímetro, entrou por um atalho e suspendeu-se numa clareira. Apeou-se e prendeu a égua. Ajuntou mato, carquejas, ramos secos, que havia por um lado e outro em pleno bastio. Acendeu um fósforo, viu as primeiras flamechas, voltou a cavalgar, e toca rumo ao Norte. Repetiu a cena em Azenha. Tomou em seguida o caminho da floresta e, inflectindo a Rebolide, acendeu nova fogueira. Depois, por ali fora, pôs-se a contornar o Perímetro. Em Valadim das Cabras, olhando dum alto, lobrigou na noite o clarão dos incêndios. Exultou. A atmosfera enrubescia. (...) Cavalgou de novo e repetiu a façanha sucessivamente em Ponte do Junco e Favais Queimados. Nas vizinhanças de Almofaça apercebeu-se de um alarido crescente, em catadupa. Eram os socorros que partiam exaustinados, sem objectivo certo, para Cheleira do Negro e Fusos do Bispo. Esgueirou-se para dentro do pinhal, lá longe, onde a égua punha um vulto confuso ou se desvanecia nas sombras da noite. Assim que passaram, voltaram à sua rota.
Seriam quatro horas da manhã e o setestrelo já virara no céu. Faltava-lhe Bonfim das Pegas e torceu para lá de rédea solta por uma ensarilhada de caminhos que tivera de estudar e conhecia como as palmas das mãos. Arrebanhou como das outras vezes carqueja, giestas secas, caruma e sargaços, e acendeu o morouço de mato a meio do bastio. Quando viu os pinheirinhos a estoirar e arder como archotes, toca mais adiante!
Nas vizinhanças de Portela do Beltrão, a três quilómetros de Arcabuzais, a selva crescera tanto que lhe dava muito por cima da cabeça. O tojo era alto e ressequira no pé. E nem se deu ao cuidade de amontoar a lenha. Pegou o fogo a uma tojeira e dali a pouco a chama difusa corria a toda a frente, alterosa ou baixa, tocada pelo vento. (...)
Fechou-se em casa magicando, inundado de mais regozijo e tumulto que um bando de pássaros ao respigo de uma cerejeira. Quantas léguas percorrera naquelas seis horas? Umas vezes a trote, outras a galope, devia ter cursado adentro do Perímetro um dédalo de veredas que somaria mais de trinta quilómetros. A horas de sair dos gados, depois de comer e beber do surrão, foi ter com o rendeiro da sua horta. Regateou com ele, ajustou, beberam o alvaroque. Chegou um passageiro que falou do incêndio que lavrava de lés a lés da floresta. Se lhe não acudissem, era a ruína total duma obra custosa de alguns anos e muito dinheiro. Mas os Serviços abstiveram-se de pedir socorro às aldeias, supondo-as conjuradas na malfeitoria. Apelaram, sim, para quantos bombeiros havia em vilas e cidades, desde a Guarda a Vila Real. À noitinha, a serra dos Milhafres era um pavoroso mar de chamas. O calor sufocava. Já os primeiros rescaldos, empestando a atmosfera, exalavam um hausto envenenado, que era molesto respirar.»
Aquilino Ribeiro, Quando os lobos uivam

Arborização de baldios (sem data)
Imagem de Floresta Portuguesa - imagens de tempos idos,
da colecção Árvores e Florestas de Portugal (Público)

Neste romance de Aquilino Ribeiro, acabado de escrever em 1958, os beirões, perante o Plano de Povoamento Florestal da ditadura do Estado Novo (iniciado em finais da década de 1930), fazem a defesa dos terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados pela comunidade de forma a deles retirar parte vital do seu sustento e de que então seriam "expropriados".
A revolta popular acontece, mas a reacção policial também e as consequentes prisões.
O velho Teotónio vinga-se provocando os incêndios.
Trabalhos de arborização na serra do Marão (sem data)
Imagem da mesma fonte

O livro, "um romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política", foi censurado.

«É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não seria autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.»

Relatório dos serviços de censura (Fevereiro de 1959)

Com base no relatório, não foi autorizada a reedição, não foram permitidas críticas na imprensa e foi dada ordem de apreensão dos exemplares que ainda existiriam.
A obra valeu um processo criminal a Aquilino Ribeiro, por "desacreditar as instituições vigentes".


Oportunidades... (que nos deixam a pensar)





«Quatro meses depois dos incêndios de Pedrógão, rebentam eucaliptos, fenos e silvas. Operários e camionistas cortam e carregam árvores. A maioria dos imóveis atingidas continuam destruídos. População está ainda mais isolada.

O silêncio é o mesmo, a tristeza nos olhos das pessoas também. A diferença é que, agora, se ouve o barulho das motosserras e camiões com árvores queimadas por todo o lado. Veem-se eucaliptos novos com mais de um metro de altura, fetos e silvas verdejantes. Assim vivem as populações de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, atingidos pelas chamas há quatro meses, num interior desertificado agora ainda mais isolado.

A força com que rebenta a vegetação é a primeira estranheza quando se chega às aldeias e lugares daqueles três concelhos. Mas quem percebe da floresta e ali vive sabe que os eucaliptos se reproduzem automaticamente, agora é podar e deixar o ramo mais forte crescer e transformar-se em árvore, seis anos para atingir 25 metros. No pinhal florescem fetos, nada sai das raízes cujos troncos as chamas atingiram. Precisam de ser colocadas sementes para nascer um pinheiro, que leva 20 anos para ter cinco metros. As silvas são outro elemento verde naquela floresta de paus queimados.

A grande atividade local é a dos madeireiros. "É cortar por todo o lado e os pinheiros são praticamente dados", reclama Maria Graciete Henriques, 76 anos, de Vila Facaia. Pagaram-lhe 1250 euros por dez pinhais, madeira que se não fosse os incêndios valia o triplo, garante. A prima, Hermínia Rosário, 68 anos, tem as mesmas queixas. "Deram-me 500 euros e tive de mostrar quatro propriedades, algumas com carvalhos, só cortam o que tem valor. O argumento é que ardeu e está seco, que o pinheiro queimado ganha doença ( fica azul) se não for cortado." Pinheiros que "valiam 50 euros e agora nem 20". Estes relatos multiplicam-se entre os agricultores obrigados a vender barato. "Isso ou nada", dizem.»
DN, 22 de Outubro de 2017

Um novo paradigma para o interior de Portugal...


domingo, 15 de outubro de 2017

Agustina, 95 anos

«Não sei escrever assim, por conselho, e prévio repouso do espírito. Prefiro divagar de maneira assombrada, como os fantasmas ingleses, com a cabeça debaixo do braço. Isto é: sem cátedra e sem importância.»
Agustina Bessa-Luís, Crónica da Manhã


Um senhor de matosinhos


andava eu no liceu: no salão nobre
dos paços do concelho em matosinhos,
um professor, o óscar lopes, vinha

mostrar à noite que a literatura
importa a toda a dignidade humana.
(...)
Vasco Graça Moura 


Óscar Lopes nasceu a 2 de Outubro de 1917, em Leça da Palmeira (Matosinhos).



Mas que calor! Parece que estamos em pleno Verão...

O calor era muito na parte inicial de A Estrela Misteriosa...


Apareceu uma estrela a mais na Ursa Maior - os pneus estouram com o calor, os ratos fogem dos esgotos, o asfalto derrete...
Anuncia-se um fim do mundo que, afinal, não chega a acontecer.
«A estação polar do Cabo Morris (costa norte da Groenlândia) anuncia que um aerólito caiu no Oceano Árctico. Pescadores de focas viram uma bola de fogo cruzar o céu e desaparecer no horizonte. Logo depois a terra tremeu e o gelo deslocou-se...»

Uma expedição científica, composta dos mais eminentes sábios europeus, parte para uma expedição com o objectivo de descobrir o aerólito que caiu no Árctico. No aerólito foi detectada a presença de um novo metal - o calisténio! Da expedição faz parte o professor Pedro João dos Santos, “célebre físico da Universidade de Coimbra” - um dos portugueses das aventuras de Tintim.


A Estrela Misteriosa foi escrita em 1941.



Hoje temos tempestades, como o Ophelia, incêndios e "outras tempestades" levantadas pelos homens.
Mas o fim do mundo ainda não aconteceu... e amanhã anuncia-se o outono: temperaturas mais baixas e chuva.