sábado, 30 de junho de 2018

Maio de 68 - 50 anos (21)

«Faltam-me outras palavras, porque não sei o que vai acontecer. Só pressinto, como um bicho, que a meteorologia está mudando. Ou que, algures, um afloramento de alma faz ondear a crosta da nossa civilização burguesa: é a única certeza que tenho.»
António José Saraiva, Maio e a crise da civilização burguesa


Leituras de Maio há muitas.
As heranças de Maio foram várias...
Os herdeiros de Maio foram por muitos caminhos...

«Como em tudo, a leitura do passado faz-se sempre a partir dos valores do presente, pelo que uma boa parte do que se celebra hoje de 68 (e do estudantil em particular) é constituído sobretudo por pontos de chegada de um processo que, mesmo que se tenha iniciado em 1968, dificilmente se pode dizer que tenha sido desejado há 50 anos.»
Manuel Loff


«Nós não podemos perceber o Maio de 68 e os seus desenvolvimentos se ignorarmos a Revolução Chinesa, e a leitura ocidental que ela teve, e se ignorarmos a Revolução Cubana e a independência argelina e as lutas do Terceiro Mundo. E tudo isso criou um caldo de cultura política que também se manifesta em relação à invasão da Checoslováquia, combatida em muitos países pela mesma geração do Maio de 68.»
José Pacheco Pereira

«Foi uma geração que gerou o movimento. E que se bifurcou depois, perdida entre os arautos da pós-modernidade, os compromissos do Estado e as carreiras.» 
Francisco Louçã




«Tenho uma visão mais festiva sobre a coisa. Foi uma festa linda, um grito, um sobressalto. Não havia um projecto político. Foi um movimento libertário. Teve a importância que teve porque coincidiu com uma adesão maciça da classe trabalhadora: sete milhões de operários em greve, com a ocupação das empresas (não foi como a maior parte das greves de agora que servem para ficar em casa a ver a novela). Daí a vivência que tive. Comecei a estar integrado em grupos móveis de artistas que iam aos sítios ocupados, cantar, declamar e fazer sketches, com a dupla função de entreter e dar força moral para que continuassem.»
José Mário Branco

«Começou a parecer a muita gente que havia experiências revolucionárias que não seguiam o modelo leninista tradicional e que poderiam ser mais eficazes e, acima de tudo, pareciam mais modernas. A linguagem não era a mesma; a forma de vestir, também não. Havia símbolos icónicos que mostravam bem isso, como aquela fotografia tirada pelo Korda ao Che Guevara. Se formos a ver aquilo a que chamamos o adquirido do Maio de 68, que em Portugal chegou muito mais tarde, traduz-se no dar importância a lutas que até ali não tinham tido relevância. Há uma nova visão da psiquiatria, há uma nova forma de ver o problema das prisões, há um renovar do movimento feminista, o aparecimento com mais força do movimento LGBT. Houve em França e nos EUA...» 
José Pacheco Pereira

«A morte de Guevara, as barricadas da Rue Gay-Lussac, a sublevação do Quartier Latin, o incêndio da Bolsa de Paris, o ataque à Convenção Democrata em Chicago, a fuga de De Gaulle para junto do exército francês na Alemanha, o atentado contra Dutschke, o assassinato de Bobby Kenedy, de Malcom X, de Martin Luther King, o mundo ardia. Movia-se uma nova constelação: Joan Baez, Bob Dylan, os rapazes de Liverpool já se tinham calado. We want the world and we want it now, cantava o profeta Jim Morrison.» 
Francisco Louçã


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