sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O que faz falta

José Afonso foi recordado em Paris, na semana passada, no Théâtre de La Ville (o espectáculo pode ser visto aqui), onde o cantor deu vários concertos em 1981 e foi homenageado em 1985.
Casa cheia.
O programa transcrevia uma mensagem do próprio José Afonso, de 1985, enviada para o espectáculo. Nela, agradecia as provas de amizade recebidas e concluía: «Sem elas sentir-me-ia, por certo, menos capaz de lutar contra as contrariedades que me têm atingido, num país onde a degradação social e até moral, com relevo para o poder que nos governa, já faz parte do nosso quotidiano

Imagine-se o que José Afonso não diria se conhecesse a actuação dos actuais poderes, sobretudo este "Governo de pardalada".
José Afonso faz-nos falta.


 
 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Novo símbolo da Nação

Ouvindo o Primeiro-Ministro, desvendamos a nova bandeira.


Lully

Giovanni Battista Lulli, italiano filho de moleiro, ou Jean-Baptiste Lully, bailarino na corte de Luís XIV, superintendente da música de câmara do rei, fundador da Académie Royale de Musique, "rei absoluto" da vida musical francesa durante cerca de duas décadas e meia, são a mesma pessoa.

E fico a pensar como é que um jovem filho de um moleiro italiano (dizem os livros), tinha 13 anos, chega à corte do reino de França, na condição de pajem e tutor da sobrinha de um marquês, se torna compositor - dizem que o mais influente na história da música francesa - e ascende aos referidos cargos?
Tinha de ser uma padaria fina!!!

A composição de óperas e bailados, sempre respondendo às exigências da corte do rei Sol, foi a sua especialidade.
Energia não lhe devia faltar. A mesma energia com que marcava o ritmo com um bastão, ao ponto de, um dia, bater com o bastão no pé, ferindo-se e morrendo da infecção da ferida.

Nasceu a 28 de Novembro de 1632. Há 380 anos.


 
 

Mensagem com seios

 
Mais piada do que o título da notícia (ou a notícia em si - tão pudico, o fb!), tem o texto do lead: o fb "não admite fotos de seios seja em que atividade for".
 
 
Recorde-se o poema de Alexandre O'Neill, homem com sentido de humor.
 
Seios
Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
 
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
 
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
 
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
 
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
 
Por que não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?
 
Quantas vezes
Interrogaste, ao espelho, os seios?
 
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
 
Quantos seios ficaram por amar?
 
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
 
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
 
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em desesperadas, quarentonas lágrimas...
 
Seios fortes como os da Liberdade
- Delacroix - guiando o Povo.
 
Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...
 
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
 
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
 
O amor excessivo dum poeta:
«E hei-de mandar fazer um almanaque
Na pele encadernado do teu seio!»
                         (Gomes Leal)
 
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
 
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
 
Botas, botifarras
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
 
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
 
«Oculta, pois, oculta esses objectos,
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos»
                         (Abade de Jazente)
 
Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
 
Uma roda de velhos despeitados,
Rabujando,
A pretexto do chá...
 
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
 
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
 
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.
 
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.
 
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca
 

René Magritte

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A sorte de poder pousar os olhos sobre a água


No alto mar
A luz escorre
Lisa sobre a água.
Planície infinita
Que ninguém habita.
Sophia de Mello Breyner
 
 

Arco-íris

«O arco-íris é caminho e mediação entre a terra e o céu. É a ponte de que se servem deuses e heróis entre o outro mundo e o nosso.»


«Coloquei o Meu arco nas nuvens para que seja
o sinal da aliança entre Mim e a terra.» (GÉNESIS)
 
Na Grécia antiga representava Íris,
a rápida mensageira dos deuses.
Um duplo arco-íris é uma Íris serviço Express

As cores invertem-se
Os optimistas vêem no arco-irís o anúncio de eventos felizes, os pessimistas o prenúncio de perturbações na harmonia do universo.

Um duplo arco-íris deve duplicar o optimismo ou o pessimismo.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Uma boa semana

                                                              ou...
                                                  vo
O tempo do fim de semana
 

 
 

domingo, 25 de novembro de 2012

Manif de apoio à vaca e ao burro

Cá em casa, as figuras do Natal começaram a sair à rua.
E todas estão solidárias com a vaca e o burro, que permanecem no grupo.
Até as excomungadas das renas apareceram!...


Viva o presépio segundo S. Francisco de Assis.
O pequeno Francisco, que não é santo, vai achar mais piada.

Fim de semana de aquário

 
 
Agradeço a colaboração (mesmo que) involuntária de Inês Direito
(que não conheço de lado nenhum, a não ser desta fotografia que encontrei na net).

sábado, 24 de novembro de 2012

Mingus - Goodbye Pork Pie hat

Composto por Charles Mingus, o tema Goodbye Pork Pie hat foi originalmente gravado pelo seu sexteto, em 1959.
A música é dedicada ao saxofonista Lester Young, que costumava usar um chapéu desse tipo e morrera no início daquele ano.


A música foi gravada em mais de três dezenas de versões. Conheci-a através da guitarra de John McLaughlin, em My goal's beyond (1970), e de Joni Mitchell, que lhe compôs uma letra e a cantou na faixa de encerramento de Mingus, disco composto pelos dois, Charles Mingus e Joni Mitchell, e que recebeu o nome do contrabaixista.
O disco só seria editado pouco depois da morte de Mingus, a 5 de Janeiro de 1979.

As palavras de Joni Mitchell começam logo por lembrar Lester Young por via de Charles Mingus.

When Charlie speaks of Lester
You know someone great has gone
The sweetest swinging music man
Had a Pork Pig hat on
A bright star
In a dark age
When the bandstands had a thousand ways
On refusing a black man admission
Black musician
In those days they put him in an underdog position
Cellars and chittlins'

Com esta música encerro a mensagem anterior o Happy Birthday do penúltimo post - ficam a primeira e a última faixa de Mingus.
É merecido.


 
Versão de Shadows and Lights, disco ao vivo de Joni Mitchell (1980)
 
 

Aos cogumelos

A associação micológica A Pantorra e a C.M. de Alfândega da Fé promoveram uma saída de campo dedicada à apanha, identificação e degustação de cogumelos silvestres na Serra de Bornes.
Pretende-se valorizar os recursos locais e dar a conhecer boas práticas na apanha das espécies micológicas.
Pelo que vi na televisão, foi bom.

Vivam as castanhas, o azeite, as nozes, as espécies micológicas e as Pantorras que as animam!

Happy Birthday à Gínia



 
A faixa de abertura de um disco maravilha de uma das minhas cantoras preferidas.
 
Votos de um ano feliz para uma das mais activas e alegres fbookers que já vi.
 
 

Sogras, quem as tem chama-lhes suas

Em homenagem aos 85 anos da minha sogra.


 
 

Forma de inocência

 
Era uma vez um menino
Que não era nada feio
O que tinha de extraordinário
Era um feitiço no meio

Primeira quadra de António Gedeão/Rómulo de Carvalho, nascido a 24 de Novembro de 1906, feita aos 5 anos de idade.

Hei-de morrer inocente
exactamente
como nasci.
António Gedeão, Forma de inocência
in Movimento perpétuo
 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Alpendre

«Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento ou alguma alma pecadora forçara a fechadura.»
Miguel Torga, Natal
Novos Contos da Montanha

Capela de Nossa Sr.ª da Azinheira,
local onde Torga situa o conto
O Garrinchas, diante do bom acolhimento da Santa e do Menino, ceou na Sua companhia, indignamente fazendo de S. José.


P.S. - Também entrei no Alpendre, de certa forma como entro num espaço religioso.

Mega-agrupamentos" fragilizam" autonomia das escolas

Mega-agrupamentos" fragilizam" autonomia das escolas - Educação - PUBLICO.PT

O artigo deixa claro o caminho que as escolas estão a fazer em Portugal e a hipocrisia da política de educação.
Nuno Crato, qual aluno subserviente, lá vai poupando uns tro(i)kos.

Nestes últimos tempos

Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças

Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?

Que diremos do lixo do seu luxo - de seu
Viscoso gozo da nata da vida - que diremos
Da sua feroz ganância e fria possessão?

Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?

Que diremos das suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?

Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto

Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?

Sophia de Mello Breyner
Julho de 1976

Natal é quando um Homem quer

Até o Papa continua a desconstruir os nossos sonhos.
Jesus Cristo deve ter passado a ser a única pessoa do mundo que não nasceu no seu Natal.


Em contrapartida, podemos ver confirmada a ideia de que o Natal é quando um Homem quer.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A refundação do Presépio

O Papa refundou o Presépio: o burro e a vaca foram despedidos.

 
 
Consta que a Troika está por detrás desta medida.
Belém ainda não reagiu. O costume!...

Parece que as vacas estão a perder o sorriso!

Tudo se ganha, nada se perde, tudo se transforma

Na leitura só vejo ganhos (até... pelas transformações).
O D. Sebastião da mensagem anterior já estava na estante há algum tempo, à espera de vez. Ganhou prioridade quando tive oportunidade de visitar o Palácio dos Marqueses de Abrantes, local do antigo Paço de Santos-o-Velho, de onde, dizem alguns, D. Sebastião terá saído para embarcar rumo ao Norte de África.
No jardim está a mesa onte teria tomado a sua última refeição antes desse momento. Parece-me muito pequena para alguém com a mania das grandezas!


Pensando perseguir algumas curiosidades sobre o Paço - e D. Sebastião saltava de Paço em Paço com grande regularidade - dei comigo a viver as angústias de um reino, graças ao queimar das pestanas e da luz dos olhos de quem "consulta alfarrábios e documentos de leitura velha e difícil, para achar a verdade dos sucessos", neste caso, mais os insucessos.

Miguel Leitão de Andrada
Não ganhei o Paço, pouco referido, mas encontrei um curioso Miguel Leitão de Andrada que desconhecia por completo. Distracções, porque ele e a sua Miscellanea (disponível no site da Biblioteca Nacional) são referidos em vários livros sobre Lisboa, pois o nome Andrada (ou Andrade) está ligado à urbanização do Bairro Alto.
Distracções, também, porque a última faixa de um dos meus primeiros CDs (remoto ano de 1992), O Lusitano, é um romance com uma belíssima música de autoria desconhecida e versos de Miguel Leitão de Andrada.
Primeiros versos do romance:


Puestos estan frente a frente
Los dos valerosos campos,
Uno es del Rey Maluco,
Otro de Sebastiano
El Lusitano.
Moço, animoso y valiente,
Robusto, determinado,
Aunque de poca experiencia
Y no bien aconsejado,
El Lusitano.

O tema é, portanto, o da batalha de Alcácer Quibir, onde Miguel de Andrada, o vidente que muito admirava o rei, pelejou rijamente e foi feito prisioneiro. Do mal o menos, pois conseguirá fugir passados uns anos. Será dele o primeiro documento, uma carta, a dar conhecimento ao país da derrota do exército de D. Sebastião.


 
 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Faz falta conhecer a História

«D. Francisco [de Portugal, 3.º Conde de Vimioso] via com grande inquietação os outros vedores enumerarem as já tão parcas riquezas do reino a que o Desejado se preparava para deitar a mão, a fim de sustentar a sua custosa cruzada, deixando de fora os particulares e todos aqueles que maiores bens possuíam e mais mercês haviam acumulado (...)»
Diana Barroqueiro, D. Sebastião e o vidente

Não sei se terá sido a melhor opção, nestes tempos de uma pátria "metida no gosto da cobiça e na rudeza duma austera, apagada e vil tristeza", ler este D. Sebastião.
Ler, sobretudo, a parte final do livro - O Cavaleiro do Desastre - que não pode deixar de causar engulhos pela similitude de situações e formas de agir, pela inconsciência/falta de preparação de quem governa, desconhecimento das realidades sobre as quais se quer intervir, incapacidade de ouvir, pensar e agir, tendo em consideração o que deveria ter sido incorporado de conhecimento.

A forma de gastar também é nossa velha conhecida.
E no pessimismo, aparentemente só a fé nos deuses aguenta os mais lúcidos.

«(...) D. Francisco seguiu-o, imerso em negros pensamentos, rogando a Deus a graça de inspirar à Monja de Lisboa um vaticínio que o fizesse desistir ou pelo menos adiar para tempos de maior abastança a sua onerosa empresa, pois só um portentoso milagre poderia salvar o reino, se D. Sebastião persistisse em arruiná-lo com as medidas que ali tinham sido propostas e não tardariam a ser aplicadas aos seus já tão empobrecidos vassalos.»
idem

O livro é já de 2006, pelo que não se pode dizer que a autora foi influenciada pela crise.
Quanto aos governantes... deviam ler mais e conhecer melhor a História. Fazia-lhes bem! Podia ser que aprendessem alguma coisa.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

De passagem por Cádis

Volto a Cádis mais cedo - 1578 - por causa de outra leitura: D. Sebastião e o vidente, de Deana Barroqueiro.

Baía de Cádis (1613)
D. Sebastião, tendo saído de Lisboa a caminho do Norte de África (da fatídica jornada de Alcácer Quibir), passou por Lagos, onde embarcaram os terços do Alentejo e do Algarve, e por Cádis, onde esperava embarcar os soldados fornecidos por Filipe II.
Acontece que Filipe II, rei de Espanha e seu tio, não se quis comprometer com a expedição.
D. Sebastião foi muito hospitaleiramente recebido - uma recepção feita pelo Duque de Medina Sidonia, Governador e Capitão General da Andaluzia, com banquetes, muitas festas, touradas...
A armada portuguesa permaneceu no porto de Cádis entre 28 de Junho e 7 de Julho, data da saída em direcção a Marrocos.
Há quem sustente que este tempo de espera em Cádis, tal como depois em Arzila, foi fatal para D. Sebastião: o sultão Ali teve tempo de fazer avançar o seu exército sediado em Fez.

Baía de Cádis (1700)


domingo, 18 de novembro de 2012

Cádis, a Constituição de 1812 e a liberdade de imprensa

A Cimeira Ibero-Americana decorreu nos últimos dias na cidade de Cádis.
Esta terá sido uma forma de homenagear a cidade onde, há 200 anos, foi aprovada, nas chamadas Cortes de Cádis, a 1.ª Constituição liberal espanhola.
Nessas Cortes, realizadas na Igreja de S. Filipe Neri, tiveram ainda assento os representantes das colónias espanholas das Américas, territórios que hoje são países independentes e participantes na Cimeira.

Mas porquê Cortes em Cádis e numa igreja?
A Espanha era um país ocupado pelas tropas de Napoleão, no contexto da Guerra Peninsular.
Cádis, pela sua localização geográfica, era uma cidade cercada mas quase impossível de ocupar. E não estava isolada, porque conseguia ter acesso ao mar. Na cidade, os representantes às Cortes ocupavam refúgio para os seus trabalhos constituintes, fora do alcance da artilharia francesa.
Cádis era um símbolo da resistência espanhola, o seu próprio centro, ironicamente a defender os princípios liberais que os franceses sitiantes tinham proclamado uns anos antes.


«Mesmo depois de ano e meio atolados no monturo de vidas e de esperanças que é Cádis, cu da Europa e úlcera do Império, com o raio da Espanha rebelde reduzida a uma ilha inconquistável.»
Arturo Pérez-Reverte, O Assédio

O ambiente em que funcionavam as Cortes é descrito por Arturo Pérez-Reverte em O Assédio.

Uma focagem da Constituição de Cádis é a do seu papel como modelo para outros países, incluindo Portugal, em 1820, e o facto de constituir um dos marcos históricos da afirmação da liberdade de imprensa no mundo. A Constituição contempla a liberdade de escrever, imprimir e publicar ideias políticas "sem necessidade de licença, revisão ou aprovação prévia" como um dos esteios da cidadania.
Com a sua aprovação a 19 de Março de 1812 foi constitucionalmente instaurada a liberdade de imprensa.


P.S. - Talvez volte a Cádis, a propósito do livro de Pérez-Reverte.

sábado, 17 de novembro de 2012

Mais de 20 anos

Ana Sofia, só fiquei na dúvida se a mensagem devia ser colocada hoje ou se devia ser deixada para amanhã. "Ontem de manhã, quando acordei...", canta a Elis.


 
Elis vai bem contigo.
 

Crato, o bom aluno


O Ministro da Educação porta-se bem... aos olhos de Vítor Gaspar.

Abençoada lucidez

José-Augusto França com 90, Júlio Pomar com 86...
Aos 86 anos, Júlio Pomar recebe o Prémio de Artes Casino da Póvoa e continua a trabalhar todos os dias.
Neste momento tem uma exposição na Cooperativa Árvore (Porto) - Atirar a albarda ao ar.
«Algo próprio para os dias que correm, de muito peso e pouco agrado. (...) Atirar a albarda ao ar é uma das coisas em que o burro se assemelha à gente. E é também algo que temos muita vontade de fazer em algumas circunstâncias que não são raras.»



A 10 de Janeiro está prevista a abertura do seu Atelier-Museu, em Lisboa, com projecto arquitectónico de Siza Vieira.

José-Augusto França faz 90 anos

Também José-Augusto França faz - neste caso, faz mesmo, felizmente - 90 anos.
Está vivo e parece que se recomenda!

A Biblioteca Nacional inaugurou uma exposição bibliográfica com 90 livros seus e JAF escreveu um Post-scriptum do autor no catálogo, fazendo um balanço das obras que publicou e... das que pensa publicar.
«(...) acha o autor que noventa anos de idade e setenta e cinco de escrita continuada bastam-lhe para se retirar da vida pública assim preenchida, com mais várias práticas profissionalmente correlativas, em sua biografia. Aqui, a presente exposição bibliográfica, com o paralelo VI Congresso Internacional da Associação Portuguesa de História de Arte marcam uma despedida que o autor muito sinceramente agradece. Sai ele, ao mesmo tempo, de Academias e outras instituições a que pertence e deixa práticas a que ainda se dá - mas voltará à Biblioteca Nacional para satisfazer curiosidades, ao Grémio Literário para almoçar e (isso sobretudo) ao Jardim da Estrela para o café das onze, e os patos e gansos familiares do lago, quando estiver ou vier a Lisboa, de um mais quieto lugar de Anjou que há quarenta anos usa...
Porém, o autor reserva-se publicar ainda três últimos livros que já escreveu, ou quase. Tratará um do decénio 1880-90, período do que disse algures ser, tal como o decénio de 1920-30 (de que já escreveu), momento em que Portugal terá "perdido a História", por assim dizer, e melhor então procurará explicar. (...)»

Fica aberto o apetite para o que serão novas obras de ficção de quem é um dos maiores historiadores de arte em Portugal (Amadeo e Almada Negreiros agradeceriam, se pudessem), crítico cultural, ensaísta, olisipógrafo, escritor (ficcionista), e tudo o mais que tenha a ver com intervenção cultural.
 
E porque lembrou o seu cantinho de Anjou, os mais entusiastas seguidores de Eça de Queiroz e, sobretudo, de Os Maias, gostarão, certamente, de A Bela Angevina, onde descobrimos a fonte inspiradora que está por detrás do romance de Eça.

O desassossego de Saramago

O livro do dito é do "outro", mas o espírito que nos quer desassossegar hoje, mais do que ontem mas tanto como antes, é o de Saramago.
Faria 90 anos.
30 faz a publicação de Memorial do Convento, o primeiro que li.

Um  blog  foi criado para festejar.
E há uma série de iniciativas festejadoras.

«Vivo desassossegado, escrevo para desassossegar.»
JS

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Veneza e o mar

Da História só resta a memória.
 
 
No século XVIII, Francesco Guardi pintava A largada do Bucentauro, presente na exposição As Idades do Mar.

O Bucentauro era aquilo que se pode chamar a embarcação oficial de Veneza, usada nas recepções a altas personalidades e nas festas, principalmente na do Dia da Ascensão.
Nesse dia, para celebrar a festa da união de Veneza com o mar, o Doge embarcava no Bucentauro e, na proximidade da igreja de S. Nicolau do Lido, lançava à água uma aliança de ouro, símbolo dessa união.

O último Bucentauro, aquele que terá sido o mais sumptuoso de todos e que será o representado por Guardi em mais do que um quadro, foi destruído por ordem de Napoleão.

No quadro da Gulbenkian, embarcações secundárias remetem o Bucentauro para segundo plano

Não sei se a festa ainda se realiza ou se, por falta dela, o mar mais se zanga com Veneza.
O romantismo está ameaçado.

Jorge Sousa Braga tem um Plano para salvar Veneza.
Como o poeta avisa,
«A não ser que se tomem as devidas providências, dentro em breve será celebrada na catedral de S. Marcos a primeira missa submarina para alguns cardumes de peixes boquiabertos.»

P.S. - O mais surpreendido será uma solha!
 
 

Hoje, tive falta de "coragem"

 
 O Governo deve ter ido trabalhar (ao contrário do normal).
 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A case of you

Um clássico: uma canção amiudadamente gravada por várias artistas.
A própria Joni Mitchell, autora da letra e da música, tem mais do que uma versão.
 
 
Originalmente editada em Blue (1971), é aqui apresentada ao vivo em 1974
 
 
 A versão orquestrada em Both sides now (2000), disco produzido por Larry Klein
A capa é uma pintura da própria Joni Mitchell (auto-retrato)
«Oh I am a lonely painter / I live in a box of paints» (A case of you)
  

 
O mesmo Larry Klein produziu o último disco de Ana Moura, Desfado, tendo-a "convidado" a cantar A case of you - imagens da produção do disco.
  

 
Versão final de Ana Moura - a música de Joni Mitchell com laivos de fado, pelo som da guitarra.
 
 
No YouTube também há a versão por Cristina Branco, com acompanhamento ao piano.
Fadistas atraídas por Joni Mitchell.
 
 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A nossa história trágica, marítima ou terrestre

Ao ver esta pintura n'As Idades do Mar vi o que parece ser "o nosso fado" - a nossa história trágica, marítima ou terrestre.
Porque assim vamos, levados, levados sim, (com estes homens ao leme), soçobrando às vagas - à ganância e aos piratas e corsários salafrários. Sem honra nem glória, arrumadinhos, bem comportados, enrolados, quais almas penadas.
Ámen.

Vieira da Silva, História trágico-marítima ou Naufrágio

A visita de Merkel a Portugal ou um exercício de culambismo

A postura subserviente, veneradora e obrigada do Primeiro-Ministro e de alguns excitados ministros, ou próximos, face à chanceler alemã fez-me recordar este texto de Miguel Esteves Cardoso.


O Engraxanço e o Culambismo Português
Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele.
Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.
Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores,os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc... Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso. Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada. O menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o escárnio da turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao Presidente do Conselho era ostracizado pelos colegas. Ninguém gostava de um engraxador.
Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos até ao cu. O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a lambe-cu. Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação hierárquica e flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos e lamber um cu. Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se dos Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os estatutos da American Federation of Ass-licking and Brown-nosing.Os praticantes portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do engraxanço e aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do Culambismo.
(...) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão mal tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que a nossa sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de subir na vida, como começa a exigi-lo como habilitação profissional. O culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de culambismo é hoje tão difícil como vencer na vida sem saber falar inglês.»
Miguel Esteves Cardoso, Último Volume
 
 
 
 

domingo, 11 de novembro de 2012

As Idades do Mar



Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia.
Sophia de Mello Breyner
 


 
 

Serviço público

O que a RTP 2 fez há pouco, passando um documentário sobre D. António Ferreira Gomes, o Bispo cujo pensamento e acção incomodou Salazar e que, por esse motivo, foi "convidado a passar férias" no estrangeiro.
Dez anos de ausência do país.

Para um melhor conhecimento da personalidade que foi D. António Ferreira Gomes:


 
 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Casamento improvável

Numa aula de hoje, uma aluna leu a introdução de Maria Alberta Menéres ao "seu" Ulisses. Na última frase a autora afirma que escrever as aventuras de Ulisses para crianças foi "outra aventura".
Quando perguntei a quem é que a escritora pretendia contar as aventuras de Ulisses, a aluna respondeu "Ao seu marido".
Admirado com a resposta, quis ver-me esclarecido. "A quem?"
Resposta já impaciente: "Ao marido. Ao Homero!"

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A consistência das alforrecas (2)


Quando Presidente da República, Primeiro-Ministro e líder do maior partido da oposição tratam dos assuntos políticos por estes meios, está tudo dito.
É difícil descer mais baixo.

domingo, 4 de novembro de 2012

Um riso sério



No Museu da Electricidade a exposição Riso: uma exposição a sério.
A exposição é mesmo séria, mas um pouco apertadinha: não há muito espaço para o riso.
Dizem que são quase 500 obras entre pinturas, desenhos, esculturas, instalações, BD, vídeo, fotografia, cinema e coisas difíceis de catalogar.
Revemos representações de humor, de muitos tipos, não obrigatoriamente riso. O notável Cobrador de impostos, de Brueghel, o Jovem, deixa-nos um sorriso muito amarelo!

Pormenor de Cobrador de Impostos
E o riso faz falta, na medida em que (nos) liberta. É próprio do homem e da sua (nossa) racionalidade. O Homem é o único animal que...
O velho monge bibliotecário de O Nome da Rosa, Jorge de Burgos, considerava o riso uma fonte de dúvida e, sendo contrário à necessária piedade cristã, não devia ser livremente permitido.
«O riso é a fraqueza, a corrupção, a sensaboria da nossa carne.» E queria impedir que o segundo livro da Poética de Aristóteles, que seria dedicado à comédia, fosse conhecido. «(...) aqui inverte-se a função do riso, eleva-se a uma arte, abrem-se-lhe as portas do mundo dos doutos, faz-se dele objecto de filosofia e de pérfida teologia...»
Porque no riso também há diferenças - ou há diferentes risos. Os doutos que riem são perigosos!
«O riso liberta o vilão do medo do diabo, porque na festa dos tolos o próprio diabo aparece pobre e tolo, portanto controlável. Mas este livro poderia ensinar que libertar-se do medo do diabo é sapiência. (...) este livro poderia ensinar aos doutos os enigmas argutos, e a partir daquele momento ilustres, com que legitimar a subversão.»
«Que o riso seja próprio do homem é sinal dos nossos limites de pecadores. Mas deste livro quantas mentes corruptas como a tua extrairiam o extremo silogismo, pelo qual o riso é a finalidade do homem!  (...) a lei impõe-se através do medo, cujo nome verdadeiro é temor de Deus. E deste livro poderia partir a centelha luciferina que transmitiria ao mundo inteiro um novo incêndio: e o riso designar-se-ia como a arte nova, ignorada até de Prometeu, para anular o medo. (...) E deste livro poderia nascer a nova e destruidora aspiração a destruir a morte através da libertação do medo. E que seríamos nós, criaturas pecadoras, sem o medo, talvez o mais próvido e afectuoso dos dons divinos?»
Jorge de Burgos sabia: o homem pode querer criar na Terra o reino da felicidade. Quem detém (e quer muito) o poder não quer essas liberdades. Controla pela acção do medo.

Afastámo-nos do riso, mas a exposição também não terá como primeiro objectivo fazer rir. É, em grande medida, uma exposição de arte, por vezes luciferina, para fazer reflectir sobre o riso (o humor).
O humor (o riso) pode ser um pauzinho na engrenagem (e partir a loiça).


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

À entrada de Novembro

Não há ninguém à entrada de novembro
Vem como se não fora nada.
A porta estava aberta,
entrou quase sem pisar o chão.

Não olhou o pão, não provou o vinho.
Não desatou o nó cego do frio.
Só na luz das violetas se demora
sorrindo à criança da casa.

Essa boca, esse olhar. Essa mão
de ninguém. Vai-se embora,
tem a sua música, o seu rigor, o seu segredo.
Antes porém acaricia a terra.

Como se fora sua mãe.

Eugénio de Andrade, Branco no branco