sábado, 17 de abril de 2021

Ressonância do 17 de Abril de 1969

No dia 17 de Abril de 1969, o Presidente da República, Almirante Américo Tomás, e os ministros da Educação (José Hermano Saraiva), da Justiça e das Obras Públicas deslocaram-se a Coimbra para inaugurar o novo edifício de Matemáticas na Cidade Universitária.
Apesar do forte dispositivo policial, a comitiva foi recebida por um mar de capas negras com cartazes em protesto. 

O Presidente discursou no novo edifício perante um público de apoiantes, porque os estudantes foram mantidos fora da sala onde a reunião estava a acontecer. No final do discurso, o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (Alberto Martins) subiu para cima de uma cadeira com a capa aos ombros e pediu a palavra "em nome dos estudantes de Coimbra". 
A palavra não lhe foi dada: o Presidente da República, mesmo atrapalhado, introduziu o discurso do ministro das Obras Públicas e a sessão terminou logo a seguir. A comitiva presidencial abandonou rapidamente o edifício entre vaias e gritos. 
Foi o início da chamada Crise Académica de 1969.




Homenagem às lutas estudantis pela liberdade e pela justiça

Está em sépia o perfume deste dia,
navegando a memória, cheiro antigo.
Passa a brisa dos dias docemente,
quase luz, melancólica saudade.
Eram negros os corvos desse tempo,
cercando cada gesto, cada passo,
sem tréguas, com ódio, sem pudor,
apodrecendo mais em cada dia.
Abrimos a janela do futuro
num incêndio de paz e juventude.
Rasgámos o cinzento que doía,
respirando por dentro da alegria.
Quantos anos passaram desfilando
por glórias, sonhos e paixões.
Deixamos que a memória nos semeie,
colhemos esse dia e somos sempre.

Rui Namorado (Abril de 2021)

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