quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mensagem com seios

 
Mais piada do que o título da notícia (ou a notícia em si - tão pudico, o fb!), tem o texto do lead: o fb "não admite fotos de seios seja em que atividade for".
 
 
Recorde-se o poema de Alexandre O'Neill, homem com sentido de humor.
 
Seios
Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
 
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
 
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
 
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
 
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
 
Por que não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?
 
Quantas vezes
Interrogaste, ao espelho, os seios?
 
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
 
Quantos seios ficaram por amar?
 
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
 
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
 
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em desesperadas, quarentonas lágrimas...
 
Seios fortes como os da Liberdade
- Delacroix - guiando o Povo.
 
Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...
 
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
 
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
 
O amor excessivo dum poeta:
«E hei-de mandar fazer um almanaque
Na pele encadernado do teu seio!»
                         (Gomes Leal)
 
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
 
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
 
Botas, botifarras
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
 
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
 
«Oculta, pois, oculta esses objectos,
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos»
                         (Abade de Jazente)
 
Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
 
Uma roda de velhos despeitados,
Rabujando,
A pretexto do chá...
 
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
 
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
 
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.
 
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.
 
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca
 

René Magritte

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