sábado, 28 de outubro de 2017

Os gigantes de 1867 por Eugénio de Andrade (3) - Camilo Pessanha

«(...) creio que só a Camilo Pessanha amei em segredo como mestre.»



«(...) ele coara de todo o sarro as poéticas fin-de-siècle, que eram as do seu tempo, o que nem Pessoa nem Sá-Carneiro haviam conseguido, relativamente ao tempo deles, com tal perfeição. Mas a sedução maior daquela alquimia estava na sua magistral capacidade de sugerir, de insinuar, de não concluir o que fora começado a dizer, como se dizer não fora para Pessanha o que mais importava. Era a indecisão tornada matéria de poesia, criando-se com esta reticência, uma hesitação entre pensar e sentir. Nunca no corpo do poema o rigor se aproximara tanto do abandono, como se nenhuma elaboração preexistisse àquela trama de misteriosa transparência, como se as palavras desde sempre estivessem apenas destinadas ao ritmo daquela "água morrente", o que eu já sabia ser impossível.»

Eugénio de Andrade, Os afluentes do silêncio


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