domingo, 23 de junho de 2019

A Exposição do Mundo Português na ficção (3)

«E o comboiozito que, naquela manhã, nos fazia percorrer os carris da via marginal, era uma alcova, de facto, para o devaneio de dois namorados. Guardo as sensações desse dia cristalino, com um mar muito azul, à nossa esquerda, que não conseguíamos desgarrar, perante as memórias dos Jerónimos e da Torre de Belém, da tal odisseia que, a toda a hora, nos era recordada. Passámos o vasto conjunto de edifícios, muito brancos, da Exposição do Mundo Português, estimulando a curiosidade, só por isso, para a visita que iríamos fazer, mais tarde, aos pavilhões. (...)
A romagem, desde há muito ansiada, à Exposição do Mundo Português, justificaria a ida a Lisboa, só por si, e anularia, até, qualquer veleidade de lua-de-mel além-fronteiras, ainda que a guerra a não impossibilitasse. Livrámo-nos dos Primos, por um par de dias, e dirigimo-nos a Belém, munidos daquele conspícuo guia oficial, que conservo, ainda hoje, e que mostra, na capa e na contracapa, duas diversas representações de um guerreiro medieval e português, ora de pé, com a sua espada desembainhada, ora a cavalo, arvorando o estandarte das hostes cristianíssimas. Um agradável percurso, pela totalidade da mostra, num desses comboios-automóveis que, através dela, constantemente circulavam, custava dois escudos, apenas, e foi a aventura em que nos alistámos.»
Mário Cláudio, Tocata para Dois Clarins


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