quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Le problème agraire portugais

As notícias de hoje fizeram-me lembrar...


«Se este povo, soffredor no ultimo ponto, não tivesse por natureza, por caracter e por habito, o mais assiduo e penozo trabalho, a fim de procurar a sua subsistencia que sempre he mesquinha e pobre, se a totalidade destes habitantes, cospindo sangue nas veias todos os dias para tirarem da terra agreste e pouco fecunda escassos fructos (que depois tem de entregar quazi todos ou pagar por hum exorbitante preço), não empregassem hum mecanismo irreflexivo, transmittido desde longos tempos de pais a filhos, elles terião por certo abandonado hum paiz ahonde tudo conspira para os reduzir a classe e condição mizeravel de servos.

Postados pois ante o Soberano e Augusto Congresso da Nação, que tão desvellado se occupa no bem e na felicidade da mesma Nação, os habitantes desta villa [Cantanhede] e seu termo esperão ver hum dia trocados os seus destinos, melhorada a sua sorte, pelas sabias, uteis, a proveitosas reformas porque tanto suspirão os bons portuguezes.»

Extracto de uma petição às Cortes, escrita a 17(?) de Fevereiro de 1821

A Comissão de Agricultura e de Comércio das Cortes Constituintes respondeu... sete meses depois. 
Os peticionários eram aconselhados a tirar proveito das leis entretanto já aprovadas e a esperar pela lei dos forais.

José Malhoa, A sesta dos ceifeiros


P.S.:
Agricultores, trabalhadores agrícolas, proprietários agrícolas (pequenos, médios, grandes)... Associações, Confederações... - representam quem?
Era bom que as notícias explicitassem de quem se está a falar. Os problemas não são iguais para todos (as grandes cadeias de distribuição/grandes superfícies que o digam!...).

* O título em língua francesa corresponde ao do livro, dá um toque de refinamento e remete para a mentoria dos protestos.


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