segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Hugo, deixei passar o 25...


... mas ponho aqui esta gente para te saudar!


Um abraço GRANDE!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Revisão Curricular - Do eduquês ao economês

A revisão curricular tem um objectivo declarado: melhorar a qualidade do ensino, para termos alunos com um melhor desempenho escolar, portanto, mais bem preparados.

A revisão curricular tem um objectivo não declarado, mais importante para o Governo do que o anterior: reduzir ao máximo os custos com os professores, através da redução do número de horas de aulas para os alunos e do desaparecimento dos pares pedagógicos, para permitir o corte nas despesas públicas com a Educação – estão previstas “poupanças em despesas com pessoal na ordem dos 100 milhões de euros”.

Como estratégia para se conseguir esses objectivos é apontada a redução da dispersão curricular. O reforço de horas já este ano lectivo em Língua Portuguesa e Matemática anteciparam esta revisão.

Hierarquicamente existirão disciplinas estruturantes (Língua portuguesa e Matemática) e disciplinas essenciais (serão todas as restantes?), com conhecimentos fundamentais e conteúdos centrais.

Assiste-se a um back to the basics e aguarda-se a definição de metas de aprendizagem disciplinares e a posterior reformulação dos programas, esperando-se que sirvam no modelo (re)criado.

A nível dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico assiste-se à redução do número de horas lectivas (menos 3 tempos nos 5.º e 6.º anos, 1 tempo no 8.º ano e 4 tempos no 9.º ano). Poder-se-ão acrescentar as facultativas horas de Apoio ao Estudo, mas só no 2.º Ciclo, não tendo ficado definido como se irá processar o que se apresenta como oferta diária de apoio.
O obrigatório Estudo Acompanhado, como se esperava, segue o caminho da já extinta Área de Projecto e desaparece do currículo do 2.º Ciclo, a exemplo do que já tinha acontecido no 3.º Ciclo. Seriam rostos visíveis do eduquês rejeitado pelo ministro. A substituição de Estudo Acompanhado pelo Apoio ao Estudo também se justificará pelo desaparecimento da leccionação por par pedagógico, dando lugar a um Apoio que deverá incidir na componente não lectiva de um só professor. Logo, menos despesas.

Formação Cívica também desaparece. Concordo que o que podemos chamar Formação Cívica é transversal a todas as disciplinas, mas este tempo é geralmente aproveitado pelos Directores de Turma para estar/trabalhar com os alunos das suas turmas problemas específicos destas e não tem alternativa no novo esquema curricular. Os Directores de Turma irão tirar tempo das suas disciplinas para tratar de questões relacionadas com o seu trabalho na direcção de turma. E os alunos irão perder.

O Inglês como disciplina obrigatória ao longo de um mínimo de 5 anos já é uma realidade.

No 2.º Ciclo, Educação Visual e Tecnológica será dividida em duas disciplinas: Educação Visual e Educação Tecnológica. Parece o regresso à antiga divisão entre Educação Visual (Desenho) e Trabalhos Manuais, mas agora com menos tempos lectivos. A “união” destas disciplinas, iniciada com a reforma de Roberto Carneiro (com perda de um tempo lectivo), permaneceu com a reforma de 2001 (com a perda de outro tempo). A formação de professores nos últimos anos visava a simbiose das duas áreas. E agora? Como se separam os professores? O mesmo grupo disciplinar fornece professores para as duas disciplinas? Mas fará sentido a divisão? Também não é pormenor o desaparecimento do par pedagógico em disciplinas de carácter tão prático, com alunos tão novos e manuseando alguns materiais/equipamentos que requerem cuidados especiais.

Sentido parece-me fazer a antecipação das TIC para o 2.º Ciclo, embora falte saber quais as orientações para a sua leccionação – não poderão ser iguais àquelas que são seguidas actualmente para o 9.º ano.

No 3.º Ciclo há um reforço em áreas que, de facto, estão carenciadas desse reforço: as ciências experimentais e as ciências humanas e sociais.
Mas, para além da perda de Formação Cívica, o 3.º Ciclo fica mais pobre com o desaparecimento da Oferta de Escola no 9.º ano e com o desaparecimento das TIC. Perdem (outra vez) as áreas das artes e das tecnologias (não serão essenciais, com conhecimentos fundamentais e conteúdos centrais?).
Não deveria haver neste ciclo uma área correspondente à Área de Projecto, em que os alunos pusessem em prática o desenvolvimento de projectos com aplicação de conhecimentos e competências oriundas das diferentes áreas? Voltamos ao espartilhamento dos saberes, concentrados em disciplinas clássicas e menos “abertas”.

Como responderão as escolas básicas (2.º e 3.º Ciclos) às múltiplas propostas que lhes chegam (muitas vezes de estruturas do próprio ministério) para o desenvolvimento de projectos em áreas como a saúde, o ambiente, os direitos humanos, o património, a intervenção cívica, etc. quando a organização curricular se fecha “em gavetas” e há cada vez menos horas da componente não lectiva para o desenvolvimento de projectos, motivado pela sobrecarga lectiva (menor número de horas de redução dos professores que se encontram no activo)?

As associações representativas das várias áreas disciplinares (Língua Portuguesa / Matemática / História / Geografia, são as que conheço) mostram alguma satisfação porque as suas disciplinas ganharam horas. As organizações das áreas das artes ou não existem ou não terão tanto peso e saem a perder. Os Estudos Acompanhados, Áreas de Projecto e Formações Cívicas não têm associações que as protejam e o olhar corporativo muito característico dos portugueses só se dirigiu para as “capelas” que directamente superintendem (Salazar pode estar descansado: o corporativismo está bem de saúde em todos os sectores da sociedade!).

Sem contestar a necessidade de não dispersar esforços/horas por muitas disciplinas (isso é sensível no 3.º Ciclo), a verdade é que regressamos a um modelo curricular anterior a 1992, numa altura em que as escolas perdem disponibilidade – autonomia – para o desenvolvimento de outros projectos. E os tempos não estão para a velha “carolice” de uns quantos professores!
Por isso me parece um regresso a um tempo ainda anterior (o de Veiga Simão, 1968), a reforma que experimentei no Preparatório e no Curso Geral dos Liceus (só espero que não lhe acrescentem as actividades obrigatórias da Mocidade Portuguesa!).

Com este back to the basics, sem que as escolas tenham grandes possibilidades de apresentar actividades de enriquecimento curricular, perdem os alunos e perdemos todos nós.

Só ganha o combate ao défice. Esse é o objectivo que poderá ser alcançado e que é mensurável (é só dar tempo à aplicação plena da nova estrutura curricular – 3 anos).
Melhorar a qualidade do ensino é um objectivo mais... subjectivo. Todos os ministros que passam pelo Ministério da Educação afirmam que as suas medidas têm contribuído para a melhoria da qualidade do ensino. Com os resultados que temos visto!...


P.S. – O Nuno Crato não terá explicado ao Vítor Gaspar que os efeitos da revisão curricular só se sentirão em pleno daqui a 3 anos, quando estiver a ser aplicada a todos os anos de escolaridade?



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Olha que dois!...

Imagem roubada ao We have kaos in the garden.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O ano do Dragão

Segundo a astrologia chinesa, hoje tem início o ano do Dragão.
Terminou o ano do Coelho. Fraquinho! Nem durou 365 dias (iniciou-se a 2 de Fevereiro).

O Dragão simboliza a figura do imperador, estando associado à riqueza, felicidade e boa sorte.
Não admira que o Dragão seja considerado o mais forte e poderoso dos signos (será por isso que se prolonga por mais de 365 dias? Vai até 9 de Fevereiro de 2013).

Mas tudo o que é de bom deve ser só para os chineses. Nós continuamos com o Coelho!!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Troco


Quem foi que prescindiu do ordenado de Presidente da República em favor das pensões, tornando-se voluntário no cargo, por não poder acumular?
O motivo não foi o valor mais elevado das pensões?

Já não precisarei de ir a nado?


Não se verificaram (pelo menos por enquanto) os cortes falados para as carreiras fluviais.


Os "chefes" actuam sobre a nossa psique: os estudos criam perspectivas negras, o pessoal começa a ver a vida a andar para trás (ou a estar parada, devido à falta de transportes) e depois vêm os nossos queridos governantes, porque são muito bonzinhos, e deixam-nos andar de transporte público e nós até ficamos muito felizes e agradecidos, mesmo pagando mais.

Só espero que quando nos apanharem mais relaxados, distraídos do assunto, não venham fazer ajustamentos às frequências de serviço nas ligações do Cais do Sodré ao Seixal e ao Montijo, daqueles ajustamentos que nos deixam lixados.


Não será optimismo a mais?

Não estou a falar do que disse o nosso (salvo seja!) ministro das Finanças.

Esta semana a TVI apregoava que o optimismo ajuda ao sucesso:
«É uma notícia positiva em tempos de crise: a ciência provou que ser optimista ajuda, de facto, a ultrapassar momentos complicados e a ter sucesso na vida. Os números são impressionantes: um vendedor optimista, por exemplo, vende mais 40 por cento do que um pessimista.
Pessoas optimistas são mais felizes. Pessoas mais felizes confiam mais. E por cada 15% de acréscimo de confiança entre as pessoas há a subida de um por cento no PIB de um país.»

Mensagem num prédio do Bairro Alto

Não gosto de “calimeros” e a notícia traz uma brisa de optimismo, mas...
Não sei como é que se consegue ter tanta certeza quanto às percentagens das vendas e ao valor da subida do PIB. Estes números têm de ser vistos com cuidado, não basta um economista afirmá-lo. Os economistas são pessoas de muitas certezas quando são comentadores ou estão na oposição, mas enganam-se com a maior das frequências quando estão no Governo e põem a mão na massa (na verdadeira acepção), ajudando o PIB a descer.

E não esqueçamos que, por vezes, algum optimismo disfarça um pessimismo paralelo.

A viragem não será demasiado brusca?



Parece-me uma viragem muito forçada.
Continuo a pensar que, de facto, "vamos dar com os burrinhos na água!"


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Bom conselho


Caetano e Chico, Juntos e ao vivo (1972)

... e bom fim de semana.
(fim de semana é a palavra que eu gosto de escrever à moderna)
 
 

A Maçonaria feminina está viva em Portugal, mas não sei se muito

Reparem nos motivos do serviço
Num trabalho no Público de 19 de Maio de 2007, São José Almeida falava da Maçonaria feminina. Maria Belo, que à data era a grã-mestra (ainda será?), afirmava que havia um crescendo de adesão. As “maçonas” (acho que se pode dizer mesmo assim) eram mais de 300, organizavam-se em grupos até 40 elementos, reuniam-se com uma periodicidade quinzenal desde há 25 anos e constituíam (constituem) a Grande Loja Feminina de Portugal.

Maria Belo, uma das fundadoras
da Grande Loja Feminina de
Portugal, de que é (ou foi) grã-mestra


Mas Maria Belo referia a difícil vida da Maçonaria feminina após o 25 de Abril.
Antes não era difícil, digo eu, porque, ao que julgo saber, a Maçonaria feminina desapareceu perto do final da 1.ª República para só reaparecer na década de 1980.

O que não deixa de me parecer estranho é como a actividade maçónica feminina, tendo sido relevante na caminhada para a República e durante os primeiros anos deste regime, não é digna de referência em vários livros de História, a começar pela História da Franco-Maçonaria em Portugal, de Borges Grainha (1913).
É curioso que este professor, republicano e maçon, foi educado num colégio de Jesuítas (como o actual Ministro dos Negócios Estrangeiros, que se apressou a referir essa sua formação jesuítica para afastar de si hipotéticas suspeitas de ligação com a Maçonaria).
Maçonaria parece ser, fundamentalmente, um assunto de homens (mesmo que com avental) e não tanto de saias.
E os homens querem mesmo as mulheres afastadas. Cada género reúne para seu lado. Nada de misturas.
Faz lembrar a questão feminina na 1.ª República. Muita influência maçónica, muito palavreado pelos direitos das mulheres e, quando se trata do direito de voto, passam pela vergonha de ter sido o regime do Estado Novo a conceder direito de voto às mulheres.

Por isso, Teresa, em relação à tua esperança na Maçonaria, apesar de algumas maçonas (ligadas ao PS, pelo menos) já terem passado pelos órgãos do poder*... segue o bom conselho que te dá o Chico Buarque: “Espere sentada...”

* Apercebi-me que há um bom número de sites dedicados à Maçonaria e a feminina não é esquecida.

Navegante... mas não flutua


Só em Portugal é que um passe chamado Navegante... não dá para os barcos!



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Júlio Dinis, a Morgadinha e a História

Um dos aspectos que pragmaticamente me interessa na Morgadinha é a ajuda a uma melhor compreensão da 2.ª metade do século XIX.

Para além das personagens centrais, mais laboriosamente trabalhadas, temos um conjunto de tipos sociais que ilustram o microcosmos descrito pelo escritor. «Copiava finamente, com um cuidado de miniaturista, as suas figuras, ternas ou joviais, e os planos esbatidos das suas paisagens.» (Eça de Queirós, As Farpas)

O narrador remete-nos para o período da Regeneração e são múltiplas as referências às mudanças sociais que então acontecem no país, mas sobretudo no meio rural.
A vida no campo ganha contornos de uma vida edílica, em oposição à da cidade, onde as mudanças impostas pelo progresso ameaçam corromper moralmente e pôr em risco o bem estar das pessoas. É assim que Henrique de Souselas parte para a província, “esgotado de civilização”.

A viagem é demorada, difícil... A modernização do país através da política fontista, com a construção de estradas e o desenvolvimento dos transportes está presente em vários momentos no romance.
Pelo romance passam representantes do velho clero anti-liberal e velhas beatas fanáticas, povoações facilmente manobradas para se oporem à utilização dos cemitérios como local de enterro e para votarem de acordo com as manobras caciquistas. O oportunismo político, com o desfile de promessas e de favores com intuitos eleitorais, é posto às claras.
A importância atribuída à educação/instrução como meio de progresso é uma afirmação de esperança repetida. E é tão forte que a Morgadinha acaba por casar com o preceptor das crianças, personagem de uma integridade moral inquestionável.

Ilustração de Roque Gameiro para A Morgadinha dos Canaviais (?)*
O final feliz é o melhor sinal da crença na capacidade do Homem para construir um mundo melhor:
Henrique, o elegante do Chiado, está curado, adora Cristina (que adora Henrique) e torna-se um “rico e laborioso proprietário rural” apaixonado pela agricultura. A quinta sob a sua superintendência “é uma das mais rendosas e bem geridas propriedades daqueles sítios”. [ai se o Álvaro sabe!!]
Augusto, o preceptor, vive feliz com Madalena (que vive feliz com Augusto) e, para além de se ocupar da agricultura, “alimenta a imaginação (...) a organizar a escola sob bases mais racionais, e dotação mais fecunda”. [ai se o Nuno Crato sabe!!] E, também, “a generalizar e educar os processos agrícolas, a implantar indústrias novas.”

Ironia...
Sobre o conselheiro, tornado ministro, o autor resume (deliciosamente):
«Estive tentado a dizer, para satisfação de ânimo dos meus leitores, que, sob a direcção dos talentos e aptidões do novo estadista, se locupletou a fazenda pública, prosperou a agricultura e a indústria, refulgiram as artes e as letras; e que Portugal, como a Grécia sob Péricles, causou o assombro das nações do mundo.
Mas receei que, fantasiando no nosso país um governo fecundo e próspero, a inverosimilhança do facto prejudicasse no espírito dos leitores a dos outros episódios narrados, e lhes entrasse com isto a desconfiança no cronista. Resolvi pois ser franco, declarando que, sob a direcção do conselheiro e dos seus colegas, Portugal regeu-se, como se tem regido sob as dúzias de ministérios, que nós todos havemos já conhecido.»

Ou seja, Júlio Dinis pode ser o escritor mais optimista do mundo, exagerar na felicidade romântica das suas personagens, mas, em Portugal, quando se fala de Governos, todos caímos na realidade. Não há optimismo que nos salve da descrença nos governos!!



* Foi assim que encontrei referida esta ilustração. As ilustrações mais conhecidas de Roque Gameiro para obras de Júlio Dinis são as de As pupilas do senhor reitor. Com a visita à casa de Roque Gameiro, queria descobrir que outras ilustrações tinha feito para obras de Júlio Dinis, nomeadamente sobre A Morgadinha dos Canaviais. Não descobri nada. Quem souber mais que diga.

Júlio Dinis e a Morgadinha

Reler alguns livros muitos anos depois da primeira leitura traz as suas surpresas.
À procura da cena da consoada no Mosteiro, repeguei n’A Morgadinha dos Canaviais.

Surpreendi-me com Júlio Dinis, geralmente considerado o elo mais fraco quando comparado com outros nomes do século XIX, como Garrett e Herculano, primeiro, Camilo e Eça, depois. A “concorrência” é de peso! (JD nem sequer figura entre as biografias dos escritores portugueses do Instituto Camões. Os outros 4 acima mencionados lá estão.)
Já o professor José M. Sobral, na Faculdade, nos chamara a atenção da importância de JD para a compreensão de uma certa sociedade rural do país, na 3.º quartel do século XIX.

Na Morgadinha, o desenrolar dos conflitos sentimentais, vai a par com um diálogo informal com o leitor, como Garrett nas Viagens. Quem fez a sua biografia na Wikipédia diz tratar-se do “mais suave e terno romancista português, cronista de afectos puros, paixões simples, prosa limpa.” Oh, quanto romantismo! Verdade, mas a realidade social, com os seus conflitos, não deixa de estar presente e é o fundo do romance.
Há passagens plenas de ironia, mas em que o tom é mais suave ou mais condescendente que o de Eça, menos mordaz, talvez porque lhe esteja subjacente um maior optimismo, a esperança da modernização do país, porque o seu cenário – o mundo circundante que representa – é o do meio rural, numa época de prometedor progresso.

Júlio Dinis morreu muito novo, com apenas 31 anos.
Todos os outros escritores referidos viveram mais anos. Dele, ficou-nos a faltar muito do que poderia ter escrito.

Por ocasião da sua morte, em Setembro de 1871, escreveu Eça de Queirós em As Farpas:
«Tréguas por um instante nesta áspera fuzilaria irónica! Esta página é um parêntese tranquilo e meigo, onde pomos a lembrança de Júlio Dinis. Que as pessoas delicadas se lembrem dele, e se recolham um momento: recordá-lo é aprender a amá-lo; e nós, ainda não sabemos recordá-lo bastante. Tanto é o nosso mal, que este espírito excelente não ficou popular: a nossa memória, fugitiva como a água, só retém aqueles que vivem ruidosamente, com um relevo forte; Júlio Dinis viveu de leve, escreveu de leve, morreu de leve!»

É interessante o texto (ainda extenso) de Eça sobre Júlio Dinis.
Também me surpreendi com ele.

Eugénio de Andrade

Faria hoje 89 anos.


«Escrever não é um processo límpido. A maior parte das vezes tenho a sensação de entrar num labirinto levado por um ritmo, de perseguir qualquer coisa que me foge e amo desesperadamente, e desesperadamente quero possuir, numa luta corpo a corpo, em que o ser se joga inteiro.»
 
Eugénio de Andrade, entrevista a Helena Vaz da Silva, Expresso, 27.05.1978

Que o espólio do poeta, actualmente à responsabilidade da C.M. do Porto, por extinção da Fundação Eugénio de Andrade, seja devidamente preservado.


Eternamente Elis


Elis Regina no Teatro Villaret, Lisboa (1978)

Passam hoje 30 anos sobre a morte de Elis Regina

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Olá, Marta

Sintra, Jun(l)ho de 2001
Não podia deixar passar este dia.
Beijinho




Gustav Leonhardt, mestre cravista


Conceituado cravista e chefe de orquestra, intérprete de referência do século XX, Gustav Leonhardt morreu ontem.

Nascido na Holanda, em 1928, desenvolveu actividade como solista de cravo e órgão desde 1950.
Foi um dos pioneiros da redescoberta e recuperação da música antiga, preconizando e realizando a sua interpretação em instrumentos de época, de acordo com o que seriam os seus estilos e práticas de execução.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Fiéis à nossa matriz

Reproduzo um texto do Sorumbático e um dos comentários a esse texto.
«UMA TERRA em que o ministro da Economia recorreu ao exemplo dos pastéis de nata, como um produto nacional de sucesso, para mostrar que o esforço de internacionalização dos produtos portugueses falhou nas últimas décadas, não é um País é uma anedota pornográfica.
(...)
Estou farto. Estou farto de ouvir quotidianamente as mentiras do Dr. Pedro Passos Coelho; estou farto de ser roubado quotidianamente pelo Professor Vítor Gaspar; estou farto de ser agredido quotidianamente pelo Dr. Álvaro Santos Pereira, que tem muito orgulho em ser Português e não se cansa de dizer baboseiras; estou farto do Dr. Paulo Portas, do Dr. Paulo Macedo, do Dr. Miguel Relvas. Finalizando, estou farto das asneiradas e das baboseiras do Prof. Aníbal Cavaco Silva.»
Antunes Ferreira, http://sorumbatico.blogspot.com/ 14 de Janeiro de 2012

Comentário ao texto:
«Este país é desesperante de tanta estupidez. Se o Gaspar a taxasse não mais haveria défice. Os nossos governantes são de uma visão bacoca e o povo não sabe argumentar porque falta-lhe o básico: capacidade de analisar o mundo em que vive.

Um povo educado para isto mesmo não pode, porque não sabe, abstrair-se da árvore que tem à frente e o impossibilita de a floresta ver.»

Comparem o teor deste comentário ao excerto do Júlio Dinis, aqui reproduzido.
Quase 150 anos não nos separam! Portugal está reconhecível.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Voto de silêncio

Estou de acordo com o Prof. Marcelo:

Eduardo Cartroga devia fazer um estágio junto dos monges cartuxos.



A única vantagem de o(s) ouvir falar é que se vai generalizando a vontade em ver esta gente pelas costas.
 (não estou a falar dos monges cartuxos, claro!)




Muitos tesourinhos deprimentes juntos!

Será que os chineses sabem que, a última vez que se juntaram muitos ex-ministros do PSD... aconteceu o BPN?


Frase:
(para o caso de não se ver bem):
«E pala a EDP não vemos ninguém melhol do que o Catloga, o Blaga de Macedo e a Celeste Caldona.»
 Miguel Sousa Tavares, Expresso, 14 de Janeiro de 2012

P.S. - Os tratamentos orientais fazem milagres: até Paulo Teixeira Pinto recuperou a saúde que tinha perdido no BCP.

Roque Gameiro e a sua Casa

Roque Gameiro, Volta do mercado saloio

Calendário de 1965 da Mundet,
em aglomerado e papel de cortiça
Volta do mercado saloio, pintura reproduzida num calendário de cortiça da Mundet, foi a aguarela que me chamou a atenção para o nome e para a obra de Roque Gameiro (Exposição Cortiça ao milímetro, Ecomuseu Municipal do Seixal - Núcleo da Mundet).

Reencontrei-os na Casa Museu Anastácio Gonçalves e, novamente, nestes últimos dias, por causa da Morgadinha. Vi a reprodução de uma cena do romance de Júlio Dinis pintada por si e tive curiosidade em encontrar outras ilustrações que pudesse ter feito sobre a mesma obra.


Pouco sucesso.
Roque Gameiro pintou aguarelas para uma edição ilustrada de As pupilas do Sr. Reitor – encontram-se reproduções – mas, quanto à Morgadinha... "népias". Pensei que na Casa Roque Gameiro, sua residência durante uns largos anos e que funciona como espaço cultural da C.M. Amadora, pudesse encontrar algumas dessas ilustrações ou referência a elas. Neste fim de semana, aí fui eu.


Desilusão.
A casa mandada construir pelo artista, entre 1898 e 1901, recuperada da quase ruína em que se encontrava até à década de 1980, não tem praticamente nada do próprio. Para além do edifício e do seu historial, apresenta exposições de outros artistas. De Roque Gameiro... "népias".

Painel de Azulejos na fachada principal

Pormenor do painel de azulejos da sala de jantar, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro

Talvez no Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde (sua terra natal), inaugurado em 2009 e dedicado à obra do pintor, encontre o que esperava ver.
Um dia destes vou a Minde.


No jardim


sábado, 14 de janeiro de 2012

Não sei se foi pesadelo...

A noite passada tive um sonho incrível:
Tinha havido eleições antecipadas. O Governo de Passos Coelho só tinha durado 2 ou 3 anos.
Até aí... tudo bem. Seria melhor nem durar tanto!...

O incrível é que o vencedor tinha sido José Sócrates!!! Eu vi-o claramente no sonho!!
Aí... não sei o que diga!


É o que faz ter lido, antes de me deitar, notícias sobre sondagens (com subidas do PSD e do PS) e a história das eleições na aldeia em A Morgadinha dos Canaviais.
O Júlio Dinis está a espantar-me nesta releitura da Morgadinha.

«Leitor, se tens, como eu, esperança e sincera fé no sistema representativo, perdoa-me o obrigar-te a assistir a uma cena que faz subir a cor ao rosto de quem, como nós, abençoa os sacrifícios por cujo preço nossos pais nos compraram a nobre regalia de intervir, como povo, na governação do Estado (...). A cena (...) não envolve a mínima censura à excelência do sistema; mas apenas aos que nos quarenta anos que ele quase tem de vida entre nós, não souberam ou não quiseram ainda fazer compreender ao povo toda a grandeza da augusta missão que lhe cabe executar.
Depois das nossas lutas civis, já muitas crianças se fizeram homens; se a escola fosse entre nós o que devia ser, já haveria sobra de eleitores com perfeita consciência dos seus direitos civis.
O atraso e ignorância deles, contristando, somente devem impelir os homens de intenções sinceras e puras a aplicar os esforços de inteligência e de acção para ministrar com a educação a moralidade, e para acordar a consciência desta entidade social.
Era o Sr. Joãozinho das Perdizes à frente da sua freguesia, disse eu.
E é justamente este o espectáculo humilhante de que falava.
Tendes visto um guardador de cabras à frente do seu rebanho, conduzindo com acenos e assobios todas as barbudas cabeças daquele regimento quadrúpede? Pois vistes o mais perfeito símile da cena que se presenciava agora no adro da igreja matriz.
O povo, o povo soberano, que naquele dia tinha nas mãos o ceptro da sua soberania, não era menos dócil do que os irracionais que recordámos.»

E depois, já no século XXI, temos os resultados eleitorais que temos e os sonhos...

Allegretto - Schubert

Allegretemo-nos!
(contraste com os anjos caídos de ontem. Mas era 6.ª feira 13...)




Muito bonito o vídeo, com a exploração de pinturas de Caravaggio.



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Declínio do cérebro começa aos 45 anos?

Todos nós teremos lido ou ouvido falar do estudo que conclui que o declínio do cérebro começa aos 45 anos, pela possível deterioração das funções cerebrais. Sublinho possível.

No entanto, é curioso verificar que na comunicação social (pelo menos na portuguesa) começa por ser dito que:
1 – o estudo se fez em cidadãos britânicos
2 – todos tinham entre 47 e 70 anos
Depois, nas conclusões, afirma-se que:
1 – foi encontrado um declínio nos indivíduos com idades entre os 45 e os 49.
Mas... não haveria ninguém com 45 anos! Será engano?
E o declínio até poderá começar mais cedo – não foram analisadas as faculdades mentais de indivíduos até aos 47 anos.
Há indivíduos mais novos que revelam uma prematura perda de memória ou da capacidade de observação – exemplo do nosso 1.º Ministro, que já não se lembra do que disse durante o último Governo de José Sócrates e na campanha eleitoral.

E depois...
O estudo só foi feito em cidadãos britânicos. Nós (portugueses) até podemos ser diferentes: lá porque os britânicos se começam a esquecer das coisas ou a trocá-las aos 45 ou aos 47 não quer dizer que nós, mesmo sendo mais velhos, nos esqueçamos.
Ouvi dizer a muito boa gente que o vinho tinto obviava à perda das capacidades mentais (excepção feita àqueles que bebem para esquecer!).

Já Pessoa dizia:

Ou (como deviam dizer os britânicos): "Life is good, but wine is better".



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Santa ignorância na Educação


Gosto da última frase: o ministro não sabe "se há professores que vão deixar de ser necessários".
No 2.º Ciclo acaba-se com Estudo Acompanhado (que funciona com par pedagógico) e o par pedagógico que existe em Educação Visual e Tecnológica dá lugar à monodocência em Educação Visual e em Educação Tecnológica. Algo me diz que há redução do número de professores.
E não sei porquê, até me parece que esta redução tem a ver com os cortes nas despesas do Ministério da Educação.
O chefe do Governo tinha sugerido a emigração aos professores. Talvez se eles pertencerem a determinadas lojas maçónicas tenham mais sorte.

A questão maçónica

A SIC Notícias deu há pouco conta que o mundo da blogosfera anda muito vivo com as questões maçónicas que têm sido tão badaladas.

Todo o bicho careta fala da Maçonaria (e parece que na Maçonaria pode entrar todo o bicho careta).
Como não quero que o sorriso das vacas esteja fora de moda, enchi-me de brios e deixo o meu contributo.
Por outro lado, como me parece que a comunicação social, como é seu costume, anda a mexer muito no cocó (sou pessoa educada!) mas anda a esquecer as causas da diarreia, deixo um contributo artístico.


Justificação da escolha:
Em 14 de Dezembro de 1784, Mozart entrou para a Maçonaria, submetendo-se à iniciação no grau de aprendiz, na loja A Beneficência, em Viena.
Segundo os entendidos, há um conjunto de obras de Mozart que reflecte essa adesão: a Música Fúnebre (ou Ode Fúnebre), a Cantata maçónica, a ópera Flauta Mágica, a Fantasia para piano K 475...

A Música Fúnebre (K 477) teria sido composta em Julho de 1785, havendo a hipótese de se destinar ao ritual do grão-mestrado. Foi executada quando de uma reunião dedicada à memória de dois aristocratas maçónicos falecidos em Novembro desse ano: o duque Georg August von Mecklenburg e o conde Franz Esterhazy von Galanta.

Fiquem com a música (que o cocó cheira mal).

domingo, 8 de janeiro de 2012