sábado, 31 de agosto de 2013
Alguns dias de Agosto
Não tardará a chegar ao fim
este agosto que te viu passar com a luz
a teus pés. Somos eternos, dizias.
Eu pensava antes na danação
da alma ao faltar-lhe o alimento
que lhe trazias. Agora a cidade vive
do peso incomensuravelmente morto
dos dias sem a tua presença. Deixo
a mão correr sobre o papel tentando
captar o eco de uma palavra,
um sinal de quem em qualquer parte
cintila, e confia ao vento o segredo
da nossa tão precária eternidade.
Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Nicolau Nasoni
Há exactamente 240 anos, morria com 82 anos, na cidade do Porto, Nicolau Nasoni, o arquitecto italiano que marcou o barroco da cidade.
São da sua autoria os obeliscos que se encontram no Jardim do Passeio Alegre, ali à Foz.
São da sua autoria os obeliscos que se encontram no Jardim do Passeio Alegre, ali à Foz.
Porto - Foz do Douro
Foz.
No Porto é obrigatório.
Tem uma luz e um encanto especiais, com traços arquitectónicos e sociais muito diferentes.
A Foz do Douro foi couto da ordem beneditina (Mosteiro de Santo Tirso) desde os tempos de D. Afonso Henriques.
Após a Guerra Civil de 1832-34 passou a integrar o concelho do Porto em 1836, sendo uma terra de pescadores e de mareantes. No areal que o Passeio Alegre viria a ocupar já no final do séc. XIX, os pescadores varavam os barcos e consertavam as redes.
São João da Foz (óleo de Marques Oliveira, 1881) |
O verão passou a atrair à Foz, "por razões terapêuticas, devido aos bons ares e às águas iodadas, gentes do Porto e da sua influente colónia inglesa, e de mais longe, tornando-a cada vez mais cosmopolita."
Alberto Pimentel refere dois turnos de banhistas, a propósito das décadas de 1850 e 1860: o primeiro turno era o da "gente do Porto, famílias ricas, titulares, empregados públicos, etc."; o segundo era o da "gente de Cima-do-Douro, lavradores ricos, proprietários, pessoas abastadas, sem exclusão de gente menor, os feitores, os caseiros, os remediados e até os pobres." Esta segunda leva ocorria já depois das colheitas.
Ir às praias na Foz (fotografia de Aurélio Paz dos Reis, 1908) |
O eléctrico na Foz (fotografia de Aurélio Paz dos Reis, 1905) |
Foz do Douro
É outra vez abril
- e tão perfeito é o azul
que o estendo
ao longo do meu corpo.
Não sei de ninguém tão bem vestido!
Eugénio de Andrade, Escrita da Terra
Cinemateca Portuguesa - pela manutenção do serviço público
O objectivo é a defesa da manutenção do serviço público de difusão e preservação da arte cinematográfica, o qual estará em risco por dificuldades financeiras. A Cinemateca, que integra o Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM), é a única entidade, em Portugal, a fazer o trabalho de conservação e restauro do património cinematográfico.
O Secretário de Estado da Cultura afirmou que estão asseguradas as medidas para que a Cinemateca possa continuar a funcionar.
Pelo hábito que já temos à mudança dos ventos (e das palavras) - e a cultura é sempre o parente pobre - o realizador José Carlos Oliveira lançou uma petição em defesa da Cinemateca, apelando a que a Assembleia da República debata a sobrevivência daquele organismo e encontre um quadro legal para assegurar o seu financiamento sustentado.
Podem encontrar aqui a Petição Pública.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Bom tempo na televisão
Assisti há pouco, na RTP 2, a um documentário sobre Mau Tempo no Canal.
Realizado em 2009, já terá passado antes. Quero lá saber. Foi excelente (no meio do esterco que é a maioria dos programas da televisão).
E até passou a horas decentes.
É bom ouvir pessoas que falam com conhecimento, sensibilidade e simplicidade de um livro, do seu autor, da realidade que originou a obra.
Realizado em 2009, já terá passado antes. Quero lá saber. Foi excelente (no meio do esterco que é a maioria dos programas da televisão).
E até passou a horas decentes.
É bom ouvir pessoas que falam com conhecimento, sensibilidade e simplicidade de um livro, do seu autor, da realidade que originou a obra.
É fartar vilanagem!
Jornal de Negócios, 29 de Agosto de 2013 |
Diário Económico, 29 de Agosto de 2013 |
«Governo e FMI usam dados deturpados sobre cortes salariais. O FMI publicou gráficos que escondem reduções nos salários. O Fundo argumenta que recebeu os dados do Governo mas não os confirmou. O Executivo reconhece que os dados não são completos.»
Uma fonte do FMI argumenta que «as bases de dados da Segurança Social são demasiado complexas e grandes para serem trabalhadas por pessoas que não estejam habituadas e treinadas a analisá-las. Pelo que não havia, defende, forma de as confirmar.»
Jornal de Negócios, 28 de Agosto de 2013
Ou seja:
1 - O Governo só entrega ao FMI os dados que o FMI lhe pede, mesmo que de fora fique informação significativa.
2 - O FMI não consegue trabalhar a informação que pede (e deve metê-la numa gaveta).
3 - Mesmo sem trabalhar os dados - muitos e complexos! - o FMI propõe a tomada de medidas (com base em quê? Nas opiniões/propostas do Governo?).
4 - O Governo aceita pachorrentamente (bovinamente) as propostas "fundamentadas" (a olhómetro) do FMI. (Porque serão as do Governo?).
É assim que nós somos governados? Se não é... parece.
Mas isto é sério? Se é... não parece.
«É fartar vilanagem!»
Frase atribuída a Álvaro Vasques de Almada, 1.º Conde de Avranches, ao antever o seu trágico destino na batalha de Alfarrobeira, ao lado do infante D. Pedro.
Aviso: A canção é de um disco de 1977
É que pode parecer muito recente!...
É que pode parecer muito recente!...
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Memórias
Por umas saudades...
A curiosidade de a capa do disco (a imagem do vídeo) ser uma fotografia dos Trovante na Ponta dos Corvos (Seixal).
O disco, Terra Firme, já tem uns bons anos: é de 1987.
Outra curiosidade é que os Trovante estavam no auge da sua carreira e conseguimos, na Paulo da Gama, que eles viessem actuar no campo exterior, no âmbito das actividades da Semana da Música (1988 ou 89).
A escola encheu nessa noite... Um sucesso!
O disco, Terra Firme, já tem uns bons anos: é de 1987.
Outra curiosidade é que os Trovante estavam no auge da sua carreira e conseguimos, na Paulo da Gama, que eles viessem actuar no campo exterior, no âmbito das actividades da Semana da Música (1988 ou 89).
A escola encheu nessa noite... Um sucesso!
I have a dream
«Eu tenho o sonho de que os meus filhos vão viver um dia numa nação em que não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu carácter.»
Martin Luther King, em Washington D.C.,
na Marcha pelo Trabalho e pela Liberdade,
no dia 28 de Agosto de 1968
na Marcha pelo Trabalho e pela Liberdade,
no dia 28 de Agosto de 1968
na Marcha de Washington pelo Trabalho e pela Liberdade
Pois, pois... Tangas!
Uma pessoa vem de férias e choca logo com esta vidinha...
Governo diz que dados dos salários foram os que o FMI pediu - Economia - Jornal de Negócios
Governo diz que dados dos salários foram os que o FMI pediu - Economia - Jornal de Negócios
«Senhor: não lhes perdoeis, porque eles sabem o que fazem.»
Baptista-Bastos
Baptista-Bastos
Postal de férias
Durante uns anos, a partir das férias de 1996, quando nos Açores andei a preparar a viagem de finalistas do 9.º 8, costumava escrever postais para os alunos dessa turma, dando notícias das férias.
Com o crescimento dos "meninos", a saída da casa dos "papás" (e não actualização das moradas) e o uso da net e das redes sociais, os postais foram ultrapassados.
Mas aqui fica um postal colectivo, que também é dirigido a outros ex-alunos que passem por aqui.
Meus queridos amigos
Espero que estejam todos bem e que também possam estar a gozar (ter gozado ou ir gozar) umas merecidas férias.
A crisezinha reduz o alcance das viagens.
Andei pelo Porto (e arredores) e por Bragança. Coisas de interesse para ver não faltam - o Património (incluindo o gastronómico) é rico - e fazer fotografias, hoje, tornou-se barato, o que me dá um grande gozo, como vocês (que são do tempo da minha velha Yashica com rolos de 36 fotografias reveladas em papel) podem imaginar. Se antes fazia muitas, e vocês eram modelos "à força", calculem o que não seria agora.
Tive notícias de que a Susana C. teve uma Inês e que a Ana Sofia aguarda pela cegonha. Conheci a Lara (do Ricardo João) ainda no final do ano lectivo passado, no dia em que o Diogo, da Tânia, fazia anos. A Susana C. já me mandou fotografia da filha e outras em que estou com os gémeos da Tânia P. ao colo. Isto de ser "avô" tem que se lhe diga!
Por aqui se vê como a vossa vida está diferente.
A cusquice facebookiana permite saber mais umas coisas, mas isso também vocês podem fazer sem ser preciso qualquer postal.
Desejo-vos muitas felicidades e deixo-vos um abraço do tamanho do mundo.
Com muitas saudades vossas
Carlos C.
Com o crescimento dos "meninos", a saída da casa dos "papás" (e não actualização das moradas) e o uso da net e das redes sociais, os postais foram ultrapassados.
Mas aqui fica um postal colectivo, que também é dirigido a outros ex-alunos que passem por aqui.
Meus queridos amigos
Espero que estejam todos bem e que também possam estar a gozar (ter gozado ou ir gozar) umas merecidas férias.
A crisezinha reduz o alcance das viagens.
Andei pelo Porto (e arredores) e por Bragança. Coisas de interesse para ver não faltam - o Património (incluindo o gastronómico) é rico - e fazer fotografias, hoje, tornou-se barato, o que me dá um grande gozo, como vocês (que são do tempo da minha velha Yashica com rolos de 36 fotografias reveladas em papel) podem imaginar. Se antes fazia muitas, e vocês eram modelos "à força", calculem o que não seria agora.
Tive notícias de que a Susana C. teve uma Inês e que a Ana Sofia aguarda pela cegonha. Conheci a Lara (do Ricardo João) ainda no final do ano lectivo passado, no dia em que o Diogo, da Tânia, fazia anos. A Susana C. já me mandou fotografia da filha e outras em que estou com os gémeos da Tânia P. ao colo. Isto de ser "avô" tem que se lhe diga!
Por aqui se vê como a vossa vida está diferente.
A cusquice facebookiana permite saber mais umas coisas, mas isso também vocês podem fazer sem ser preciso qualquer postal.
Desejo-vos muitas felicidades e deixo-vos um abraço do tamanho do mundo.
Com muitas saudades vossas
Carlos C.
Porto (visto da Ponte D. Luís) |
Sem esquecer...
De férias mas não distraído.
Datas não esquecidas (a propósito de onde estava):
16 de Agosto - Morte de Eça de Queirós (1900)
Visitei o Solar dos Condes de Resende (Canelas - Vila Nova de Gaia), propriedade da família de sua esposa, D. Emília de Castro.
No Domingo foram as festas de S. Bartolomeu, na Foz.
25 de Agosto - O arquitecto Fernando Távora (descendente dos "velhos" Távoras), um dos grandes nomes da arquitectura contemporânea portuguesa, fundador e mestre da "Escola do Porto", cidade onde nasceu, faria 90 anos. Foi no seu atelier que Álvaro Siza Vieira estagiou.
Datas não esquecidas (a propósito de onde estava):
16 de Agosto - Morte de Eça de Queirós (1900)
Visitei o Solar dos Condes de Resende (Canelas - Vila Nova de Gaia), propriedade da família de sua esposa, D. Emília de Castro.
Demos dois dedos de conversa (eu e o Eça) |
19 de Agosto - Dia Mundial da Fotografia
Para comemorar, as exposições no Centro Português de Fotografia estavam encerradas - era 2.ª feira.
A minha fotografia de homenagem (Travessa da Cedofeita) Fotografia de Verão. A loja é interessante. |
24 de Agosto - Revolução Liberal de 1820
O Campo de Santo Ovídio, actual Praça da República, foi o palco da revolta promovida pelo Sinédrio.
As novas chegam a Lisboa pelo chamado telégrafo de tábuas.
Dizia Herculano: "Em Portugal o despotismo é que é moderno, e a liberdade antiga."
Pr. da República (Porto) (ex-campo de Santo Ovídio, ex-Campo da Regeneração) |
Dia de S. Bartolomeu
S. Bartolomeu distraiu-se, deixou fugir o diabo e depois foi uma carga de trabalhos para o apanhar. Por isso há sempre vento neste dia. O santo foi perdoado da distracção e tem destaque na Igreja de S. João Baptista da Foz.No Domingo foram as festas de S. Bartolomeu, na Foz.
S. Bartolomeu (Igreja de S. João da Foz) |
Regresso
O final do período de férias vem sempre depressa de mais.
Resta-me ruminá-las, como as vaquinhas ao pasto.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Subir na carreira
«Agora vamo-nos arranjar, não tardamos nada, disseram. Esperem, cortou o chefe, e depois, dirigindo-se ao primeiro auxiliar. Serve-te da minha casa de banho, se não nunca mais sairemos daqui. O agraciado corou de satisfação, a sua carreira tinha acabado de dar um grande passo em frente, ia mijar na retrete do chefe.»
José Saramago, Ensaio sobre a lucidez
Ensaio sobre a lucidez
É(-me) impossível ler Ensaio sobre a cegueira e não associar a personagem do Presidente a Cavaco Silva e a personagem do Primeiro-Ministro a Passos Coelho. Embora tenha sido editado em 2004.
Premunições?
Fez bem o meu vizinho do 12.º em lembrar-me o livro de Saramago, a propósito da crise governativa de Julho passado.
Conversas raras com a vizinhança.
Premunições?
Fez bem o meu vizinho do 12.º em lembrar-me o livro de Saramago, a propósito da crise governativa de Julho passado.
Conversas raras com a vizinhança.
Arco de História
O Arco de Luz conta histórias da nossa História: o mítico Viriato, o místico Santo Condestável, o ilustre Gama, o polémico Pombal.
A História continuará.
Mas de Sócrates e de Coelho, se falar, é para lhes dedicar uma linha. Dos fracos não reza.
Milagre?!
Gaspar enganou-se?
Álvaro foi menosprezado?
Portas precipitou-se?
Os valores revelados agora pelo INE e de que o Governo se ufana dizem respeito ao 2.º trimestre (Abril a Junho), altura em que ainda governava Vítor Gaspar, Álvaro Pereira era o ministro da Economia e Paulo Portas contestava o rumo seguido pelo Governo, pelo menos a sua política económica.
Esse Governo acabou.Porque Gaspar confessou o insucesso da sua política e a incapacidade de liderança de Passos Coelho e se demitiu, porque Portas considerava necessária um nova política, com primazia da economia, e pediu a demissão, porque Álvaro era o elo fraco.
Precipitaram-se?
Enganaram-se?
Que consciência tinham/têm da sua governação?
Que consistência têm os valores agora divulgados?
Única coisa certa: o novo Governo apressou-se a colher os louros de resultados que surpreenderam o próprio Governo. Porque eles não sabem o que fizeram para isso.
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Fairport Convention - Rising for the Moon
Reeditado agora (2013 Deluxe Edition).
O último encontro de Sandy Denny com os Fairport Convention (1975).
Põe-se a comer neves
Em maré de gelados...
«E da porta do balcão, Meirinho, em bicos de pés, fazia acenos a Dâmaso: ele reparou, precipitou-se: pisou uma criança que fez beicinhos, derrubou o binóculo duma senhora obesa. Ia pálido.
Mesmo uma velha, que se repimpava por trás de Vítor, disse, com satisfação:
- Deu-lhe alguma cólica.
- Põe-se a comer neves... - rosnou a outra, cujo génio parecia amargo.»
«E da porta do balcão, Meirinho, em bicos de pés, fazia acenos a Dâmaso: ele reparou, precipitou-se: pisou uma criança que fez beicinhos, derrubou o binóculo duma senhora obesa. Ia pálido.
Mesmo uma velha, que se repimpava por trás de Vítor, disse, com satisfação:
- Deu-lhe alguma cólica.
- Põe-se a comer neves... - rosnou a outra, cujo génio parecia amargo.»
Eça de Queirós, A Tragédia da Rua das Flores
A Real Fábrica do Gelo (2)
O Sargento Mor de Infantaria, Carlos Mardel, engenheiro na Corte e arquitecto de Sua Majestade, D. João V, visitou, em 1748, a fábrica de neve na serra de Montejunto.
A iniciativa da sua construção fora de um francês, Trofimo Paillete, e de dois espanhóis, João Rose e Pedro Francaleza, em 1741. O custo (com forte investimento dos espanhóis) parece ter sido um balúrdio e a sociedade não correu bem: o francês enganou os sócios e pirou-se. Os contratos com a Corte, o principal consumidor (e o que justificará o título de Real Fábrica), nunca correram como esperado, a começar pela concessão do privilégio àqueles três sócios do exclusivo do fornecimento de neve à Corte e à cidade de Lisboa, e continuando com o contrato com Catarina Ricart (1750), senhora que desejava ter "casas de neve" em Lisboa, se propôs vender a neve por um preço mais baixo e ainda fazer a oferta diária de meia arroba ao Hospital de Todos os Santos (usada, nomeadamente, na conservação de medicamentos). Nunca os contratos foram cumpridos.
E pelo meio houve o terramoto.
A serra de Montejunto apresentava a grande vantagem da maior proximidade de Lisboa, em relação à Estrela ou à Lousã. E estava garantido o abastecimento de água pelos poços existentes.
1782 marca o início de uma nova fase da fábrica de Montejunto, com a compra da fábrica e as obras de reedificação por Julião Pereira de Castro, neveiro da casa real.
Durante os meses de Setembro a Maio, preparava-se e armazenava-se o gelo que, de Maio a Setembro, se fazia chegar a Lisboa.
devidamente acondicionado no lombo dos burros ou dos muares, primeiro, de carro e bois, depois, até à vala do Carregado, de barco, finalmente, para a capital.
A mesma praça que assistiu a outros desembarques também era o cenário da chegada dos blocos de gelo.
Aí se localizava, desde 1778, a Casa da Neve ou Café da Neve - qual Casa da Índia da idade do gelo.
E após várias gerências e algumas mudanças de nome, quis o destino, não tanto o acaso, que a antiga Casa da Neve se transformasse no (ainda) conhecido Martinho da Arcada, adquirido que fora por Martinho Bartolomeu Rodrigues, neto do neveiro Julião Pereira de Castro, o tal que ampliou a Real Fábrica do Gelo que permaneceu na posse da família até ao fim do seu funcionamento.
A fábrica cessou a sua actividade em 1885. Os avanços tecnológicos tornaram-na obsoleta.
Esquecida durante anos, as suas instalações foram limpas e recuperadas (na medida do possível) a partir de 1988 e, a 2 de Abril de 1996, a Real Fábrica do Gelo obteve a classificação de Monumento Nacional.
A iniciativa da sua construção fora de um francês, Trofimo Paillete, e de dois espanhóis, João Rose e Pedro Francaleza, em 1741. O custo (com forte investimento dos espanhóis) parece ter sido um balúrdio e a sociedade não correu bem: o francês enganou os sócios e pirou-se. Os contratos com a Corte, o principal consumidor (e o que justificará o título de Real Fábrica), nunca correram como esperado, a começar pela concessão do privilégio àqueles três sócios do exclusivo do fornecimento de neve à Corte e à cidade de Lisboa, e continuando com o contrato com Catarina Ricart (1750), senhora que desejava ter "casas de neve" em Lisboa, se propôs vender a neve por um preço mais baixo e ainda fazer a oferta diária de meia arroba ao Hospital de Todos os Santos (usada, nomeadamente, na conservação de medicamentos). Nunca os contratos foram cumpridos.
E pelo meio houve o terramoto.
Real Fábrica do Gelo (Serra de Montejunto) |
1782 marca o início de uma nova fase da fábrica de Montejunto, com a compra da fábrica e as obras de reedificação por Julião Pereira de Castro, neveiro da casa real.
Durante os meses de Setembro a Maio, preparava-se e armazenava-se o gelo que, de Maio a Setembro, se fazia chegar a Lisboa.
devidamente acondicionado no lombo dos burros ou dos muares, primeiro, de carro e bois, depois, até à vala do Carregado, de barco, finalmente, para a capital.
A mesma praça que assistiu a outros desembarques também era o cenário da chegada dos blocos de gelo.
Aí se localizava, desde 1778, a Casa da Neve ou Café da Neve - qual Casa da Índia da idade do gelo.
Lápide que assinala a compra e reedificação da fábrica por Julião Pereira de Castro |
Esquema do percurso da neve da Serra de Montejunto a Lisboa |
D. Antónia Manilla Pereira de Castro, mãe de Martinho Bartholomeu de Castro |
A fábrica cessou a sua actividade em 1885. Os avanços tecnológicos tornaram-na obsoleta.
Esquecida durante anos, as suas instalações foram limpas e recuperadas (na medida do possível) a partir de 1988 e, a 2 de Abril de 1996, a Real Fábrica do Gelo obteve a classificação de Monumento Nacional.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Santo-e-Senha
Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.
Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.
Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora
Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão.
Miguel Torga
Estrelas cadentes, quem as vê?
Está uma noite óptima e tenho passado pela janela para contemplar o sete estrelo.
Já vi algumas estrelinhas - muitos pontos brilhantes - e três aviões.
Cadentes ainda não vi passar nenhuma.
Já vi algumas estrelinhas - muitos pontos brilhantes - e três aviões.
Cadentes ainda não vi passar nenhuma.
domingo, 11 de agosto de 2013
sábado, 10 de agosto de 2013
Gelo, gelados e/ou sorvetes
Alimento
refrescante em dias quentes, os gelados ou sorvetes ("conceitos"
difíceis de distinguir) já não são novidade. O uso do gelo ainda menos.
As principais fontes de informação que usei:
Os gregos
bebiam água fresca com neve e água de neve derretida.
Os
romanos usavam gelo nas bebidas. Nero (séc. I) terá servido o primeiro sorvete
conhecido, feito com frutas esmagadas, mel e gelo.
Os
chineses criaram uma forma de produção de sorvetes, a qual consistia na
colocação de uma mistura de neve e de salitre à volta de recipientes com
xarope, obtendo uma mistura sólida.
Terá sido
da observação desta prática que Marco Pólo levou a informação para Itália.
Assim se explicaria a especialização deste país na arte dos gelados.
Em França, os
gelados passaram a integrar as ementas dos privilegiados após o casamento
de Henrique II com Catarina de Médicis (1533). Iriam tornar-se mais populares a partir de finais do século XVII, sobretudo nos cafés, com a presença
de mestres italianos.
Em
Inglaterra, sabe-se que, desde meados do século XVII, se importava neve da
Noruega e da América, a qual era armazenada para depois se consumir em festas.
Em
Espanha, também por influência italiana, já era habitual, durante o Verão, a
utilização de neve para refrescar bebidas por parte da aristocracia, na segunda
metade do do século XVI.
Tomé
Pinheiro da Veiga, na Fastigímia,
obra escrita no reinado de Filipe III (de Espanha) e que aborda a vida na corte
deste monarca, refere que "o maior regalo que tem Castela (...) é a neve
no verão, que nunca falta, e só por ela se poderia ir daqui [Portugal] (...) e
cá na terra [Valladolid - corte castelhana] não há maior deleite que água fria
no verão e fruta com neve."
E foi via
Filipes que a moda das bebidas refrescadas com gelo pegou em Portugal.
A neve já
era consumida na água, por D. João III.
No início
do século XVII há referências ao transporte de neve da Serra da Estrela para a
corte "depois que as delícias de Itália entraram em Portugal com os
costumes castelhanos". Em 1619, Filipe III fez uma visita a Portugal. Uma
das exigências do rei foi que nunca lhe faltasse a neve durante a sua estada. E
o neveiro Paulo Domingos celebrou o contrato de abastecimento de neve,
garantindo o fornecimento diário de uma quantidade enorme de arrobas, entre 1
de Junho e 30 de Setembro, tantas que até ponho a hipótese de não ter
interpretado bem o que li - 96 arrobas diárias??!! A partir de então, os monarcas procuraram ter sempre
neve ao seu dispor.
E as
referências posteriores começam a ser cada vez mais frequentes, pois vai-se
difundindo o hábito de tomar neve – designação corrente de sorvete, gelado,
carapinhada ou outros derivados de gelo.
Marina
Tavares Dias afirma que era o “serviço de neve”, mais do que o de café, “a
principal motivação para muitos clientes dos botequins setecentistas.”
Quanto a
gelados, sabe-se que, em 1712, Eugénio da Cunha tinha uma loja de “sorvetes e
mais bebidas” em Lisboa e também vendia gelo, havendo na época outras casas com
o mesmo negócio.
O
fornecimento de neve a Lisboa a partir da Serra da Estrela estava sujeito a
muitos constrangimentos, a começar pela distância e pela dificuldade dos
transportes. Muitos contratos de abastecimento não foram integralmente
cumpridos.
Na década
de 1740 foi construída a fábrica do Gelo da Serra de Montejunto, bem mais
próxima de Lisboa, enorme vantagem no fornecimento de gelo à capital.
Essa
fábrica, depois designada por Real Fábrica do Gelo, cessou a sua actividade em
finais do século XIX, tendo sido classificada como Monumento Nacional em 1996,
depois de trabalhos de limpeza e recuperação.
E era a esta
fábrica que eu hoje queria chegar.
As principais fontes de informação que usei:
Urbano Tavares Rodrigues - O Homem é irmão do Homem
O adeus à brisa, documentário de Possidónio Cachapa sobre a vida e a obra de Urbano Tavares Rodrigues.
Chuva de estrelas
Vem aí uma chuva de estrelas, visível a olho nu entre hoje e 2.ª feira.
A Terra passa pela órbita do cometa Swift-Tuttle, o que origina esta chuvada.
Diz quem sabe que a (no singular?) Perseidas "tem o seu pico de actividade na 2.ª feira, ao emitir uma média de 110 meteoros por hora." Acredito que seja imenso!
Espero que o céu se mantenha limpo.
Estarei no meu posto, à beira da janela, a ver se as vejo...
A Terra passa pela órbita do cometa Swift-Tuttle, o que origina esta chuvada.
Diz quem sabe que a (no singular?) Perseidas "tem o seu pico de actividade na 2.ª feira, ao emitir uma média de 110 meteoros por hora." Acredito que seja imenso!
Espero que o céu se mantenha limpo.
Estarei no meu posto, à beira da janela, a ver se as vejo...
Gaspacho
Nestes dias de calor sabe bem um gaspacho.
Oriundo da Andaluzia, mesmo aqui ao lado (do Alentejo), e bem adoptado aqui (no Alentejo), "quase que podíamos dizer que o gaspacho é a açorda de Verão, no Alentejo."
"Feito com água fresca e com a junção de pão e vários alimentos, consoante a fartura ou a escassez, quando é feito de forma mais rigorosa pode ser considerado uma receita rica e completa".
Receitas de gaspacho há muitas. Deixo aqui a receita de Manuel Fialho, a quem pertencem as citações (Gastronomia e Vinhos do Alentejo).
Maria Cozinheira te cuida!
«Para um almofariz deitam-se uns dentes de alhos cortados e uma quantidade de sal grosso e de seguida pisam-se até obter uma massa. Arranja-se o tomate, que deve estar maduro, e cortam-se em cubos pequenos assim como o pepino - retirando-se as sementes do meio - e o pimento verde cortado da mesma forma.
Numa tigela ou terrina deita-se a massa do alho obtida do piso, junta-se o azeite necessário, o vinagre e água fresca. Com uma colher misturam-se os produtos e prova-se de sal. De seguida deitam-se no caldo o tomate, o pepino, o pimento verde e um pouco de orégãos misturando novamente com a colher. Faz-se com pão caseiro duro umas sopas em cubos, um pouco maiores do que os cubos dos legumes e juntam-se ao caldo.
O gaspacho pode ser acompanhado com paio e presunto cortado em pequenos pedaços, que normalmente entram no caldo juntamente com as sopas de pão ou com carapaus fritos, petingas fritas ou sardinhas assadas.»
Oriundo da Andaluzia, mesmo aqui ao lado (do Alentejo), e bem adoptado aqui (no Alentejo), "quase que podíamos dizer que o gaspacho é a açorda de Verão, no Alentejo."
"Feito com água fresca e com a junção de pão e vários alimentos, consoante a fartura ou a escassez, quando é feito de forma mais rigorosa pode ser considerado uma receita rica e completa".
Receitas de gaspacho há muitas. Deixo aqui a receita de Manuel Fialho, a quem pertencem as citações (Gastronomia e Vinhos do Alentejo).
Maria Cozinheira te cuida!
«Para um almofariz deitam-se uns dentes de alhos cortados e uma quantidade de sal grosso e de seguida pisam-se até obter uma massa. Arranja-se o tomate, que deve estar maduro, e cortam-se em cubos pequenos assim como o pepino - retirando-se as sementes do meio - e o pimento verde cortado da mesma forma.
Numa tigela ou terrina deita-se a massa do alho obtida do piso, junta-se o azeite necessário, o vinagre e água fresca. Com uma colher misturam-se os produtos e prova-se de sal. De seguida deitam-se no caldo o tomate, o pepino, o pimento verde e um pouco de orégãos misturando novamente com a colher. Faz-se com pão caseiro duro umas sopas em cubos, um pouco maiores do que os cubos dos legumes e juntam-se ao caldo.
O gaspacho pode ser acompanhado com paio e presunto cortado em pequenos pedaços, que normalmente entram no caldo juntamente com as sopas de pão ou com carapaus fritos, petingas fritas ou sardinhas assadas.»
Como não tenho fotografia de gaspacho, procurei na net. Há cada coisa mais esquisita a que dão o mesmo nome!
O da imagem é de Pias (dizem). É o que mais se aproxima daquilo que eu entendo como gaspacho.
Alentejo, gaspacho e esta "calma" de Verão aproximam-se da saudável Arte da Lentidão.
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
A arte da lentidão
Um excelente texto de José Tolentino Mendonça sobre nós e a nossa vida, publicado já em 25 de Maio, no Expresso.
A falta de tempo "normal" impediu-me de o ler devidamente na altura, o que o tempo de férias me permitiu fazer agora.
«Talvez precisemos voltar a essa arte tão humana que é a lentidão. Os nossos estilos de vida parecem irremediavelmente contaminados por uma pressão que não dominamos; não há tempo a perder; queremos alcançar as metas o mais rapidamente que formos capazes; os processos desgastam-nos, as perguntas atrasam-nos, os sentimentos são um puro desperdício: dizem-nos que temos de valorizar resultados, apenas resultados. À conta disso, os ritmos de atividade tomam-se impiedosamente inaturais. (...) Passamos a viver num open space, sem paredes nem margens, sem dias diferentes dos outros, (...) Deveríamos, contudo, refletir sobre o que perdemos, sobre o que vai ficando para trás, submerso ou em surdina, sobre o que deixamos de saber quando permitimos que a aceleração nos condicione deste modo.
A falta de tempo "normal" impediu-me de o ler devidamente na altura, o que o tempo de férias me permitiu fazer agora.
«Talvez precisemos voltar a essa arte tão humana que é a lentidão. Os nossos estilos de vida parecem irremediavelmente contaminados por uma pressão que não dominamos; não há tempo a perder; queremos alcançar as metas o mais rapidamente que formos capazes; os processos desgastam-nos, as perguntas atrasam-nos, os sentimentos são um puro desperdício: dizem-nos que temos de valorizar resultados, apenas resultados. À conta disso, os ritmos de atividade tomam-se impiedosamente inaturais. (...) Passamos a viver num open space, sem paredes nem margens, sem dias diferentes dos outros, (...) Deveríamos, contudo, refletir sobre o que perdemos, sobre o que vai ficando para trás, submerso ou em surdina, sobre o que deixamos de saber quando permitimos que a aceleração nos condicione deste modo.
(...) A
pressa condena-nos ao esquecimento. Passamos pelas coisas sem as habitar, falamos
com os outros sem os ouvir, juntamos informação que nunca chegamos a aprofundar.
Tudo transita num galope ruidoso, veemente e efémero. Na verdade, a velocidade com
que vivemos impede-nos de viver.
Uma
alternativa será resgatar a nossa relação com o tempo. Por
tentativas, por pequenos passos. Ora isso não acontece sem um abrandamento
interno. Precisamente porque a pressão de decidir é enorme, necessitamos de uma
lentidão que nos proteja das precipitações mecânicas, dos gestos cegamente
compulsivos, das palavras repetidas e banais. Precisamente porque nos temos de
desdobrar e multiplicar, necessitamos de reaprender o aqui e o agora da
presença, de reaprender o inteiro, o intacto, o concentrado, o atento e o uno. (...)
Mesmo se a lentidão
perdeu o estatuto nas nossas sociedades modernas e ocidentais, ela continua a
ser um antídoto contra a rasura normalizadora. A lentidão ensaia uma fuga ao quadriculado;
ousa transcender o meramente funcional e utilitário; escolhe mais vezes conviver
com a vida silenciosa; anota os pequenos tráficos de sentido, as trocas de
sabor e as suas fascinantes minúcias, o manuseamento diversificado e tão íntimo
que pode ter luz.»
Amen
Urbano Tavares Rodrigues
Uma carta testemunho de amizade e de homenagem, de Mário de Carvalho a Urbano Tavares Rodrigues, por ocasião do último 25 de Abril.
Querido Urbano,
Nos ritmos desencontrados do tempo é difícil encontrar as palavras próprias no momento certo.
Escolho este 25 de Abril para te dizer aquilo que por timidez ou contenção emocional foi recalcado noutras ocasiões.
Lembro-me de ti (e do Manuel da Fonseca) na antecâmara do Tribunal fascista, aonde ias, sempre solidário, abonar o carácter do meu pai. Vi-te em múltiplas - e jamais recusadas - intervenções nos cineclubes, colectividades e associações de estudantes, numa altura em que a exposição pública só te poderia trazer (e trouxe) dissabores. Encontrei-te no processo revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, como paradigma de humildade, lucidez e extrema coragem, sem concessões à fadiga e às sobrecargas tarefeiras.
A tua invejável aura, Urbano. O respeito, o afecto, a amizade que todos temos por ti…
Sempre me senti tocado por essa gentileza de maneiras, pelo alcance da curiosidade, a clareza e articulação da exposição, a largueza e arrumação dos conhecimentos, a viva atenção a cada dobrar de página na cadência dos dias. Em múltiplos géneros avivam-se as personagens, os dilemas, as encruzilhadas destes tempos de que fazes a crónica aturada, talentosa e esclarecida.
Posso testemunhar a generosidade com que acolhias e encorajavas os autores mais jovens, os aconselhavas com desafectação, lhes emprestavas livros e davas as indicações que a vastidão dos teus conhecimentos sugeria. E nesta incessante procura do que de melhor havia nos outros, o teu sentido de justiça, de homem isento e indómito, levava-te a deixar de lado ideologias, opções de grupo, escolhas políticas ou famílias literárias.
São estas fugazes palavras uma nota modesta, que está muito longe dos teus méritos e pretende apenas assinalar a data de 25 de Abril de 2013, saudando em ti todos aqueles a quem, pela abnegação, desassombro, coragem e superioridade intelectual, ficámos a dever uma alegria rubra de esperança.
Querido Urbano,
Nos ritmos desencontrados do tempo é difícil encontrar as palavras próprias no momento certo.
Escolho este 25 de Abril para te dizer aquilo que por timidez ou contenção emocional foi recalcado noutras ocasiões.
Lembro-me de ti (e do Manuel da Fonseca) na antecâmara do Tribunal fascista, aonde ias, sempre solidário, abonar o carácter do meu pai. Vi-te em múltiplas - e jamais recusadas - intervenções nos cineclubes, colectividades e associações de estudantes, numa altura em que a exposição pública só te poderia trazer (e trouxe) dissabores. Encontrei-te no processo revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, como paradigma de humildade, lucidez e extrema coragem, sem concessões à fadiga e às sobrecargas tarefeiras.
A tua invejável aura, Urbano. O respeito, o afecto, a amizade que todos temos por ti…
Sempre me senti tocado por essa gentileza de maneiras, pelo alcance da curiosidade, a clareza e articulação da exposição, a largueza e arrumação dos conhecimentos, a viva atenção a cada dobrar de página na cadência dos dias. Em múltiplos géneros avivam-se as personagens, os dilemas, as encruzilhadas destes tempos de que fazes a crónica aturada, talentosa e esclarecida.
Posso testemunhar a generosidade com que acolhias e encorajavas os autores mais jovens, os aconselhavas com desafectação, lhes emprestavas livros e davas as indicações que a vastidão dos teus conhecimentos sugeria. E nesta incessante procura do que de melhor havia nos outros, o teu sentido de justiça, de homem isento e indómito, levava-te a deixar de lado ideologias, opções de grupo, escolhas políticas ou famílias literárias.
São estas fugazes palavras uma nota modesta, que está muito longe dos teus méritos e pretende apenas assinalar a data de 25 de Abril de 2013, saudando em ti todos aqueles a quem, pela abnegação, desassombro, coragem e superioridade intelectual, ficámos a dever uma alegria rubra de esperança.
Mário de Carvalho
Urbano Tavares Rodrigues isboa, 6 de Dezembro de 1923 - 9 de Agosto de 2013 |
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Semana Gastronómica do Gaspacho e da Tomatada - 2013
Até dia 12, decorre a Semana Gastronómica do Gaspacho e da Tomatada, promovida pelo Turismo do Alentejo.
Aderiram cerca de 100 restaurantes de todo o Alentejo.