sábado, 30 de junho de 2018

Maio de 68 - 50 anos (23)



«O Maio de 68 não é uma luta de morte para ninguém. É uma insurreição do verbo. (…) Os revolucionários de Maio estão dispostos a tudo menos à verdadeira revolução».
Laurent Joffrin, Maio de 68, uma história do movimento

O historiador britânico Tony Judt considera que as revoltas estudantis de Maio de 1968, em França, foram um "psicodrama" que entrou na mitologia popular "quase de imediato" como objecto de nostalgia.

«O fracasso de Maio de 68 é que hoje já não há mais utopias.»
Henri Weber  (ex-manifestante e ex-líder da Liga Comunista, depois senador e deputado europeu pelos socialistas)



«Quem os viveu [acontecimentos de Maio] fica sempre marcado por eles, independentemente da sua evolução.»
José Pacheco Pereira

«Eu fui testemunha e hoje parece-me um sonho. Foi o homem na sua pureza, na sua tensão máxima que se bateu contra a natureza naturata sob a forma social. Nunca fales de Maio como quem sabe o que foi, porque é difícil explicá-lo até a quem assistiu. Aqui te digo sem hesitação que foi o maior acontecimento do século XX e que as suas consequências se farão sentir ao longe no tempo. (...) o Maio de Paris é um momento da história da civilização; mais um momento em que a história é transcendida.»
António José Saraiva


Miró, Maio 1968


Maio de 68 - 50 anos (22)

Leituras e heranças...

«Mais do que um movimento global, 1968 foi feito de 68 tão diversos (...)»
Manuel Loff


«Nos dez anos seguintes passou-se de uma "esquerda generalista" a "esquerdas especializadas": feminista, homossexual, ecologista, regionalista, anticonsumista, etc.»
Pascal Ory (historiador)

«A partir da década de 70, como herança dos eventos de Maio de 68, houve o ápice dos movimentos feministas. Essas mobilizações mudaram radicalmente os direitos das mulheres.»



«Graças a Maio de 68, houve uma importante evolução do sistema universitário e pedagógico na França. Antes, nas universidades as aulas eram dadas em grandes anfiteatros e somente o professor tinha palavra, depois foram introduzidas as salas menores, onde os estudantes poderiam participar.»
Julie Pagis (socióloga)

«(...) a reivindicação fundadora do 68 estudantil — a democratização do acesso à e da gestão da universidade, o ataque ao autoritarismo escolar e à pedagogia elitista — teve um evidente sucesso nos 30 anos que se seguiram a 1968 (...)»
Manuel Loff


«O movimento não era contra a sociedade de consumo, mas a favor dela» e teria preparado terreno para o capitalismo. 
Luc Ferry (filósofo)

Nicolas Sarkozy criticou a herança de Maio de 68 por ter liquidado a escola do mérito e do respeito e ter estabelecido as bases do capitalismo sem escrúpulos e sem ética.



«A tese mais comum sobre 68 (...) é a da vitória cultural mas derrota política. (...) Definir 68 como o embate entre uma vanguarda política e culturalmente criativa e um conservadorismo político e societal partilhado à direita e à esquerda, por burgueses e operários, é uma leitura tão intrinsecamente burguesa e liberal que ninguém nos 68 se atreveria a assumi-la.»
Manuel Loff


Maio de 68 - 50 anos (21)

«Faltam-me outras palavras, porque não sei o que vai acontecer. Só pressinto, como um bicho, que a meteorologia está mudando. Ou que, algures, um afloramento de alma faz ondear a crosta da nossa civilização burguesa: é a única certeza que tenho.»
António José Saraiva, Maio e a crise da civilização burguesa


Leituras de Maio há muitas.
As heranças de Maio foram várias...
Os herdeiros de Maio foram por muitos caminhos...

«Como em tudo, a leitura do passado faz-se sempre a partir dos valores do presente, pelo que uma boa parte do que se celebra hoje de 68 (e do estudantil em particular) é constituído sobretudo por pontos de chegada de um processo que, mesmo que se tenha iniciado em 1968, dificilmente se pode dizer que tenha sido desejado há 50 anos.»
Manuel Loff


«Nós não podemos perceber o Maio de 68 e os seus desenvolvimentos se ignorarmos a Revolução Chinesa, e a leitura ocidental que ela teve, e se ignorarmos a Revolução Cubana e a independência argelina e as lutas do Terceiro Mundo. E tudo isso criou um caldo de cultura política que também se manifesta em relação à invasão da Checoslováquia, combatida em muitos países pela mesma geração do Maio de 68.»
José Pacheco Pereira

«Foi uma geração que gerou o movimento. E que se bifurcou depois, perdida entre os arautos da pós-modernidade, os compromissos do Estado e as carreiras.» 
Francisco Louçã




«Tenho uma visão mais festiva sobre a coisa. Foi uma festa linda, um grito, um sobressalto. Não havia um projecto político. Foi um movimento libertário. Teve a importância que teve porque coincidiu com uma adesão maciça da classe trabalhadora: sete milhões de operários em greve, com a ocupação das empresas (não foi como a maior parte das greves de agora que servem para ficar em casa a ver a novela). Daí a vivência que tive. Comecei a estar integrado em grupos móveis de artistas que iam aos sítios ocupados, cantar, declamar e fazer sketches, com a dupla função de entreter e dar força moral para que continuassem.»
José Mário Branco

«Começou a parecer a muita gente que havia experiências revolucionárias que não seguiam o modelo leninista tradicional e que poderiam ser mais eficazes e, acima de tudo, pareciam mais modernas. A linguagem não era a mesma; a forma de vestir, também não. Havia símbolos icónicos que mostravam bem isso, como aquela fotografia tirada pelo Korda ao Che Guevara. Se formos a ver aquilo a que chamamos o adquirido do Maio de 68, que em Portugal chegou muito mais tarde, traduz-se no dar importância a lutas que até ali não tinham tido relevância. Há uma nova visão da psiquiatria, há uma nova forma de ver o problema das prisões, há um renovar do movimento feminista, o aparecimento com mais força do movimento LGBT. Houve em França e nos EUA...» 
José Pacheco Pereira

«A morte de Guevara, as barricadas da Rue Gay-Lussac, a sublevação do Quartier Latin, o incêndio da Bolsa de Paris, o ataque à Convenção Democrata em Chicago, a fuga de De Gaulle para junto do exército francês na Alemanha, o atentado contra Dutschke, o assassinato de Bobby Kenedy, de Malcom X, de Martin Luther King, o mundo ardia. Movia-se uma nova constelação: Joan Baez, Bob Dylan, os rapazes de Liverpool já se tinham calado. We want the world and we want it now, cantava o profeta Jim Morrison.» 
Francisco Louçã


Maio de 68 - 50 anos (20)



«31 de Junho de 1968*
Sucesso do governo nas eleições, excedendo todas as expectativas. A oposição perdeu mais de metade dos seus deputados, o PC idem. É a derrota do Waldeck-Rochet. O PCF vai entrar em crise, a não ser que se deixe encarreirar mansamente para uma situação eleitoral parecida com a da SFIO. (...)

Os "revolucionários" é que são coerentes, pois, desde o início, recusaram o jogo eleitoral e fizeram valer o princípio das "minorias actuantes". Somente, o princípio da minoria só vale na medida em que ela suscita a adesão da maioria. A minoria não comanda, convence. De outro modo seria a ditadura, e portanto a repressão, e portanto o Estado, e portanto a burocracia que os revolucionários pretendem abolir. A maioria alcançada pelos gaullistas nas eleições mostra que a França não está pronta para a revolução.

E, no entanto, ao ouvir ontem o Humberto, todo lançado na "Université d'été", convenço-me de que a revolução vai recomeçar no Outono com a abertura das aulas, não posso duvidar de que a revolução está em marcha. As eleições ficaram na sombra.
São estas duas atitudes que é preciso confrontar e opor: a França que vota gaullista maciçamente - incluindo a banlieue de Paris, que sempre votou vermelho -, a França que confirma a rotina; e, por outro lado, a revolução que prossegue, na minoria, o seu andamento, igualmente seguro e inelutável.

(...) São precisos conceitos diferentes para entender uma e outra. Uma revolução só é possível quando, de salto, a massa entra em estado dinâmico. Foi o que, parece, esteve quase para acontecer em Maio. Foi o que aconteceu em Novembro de 1917 na Rússia. É só no momento em que o estado dinâmico se propaga à maioria da população activa que a estrutura pode mudar.»


António José Saraiva, Maio e a crise da civilização burguesa


* Exactamente assim... no livro. O lado revolucionário de Maio de 68 chegou até ao calendário!...


Maio de 68 - 50 anos (19)



«(...) houve as eleições com os resultados que sabes. Em resumo, o PC perdeu perto de 3/4 dos deputados e cerca de meio milhão de votantes. A Féderation perdeu mais de metade dos deputados. Os gaulistas ortodoxos têm a maioria absoluta. Seguem-se-lhe em número de deputados os giscardianos (que estão à direita dos gaullistas, e não ao centro como dizem), o PC, a Federação e os Centristas. Há um número considerável de gaulistas de esquerda.

Esperava-se a vitória dos gaulistas, mas o recuo do PC foi para mim uma surpresa. O mais curioso é que o PC perdeu uma parte do seu eleitorado nos seus bastiões tradicionais, como a chamada "ceinture rouge" de Paris. Houve muitos operários que votaram gaulista. Isto confirma que a classe operária está em grande parte integrada no sistema, fazendo bicha para a sua vez na chamada "sociedade de consumo". O operários que tiveram a iniciativa da greve foram uma minoria muito esclarecida, pertencente, na maior parte, à metalurgia. O operariado vota no PC institucionalmente, mas considera o PC como um elemento da ordem e não da revolução. Num momento em que a ordem parecia ameaçada, as classes médias e uma parte do operariado consideraram que como baluarte da ordem o De Gaulle era preferível ao ao Waldeck Rochet. E à luz destas considerações percebe-se muito bem porque é que o PC condenou tão ostensivamente os "revolucionários" e centrou a sua campanha eleitoral à volta do tema de que é um partido ordeiro e inimigo de aventuras, com o "sens de l'État".

Foi um duche escocês. Na 1.ª fase pareceu que toda a gente em França queria a revolução; na 2.ª fase que toda a gente queria o status quo. Na realidade a revolução foi obra de uma minoria actuante, que durante mais de um mês penalizou a maioria. Só as minorias fazem as revoluções.

Tenho várias ideias anotadas sobre todo este problema num diário que escrevi e que te hei-de mostrar.*
(...)
O que vai seguir-se? (...) O De Gaulle vai acabar mal, evidentemente, porque terá contra ele a Esquerda e a Direita. A não ser que, mais uma vez, a audácia o recompense. De qualquer forma uma viragem está em curso em França, e, através dela, em toda a Europa ocidental. O socialismo, ou qualquer coisa com outro nome e mais desalienante do que o que o dito nome contém existencialmente, virá, mas por vias bem diferentes daquelas que ensinam os clássicos e os doutores. Viva a imaginação!»
Carta de António José Saraiva
António José Saraiva e Óscar Lopes: Correspondência

* António José Saraiva, Maio e a Crise da Civilização Burguesa


sexta-feira, 29 de junho de 2018

José Manuel Tengarrinha

Morreu José Manuel Tengarrinha.
Nascido em Portimão, em Abril de 1932, foi um político, professor e historiador que se distinguiu no estudo do período liberal e da história da imprensa.

Opositor ao regime de Salazar, viria a estar ligado, já no período da Primavera Marcelista, à fundação da Comissão Democrática Eleitoral (CDE) para disputar as eleições de 1969. 
Detido várias vezes pela polícia política, estava na prisão de Caxias quando da revolução de 25 de Abril de 1974.

Um conjunto de opositores ao Estado Novo presos uma semana antes do 25 de Abril de 1974. 
Esta fotografia foi feita 40 anos depois da prisão. José Manuel Tengarrinha é o 3.º a contar da esquerda.
Entrevista pode ser vista aqui

Após o 25 de Abril, a CDE constituiu-se em partido - MDP/CDE -, tendo conseguido eleger 5 deputados à Assembleia Constituinte. José Manuel Tengarrinha foi um desses deputados, mais tarde também eleito para outras legislaturas.
Professor da Faculdade de Letras, época em que o conheci, dedicou-se mais à carreira académica. 
Voltaria à política recentemente, tendo aderido ao partido Livre.

Cartaz numa homenagem feita a José Manuel Tengarrinha, em 2012.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Inverdades...

«(...)
Num final caótico de ano escolar, é necessário impedir que a informação falsa seja mais rápida que a verdadeira e a política seja confinada ao quarto escuro da manipulação. Daí a anáfora que se segue, particularmente dedicada a António Costa, Alexandra Leitão, João Costa, Lobo Xavier, José Miguel Júdice, Fernando Medina, Pedro Silva Pereira, Pedro Marques Lopes e Miguel Sousa Tavares.

– Não é verdade que a contagem de todo o tempo de serviço prestado pelos professores signifique um encargo de 600 milhões de euros. O número que António Costa referiu no Parlamento (e virou mantra nos jornais e televisões) foi colhido da leitura apressada (ou maliciosa) do Programa de Estabilidade 2018-2022. Acontece que tal número diz respeito ao descongelamento de todos os trabalhadores públicos, que não só dos professores. Desagregando estes, estaremos a falar de 380 milhões. Significativamente, o Ministério das Finanças já começou a corrigir as suas contas: os custos de 2018 já passaram de 90,2 para … 37 milhões.

– Não é verdade que alguma vez os professores tenham exigido pagamento de retroactivos. A contagem de todo o tempo de serviço prestado só é reclamada para efeitos futuros, sendo que os docentes propõem que o respectivo impacto seja acomodado de 2019 a 2023.

– Não é verdade, como afirmou António Costa, que o compromisso do Governo seja apenas descongelar as carreiras e que em nenhuma carreira tenha havido recuperação do tempo do congelamento. Citando Churchill, quando António Costa fala dos professores, o que diz parece “uma adivinha, embrulhada num mistério, dentro de um enigma”.

– Não é verdade que Alexandra Leitão tenha falado de factos no artigo que escreveu no Público. Ela falou de fictos. A memória de passarinho da secretária de Estado fê-la esquecer que no texto do compromisso consta “o tempo” e não apenas “tempo” a recuperar. (...) Mas, mais grave que isto é esta doutora em leis ignorar os dois factos que importam: discutir a semântica do compromisso tornou-se irrelevante quando a Lei do Orçamento de 2018 (artigo 19º) estabeleceu que “o” tempo a recuperar não é matéria a negociar, mas tão-só o prazo e o modo de o fazer, em função das disponibilidades orçamentais; o esbulho que Passos iniciou e Costa quer eternizar, só passou no Tribunal Constitucional sob condição de ser transitório, que não permanente.
(...)

– Não é verdade que os docentes progridem na carreira de modo automático. Para progredirem, os professores têm de: obter classificação mínima de “bom” na avaliação de desempenho; frequentar com aproveitamento formação contínua certificada; submeter-se a avaliação externa (aulas assistidas); conseguir passar pela porta estreita das vagas limitadíssimas definidas pelo Governo, para o acesso ao 5º e 7º escalões.

– Não é verdade que os professores portugueses são os mais bem pagos da OCDE. Convém recordar que os seus salários líquidos variam entre um mínimo de 1.025,43€ e um máximo de 2.207,47€. Convém recordar que entre estes dois valores medeiam uns teóricos 34 anos de carreira (reais 48), o que explica que, actualmente, não exista um único professor a receber o salário correspondente ao último escalão. Convém recordar que milhares de professores estão há mais de uma década no primeiro escalão e a maior parte deles jamais chegará aos superiores.

– Não é verdade que Portugal tem ministro da Educação. Portugal tem um factotum de Centeno, uma espécie de Lola do Simplex, que vai à bola a Moscovo quando a Educação arde em Lisboa.»
Santana Castilho
Público, 27 de Junho de 2018


É a bolha!

Dizia a personagem de Fernão Lopes, "Agora se vende Portugal, que tantas cabeças e sangue custou a ganhar, quando foi tomado aos Mouros!".



Espanhóis compram a Suíça e suíços compram o Beato!

Convertidos ao capitalismo.
Tudo se vende e tudo se compra.
Vende quem quer, compra quem pode.
Como nós não podemos...

Da Suíça (e de todo o quarteirão em que a Suíça se integra) resta saber o que irá ser feito.
Mais um hotel, diz-se.
Lisboa, Cidade Hotel!




P.S. - Da Suíça, sinceramente, já nem me lembro quando foi a última vez que lá entrei. Lembro-me do sacrifício (leia-se falta de educação) dos empregados em servirem os clientes. 
Mas é bom que exista respeitinho pelo património.


quarta-feira, 27 de junho de 2018

Esclarecimento


1) Os professores não progridem na carreira apenas com base no tempo de serviço.
2) A progressão na carreira docente está sujeita a quotas e a restrições baseadas no desempenho.
3) A maioria dos professores ao serviço nunca chegará aos escalões superiores.
4) Uma proporção absurda de professores está há mais de uma década (muitos há duas) no primeiro escalão da carreira - mesmo que tenham sido sempre classificados com muito bom ou excelente (notas que estão sujeitas a quotas).
5) Os professores não entram de férias quando as aulas acabam. Por estranho que pareça, a atribuição de notas, a vigilância e correcção de exames, a inscrição de alunos, a constituição de turmas, a elaboração de horários, o planeamento do ano lectivo, a organização logística de laboratórios, etc. não caem do céu aos trambolhões.
6) A perda real de salários e o congelamento das carreiras dos professores aconteceram ao mesmo tempo que aumentava o número de alunos por turma, aumentava a carga lectiva e burocrática, se eliminavam as reduções de horário para docentes mais velhos, aumentava a escolaridade obrigatória (e com ela os problemas sociais e disciplinares com que as escolas têm de lidar), diminuía o número de auxiliares e de técnicos especializados (psicólogos, assistentes sociais, etc.) nas escolas.
7) Não foram os professores que estão nas escolas quem escolheu as regras e práticas de formação, avaliação, progressão e gestão de docentes. Não são eles que têm de prestar contas pelas consequências dessas regras.
Se depois disto ainda acham que a greve dos professores é uma mera defesa corporativa de uma classe privilegiada, há uns medicamentos homeopáticos que podem ajudar."

Ricardo Paes Mamede, Economista

Eu, professor, agradeço o esclarecimento.


terça-feira, 26 de junho de 2018

Cooperativa Árvore


Amândio Secca era membro dos corpos sociais da Cooperativa Árvore desde 1972.


O futebol, fenómeno de substituição da experiência religiosa

«Penso que existe uma hipervalorização [do futebol] no espaço público, mas sociologicamente é muito interessante porque o futebol é um fenómeno de substituição da experiência religiosa - as sociedades precisam de ritos. Se vivemos uma desritualização da sociedade nos ritmos habituais de vida, também são precisos ritos para organizar a nossa consciência do mundo e encontramos essas novas ritualidades, sem dúvida, no futebol, que representa um rito dominical para milhares de pessoas.» 
Tolentino de Mendonça, entrevista ao DN, 24 de Setembro de 2017


«O futebol é uma das poucas linguagens universais e identitárias que restam às nossas sociedades ocidentais, e que consegue o que a outras dimensões, que sabemos bem mais vitais, se considera difícil, se não impossível: uma transversalidade social e política a toda a linha, uma capacidade de desencadear persistentemente formas de adesão e emoção num quadro intergeracional, a possibilidade que dá a qualquer adepto, muitas vezes afásico ou lacónico em relação a tudo o resto, de emergir como um extravagante homo loquens. Émile Durkheim dizia que “uma religião só pode ser substituída por outra religião”. Não é, por isso, de estranhar a recuperação da gramática religiosa e litúrgica que o futebol faz.»
Tolentino de Mendonça, Expresso, 30 de Maio de 2015

Em pleno Campeonato do Mundo, dia de "S. Tolentino"...
Para compreender por que razão só se respira futebol na TV.


Arcebispo Tolentino

... poeta...
... arquivista, bibliotecário... E Tudo


Quietos fazemos as grandes viagens
só a alma convive com as paragens
estranhas


domingo, 24 de junho de 2018

O dia do último profeta

Caravaggio, S. João Baptista

«Quando os enviados de João se foram embora, Jesus pôs-se a falar dele ao povo: (...) ele é mais do que um profeta, pois é aquele de quem as Escrituras dizem: Enviarei o meu mensageiro à tua frente para te preparar o caminho.
E fiquem a saber que entre os homens não há ninguém maior do que o João Baptista. No entanto, o mais pequeno no reino de Deus é maior do que ele.»
Lucas 7:26-28


sábado, 23 de junho de 2018

Maio de 68 - 50 anos (18)

23 de Junho
Teve lugar a 1.ª volta das eleições legislativas depois da dissolução da Assembleia Nacional pelo Presidente Charles de Gaulle, para responder à crise de Maio de 68.

Sessão em que o Presidente da Assembleia Nacional anunciou a dissolução deste órgão.

Para estas eleições, os gaullistas formaram a UDR (Union pour la Défense de la République). O tema da campanha foi simples e eficaz: a defesa da ordem e a denúncia da ameaça subversiva e totalitária representada pelo Partido Comunista. Ao lado da UDR encontravam-se republicanos independentes e centristas moderados. 

À esquerda, o Partido Comunista e a FGDS (Fédération de la Gauche Démocrate e Socialiste) procuraram demarcar-se da desordem originada pelas movimentações estudantis. Só o PSU (Parti Socialiste Unifié) reivindicou a herança dos temas dos estudantes de 68 (não chegando a eleger qualquer deputado, apesar de quase 1 milhão de votos).

Dia 30 será a 2.ª volta...


sexta-feira, 22 de junho de 2018

Algures num manicómio...

Juntaram-se os dois à esquina
a tocar a concertina 
a dançar o solidó.



segunda-feira, 18 de junho de 2018

A narração dos sonhos

«Obedecendo ao meu instinto, peguei no meu caderninho e tentei reproduzir o sonho do modo como nos podemos recordar de um sonho. A dificuldade de formular os sonhos em termos narrativos é bem conhecida (...). adivinha-se a dificuldade daquele que sonhou em estruturar narrativamente, diegeticamente, o seu próprio sonho. Não apenas por virtude de certos saltos paralógicos, ou de transições braquilógicas, ou do problema do tempo vivido no inconsciente e impossível de restituir num tempo narrativo real, mas sobretudo porque cada sonho é uma emoção, uma sensação bem específica que encontra o seu "sentido" na medida em que pertence ao momento do próprio sonho, mas que é impossível definir no estado de vigília.»
Antonio Tabucchi, Requiem



domingo, 17 de junho de 2018

Vozes

Imaginadas vozes queridas
dos que morreram, ou que como os mortos
são para nós perdidas.

Às vezes falam-nos em sonho,
às vezes vibram no nosso peito.

E com a voz, por um instante apenas, volta o eco
do primeiro poema da nossa vida, como
uma música longínqua, que desvanece na noite.


Constantinos Kavafis

Nikias Skapinakis, Quarto de Kavafy em Alexandria


terça-feira, 12 de junho de 2018

domingo, 10 de junho de 2018

De barriga cheia!

Feira do Livro...
Um bom dia, apesar de cinzento.
Muita gente.

E o encontro que mais aguardava: Mário Cláudio.
E também João de Melo e Lídia Jorge.
Este ano, já tinha estado com Mário de Carvalho.
A simpatia de cada um...

E lá vieram mais uns livrinhos...

Deana Barroqueiro partiu o braço, deve ter adiado a presença.
Para o ano...
Quando tiver um livro novo.

Tenho de procurar imagens dos livros...


José Rodrigues Miguéis - o espólio e a memória

É na Universidade de Brown (John Hay Library) que se encontra o espólio de José Rodrigues Miguéis, por iniciativa da viúva do escritor.
Pode-se espreitar aqui.

Rodrigues Miguéis morreu nos Estados Unidos (1980), onde se exilou por causa do salazarismo.
Uma cópia em microfilme de todo o espólio foi entregue na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Segundo Onésimo Teotónio Almeida, que se preocupou com o destino do espólio e terá intervido na solução encontrada, "volta e meia vem gente de qualquer parte do mundo investigar" esse espólio.

A este professor se deve, também, a organização do Colóquio realizado no Padrão dos Descobrimentos, em Outubro de 2001 (centenário do nascimento do escritor), e a coordenação da edição das actas do mesmo, pela C.M. de Lisboa.

Já em 1981, um ano depois da morte de José Rodrigues Miguéis, Onésimo Almeida, no Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade da Brown, organizara um simpósio sobre o escritor e a sua obra.
As actas deste simpósio, com algumas adendas e actualizações, foi editado, também em 2001, pela Editorial Presença, com o título José Rodrigues Miguéis: Lisboa em Manhattan. E Onésimo Almeida volta a ser o coordenador da obra.

Por ocasião das comemorações do 10 de Junho, acredito que José Rodrigues Miguéis seja um nome lembrado, atendendo ao cenário em que se realizam nos EUA e a quem preside.
Será mais do que merecida essa lembrança de um escritor que viveu 43 anos nos EUA (com pequenas interrupções) e fez do exílio um espaço privilegiado da sua ficção, "tema dominante e obsessão dolorosa" (Eduardo Lourenço).
Um "exilado nostálgico" chamou-lhe Pedro Mexia, sobre quem, alguém disse, "nunca chegou a sair de Lisboa."

«Ninguém é profeta na sua terra - e muito menos na alheia.»
José Rodrigues Miguéis


Onésimo Teotónio Almeida - 10 de Junho

Habitualmente, não ligo ao 10 de Junho.
Mas, este ano, algo me fez prender a atenção: Onésimo Teotónio Almeida é a personalidade que preside às comemorações do Dia de Portugal, que se desenrolam entre Ponta Delgada e Boston.
O convite fez todo o sentido: Onésimo de Almeida é natural da ilha de São Miguel e é Professor Catedrático da Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, perto de Boston.

Doutorado em filosofia, é um extraordinário cronista e um conversador nato, num trato afável, simples mas sabedor, daquelas pessoas que têm sempre histórias interessantes para contar e com quem se aprende sempre - é ouvir a entrevista que deu, na Antena 1, a Maria Flor Pedroso, a propósito da sua nomeação, e ficamos com pena que a mesma chegue ao fim.

Deve ser a pessoa que mais escreveu sobre a comunidade luso-americana (sobretudo a açoreana*), aquilo a que chama o "mundinho imenso da L(USA)lândia", "uma porção de Portugal rodeada de América por todos os lados."

*açoreana propositadamente com e, como devia ser sempre.



sábado, 9 de junho de 2018

Uma presença serena



«- Vejo aqui livros da Yourcenar com dedicatórias - conhece-a?
- Sim, conheço-a há muitos anos e gosto muito dela. É uma mulher admirável. Na autora das Memórias de Adriano, a sagesse alia-se à simplicidade , e a elegância não se distingue da naturalidade. É uma presença serena, próxima e distante ao mesmo tempo, como se a fraternidade e a reserva fossem inseparáveis - esquecida da sua grandeza ou demasiado consciente da precariedade dela, passando leve sobre a terra, mas sem contudo perder o contacto com a sua rugosidade.
- Foi ela que aproximou a sua poesia da música de Bach?
- Do Cravo bem Temperado, e dos desenhos de Matisse, sim, foi ela. São imagens que apontam para um rigor que não sufoca o instinto, ou se prefere, imagens de "limpidez no ardor", de que Yourcenar diz conhecer poucos exemplos.»
Do Silêncio à Palavra
entrevista concedida por Eugénio de Andrade a Helena Vaz da Silva
(Expresso, 27 de Maio de 1978)




sexta-feira, 8 de junho de 2018

Marguerite Yourcenar - 115 velas

«O ser a que chamo eu veio ao mundo numa segunda-feira, dia 8 de junho de 1903, pelas 8 horas da manhã, em Bruxelas, de um pai francês, pertencente a uma antiga família do norte, e de uma belga cujos ascendentes se tinham há muito implantado em Liège..»



Maio de 68 - 50 anos (17)

«Neste momento (8 de Junho), a polémica PC - Estudantes atingiu o auge. Os estudantes tentam arrastar os grevistas restantes a bater-se com a polícia; a Humanité chama-lhes "provocadores".»
António José Saraiva e Óscar Lopes: Correspondência


Aos estudantes, Georges Marchais chamava-lhes "fils à papa".
Já em 1967, Jean Ferrat cantava:

(...)


Quand le temps de vos colères
Quand vos contorsions
Ne seront plus qu'éphémères
Et vieilles illusions
Fils de bourgeois ordinaires
Pour qui nous savons
Vous voterez comme vos pères
Pauvres petits c…
Vous voterez comme vos pères
Pauvres petits cons


(...)


Em 1969, o sentido é (nostalgicamente) diferente...

Au printemps de quoi rêves-tu?
D'un printemps ininterrompu

Duas vezes a mesma canção:



Pelas imagens...


Pelo som (que aqui é melhor).


Maio de 68 - 50 anos (16)

A 8 de Junho, António José Saraiva escrevia a Óscar Lopes.
Até parece que Maio continuava...

«Meu caro
Tenho estado a assistir a uma coisa que não se vê todos os dias: uma revolução, e uma revolução sem precedente, porque é a primeira que ocorre num país economicamente e socialmente adiantado, no Ocidente.
(...)
Acrescento que o começo disto foi absolutamente inesperado. Não havia agitação operária. Recomeçava a expansão económica. Começava a reunir-se a conferência entre americanos e vietnamitas. O De Gaulle preparava a viagem à Roménia.»

António José Saraiva e Óscar Lopes: Correspondência


quarta-feira, 6 de junho de 2018

A espantosa realidade das cousas...

O que eles conseguem ver!...
É impressionante!
Por isso é que o Dr. Vítor Constâncio, por exemplo, conseguiu chegar onde chegou. Viu mais longe.


A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.

Não sei é como se consegue pagar,
ou se conseguirão continuar a pagar por muito tempo.
Talvez lhes dê a bolha!...


terça-feira, 5 de junho de 2018

Onde falham os alunos?


E depois vê-se no que dá quando chegam à Universidade!




Algo de significativo separa estes estudantes universitários dos de Maio de 68...


Uma questão de verbas...

Artur Loureiro, O professor sem verba
(Museu Soares dos Reis)


Mesmo jogando pouco... 





Eu, professor quase em final de carreira, mesmo ganhando o que ganho hoje (quase no topo da carreira) ao longo dos 40 anos de trabalho, não chegaria (nem chegarei) a ganhar 1 milhão de euros.


Professores, tempo de serviço e compromissos políticos

O Governo nunca prometeu reconhecer tempo integral aos professores?
O Primeiro-Ministro disse no debate quinzenal que o Governo nunca prometeu reconhecer todo o tempo de serviço aos professores que tinham tido a carreira congelada.


«Começando pelo que diz a Lei do Orçamento do Estado para 2018, de 29 de dezembro: o artigo 19.º estabelece que “a expressão remuneratória do tempo de serviço nas carreiras, cargos ou categorias integradas em corpos especiais, em que a progressão e mudança de posição remuneratória dependam do decurso de determinado período de prestação de serviço legalmente estabelecido para o efeito, é considerada em processo negocial com vista a definir o prazo e o modo para a sua concretização, tendo em conta a sustentabilidade e compatibilização com os recursos disponíveis.”

Não é uma linguagem clara, mas é o que ficou plasmado na lei depois de duras negociações. O Bloco de Esquerda, por exemplo, tentou que houvesse uma referência específica ao tempo de serviço dos professores, mas o que acabou por ser aprovado foi o artigo praticamente na formulação proposta… pelo PS. Para Costa, esta norma não obriga o Governo a reconhecer todo o tempo, mas apenas a negociar quanto tempo e de que forma vai ser reconhecido. De facto, à partida e sem enquadramento, o texto dá-se a mais do que uma interpretação, uma vez que fala em “prazo e o modo” e não apenas em “prazo“.

E a prova de que o texto é dúbio é que — já na altura da negociação — a esquerda estava desconfiada da formulação proposta inicialmente. E houve discussão à conta de uma pequena alteração de semântica à proposta dos socialistas, que chegou a ser retirada do guião de votações na fase mais crítica da negociação entre o PS e a esquerda. No texto original lia-se que “a expressão remuneratória de tempo de serviço” nas carreiras em causa “é considerada em processo negocial com vista a definir o prazo e o modo para a sua concretização”. No entanto, a esquerda e os sindicatos exigiam que o “de” fosse trocado por um “do” para que o artigo passasse a referir “do tempo de serviço em que as carreiras estiveram congeladas” e não um tempo indefinido. E assim podiam continuar a insistir no tempo que querem ver contabilizado: nove anos, quatro meses e dois dias. A mudança fez-se, mas pelo que se viu no debate quinzenal não foi suficiente para clarificar posições e cada um ficou na sua. Costa leu até o texto em voz alta, usando-o como prova de que tinha razão. A lei diz ainda que esse tempo é reconhecido “tendo em conta a sustentabilidade e compatibilização com os recursos disponíveis“. Ainda que não tenha feito uma relação direta com o que está no articulado, Costa repetiu várias vezes durante o debate: “Custa 600 milhões”, “não temos dinheiro” , “não é possível”.»

Observador, 5 de Junho de 2018

Ai as semânticas!
São elas que nos lixam!

Apetece-me ser demagógico:


«Questionado sobre os cálculos de Vítor Bento, que disse que a resolução do BES pode vir a custar dez mil milhões de euros ao país, o secretário de Estado adjunto e das Finanças considerou essa estimativa "um valor excessivo", recordando que "está pré-definido de injecções de capital de 850 milhões de euros, no máximo, em cada ano".»
Negócios, 24 de Fevereiro de 2018

Ai a objectividade das afirmações!

P.S. - É a austeridadezinha!
Afinal...


Compromisso com professores é financeiramente sustentável (18.11.2017)

Compromisso com professores é financeiramente sustentável


Reunião com sindicatos terminou depois das 5:00 após 10 horas de negociações

O Governo congratulou-se com o acordo alcançado com os sindicatos da educação para a reposição salarial do tempo de serviço congelado e diz que o compromisso assinado traduz "um modelo responsável, financeiramente sustentável".

No final da reunião de 10 horas com três estruturas sindicais representativas dos professores, a secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, e a secretária de Estado da Administração e Emprego Público, Fátima Fonseca, congratularam-se, em declarações aos jornalistas, com o acordo assinado esta madrugada, ao qual os sindicatos preferem chamar apenas declaração de compromisso.

"Congratulamo-nos duplamente porque vai permitir devolver a necessária paz social às escolas e também valorizar a classe dos professores, mas simultaneamente, porque se trata de um compromisso cujo modelo é responsável, financeiramente sustentável, permite dar passos seguros e permite não por em causa todas as soluções que têm vindo a ser encontradas. É um sucesso duplo da nossa perspetiva", disse Alexandra Leitão.

Questionada sobre os motivos da longa duração da reunião de hoje, Alexandra Leitão disse que as negociações "são coisas complexas por natureza" e que esta teve "muitos intervenientes".

"Um acordo é por definição um ganho para ambos e uma cedência para ambos, e no equilíbrio entre ganhos e cedências passa muito tempo", disse.

Do lado do Ministério das Finanças, Fátima Fonseca também destacou a sustentabilidade da solução encontrada, ainda que o modelo para concretizar a reposição salarial do tempo de serviço congelado ainda esteja por definir, sendo essa a matéria que vai voltar a juntar Governo e sindicatos à mesa das negociações já a partir de 15 de dezembro, sem estimativas de custos ainda calculadas.

"Os custos associados são custos que vamos ter que ponderar, que são custos necessariamente diluídos no tempo. A nossa tónica não está no custo, seria imprudente da nossa parte antecipá-lo, a nossa tónica está em criar um modelo que seja sustentável", disse Fátima Fonseca.

Depois de dez horas de negociação, a Federação Nacional de Professores (Fenprof), Federação Nacional de Educação (FNE) e Frente Sindical de Docentes -- que engloba oito sindicatos -- assinaram com o Governo, representado pelo Ministério da Educação e pelo Ministério das Finanças, um compromisso sobre a reposição salarial do tempo de serviço congelado e que servirá de base a futuras negociações para determinar o faseamento e condições de pagamento dessa reposição.

As negociações, que apenas se iniciaram na passada terça-feira, conheceram várias reviravoltas e discursos contraditórios, com o Governo a evoluir de uma posição intransigente que não previa qualquer descongelamento e progressão dos professores num futuro próximo para aquela que permitiu assinar a declaração de compromisso.

Pelo meio houve declarações desencorajadoras para os objetivos dos professores por parte do ministro das Finanças, Mário Centeno, e do primeiro-ministro, António Costa, uma manifestação e uma greve de professores para pressionar Governo e parlamento e propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2018, entregues na sexta-feira quando já decorria a última maratona negocial que, segundo os sindicatos, contribuíram para este desfecho.

Diário de Notícias, 18 de Novembro de 2017


sábado, 2 de junho de 2018

À vel'ó vento...

Vai por aqui uma ventania...
O mar faz carneirinhos...
Os barquinhos vão todos de ladecos.



Todos c'as perninhas de fora, a fazer contrapeso


Um museu do outro mundo

Um "outro mundo" concebido por José de Guimarães para o Museu do Oriente.

Pontos de partida: o espólio do museu e as peças de arte chinesa da colecção do artista.
Oportunidade: a de criar um diálogo, incluindo obras da autoria do próprio José de Guimarães - um multiálogo.

A entrada na "sala branca" é um deslumbramento!... 


«José de Guimarães, no seu trabalho, procurou territórios, investigou realidades, confrontou-se com culturas, coleccionou memórias, apaixonou-se por artefactos, relacionou perspectivas emocionais, numa longa viagem de vida à volta do mundo, de Oriente a Ocidente, sem esquecer a África e a América Latina. Através da sua viagem, o seu trabalho fez o mapeamento de um território íntimo, quase ritualista e místico e ao mesmo tempo universal.»


«A sua pesquisa fala do local versus o global, fala do artesão e da arte, fala do profano e do religioso, fala do lugar e do genérico. A generosidade da obra de José de Guimarães é um respiro humano que nos leva nessa viagem pelos territórios e pelas culturas, às profundidades da nossa existência e das nossas emoções.»



A primeira sala, negra e escura, é construída numa sucessão de espaços oblíquos e intrincados. (…)



«A segunda sala é branca e sem limites. Um mundo que se prolonga pela eternidade ou, mais prosaicamente, pela cidade de forma contínua. (…) As personagens colocadas nesta cidade sem sombras confrontam-se como se tratasse de um diálogo através do vidro, dos reflexos e das transparências. Estão todos ali na sala a olharem para um infinito qualquer, sem um tempo ou um lugar específico.»




«Dentro deste espaço, o visitante perde os seus pontos de referência, a segurança da estabilidade retiniana. No arcano deste labirinto, qual Dédalo, José de Guimarães repensa as relações, as tensões, as forças de atracção e repulsa, os choques, entre objectos de diferentes tempos e diferentes culturas.»



Somos estranhos num lugar distante, “perdidos no labirinto do museu e da história”.