domingo, 4 de outubro de 2020

A Sé e a antiga mesquita de Lisboa

Sobre a polémica do que fazer em relação às estruturas arqueológicas da antiga mesquita de Lisboa, preservadas sob o claustro da Sé, pronunciou-se - com bom senso, parece-me - um largo conjunto de professores universitários da área da arqueologia.


«Os professores universitários na área da arqueologia entenderam, através do presente comunicado, tomar posição relativamente às notícias que têm vindo a lume sobre os achados de época medieval islâmica surgidos no âmbito do projecto de valorização da Sé de Lisboa.
Por um lado, cumpre-nos sublinhar que os dados conhecidos até ao momento são inequívocos quanto à excepcionalidade científica e patrimonial dos achados, tratando-se de estruturas associadas ao complexo da mesquita maior da cidade de Lisboa em época islâmica, singulares no contexto nacional e relativamente raros no panorama europeu. De resto, já há anos que se conheciam vestígios deste período no claustro da Sé, não tendo, contudo, à época sido possível interpretá-los cabalmente. As imagens até agora divulgadas mostram vários compartimentos de grande monumentalidade, ocupando uma área e com um grau de preservação assinaláveis, tornando imperiosa a sua conservação e desejável a sua valorização.
Por outro lado, é impensável que um projecto de valorização de um monumento nacional, como é a Sé de Lisboa, destrua as suas preexistências. Em Portugal afirmou-se globalmente nos últimos anos o princípio da conservação pelo registo, em que os achados arqueológicos são eliminados de forma sistemática em operações de reabilitação urbana, de saneamento, ou da construção de equipamentos públicos, num equilíbrio sempre frágil entre a preservação do passado e as necessidades prementes do presente. No entanto, o caso presente é o de um projecto de valorização patrimonial, pelo que é paradoxal a eliminação de estruturas desta importância. É de rejeitar em absoluto a ideia de deslocalização dos vestígios, uma prática abandonada há muitas décadas pelas mais elementares normas internacionais. Não é igualmente sustentável que a preservação dos vestígios ponha em causa a integridade da Sé, tendo a engenharia mostrado, em vários pontos da Europa, as possibilidades de compatibilização em situações idênticas à presente. Em todo o caso, não sendo possível a valorização, é sempre viável o seu aterro, regressando-se à situação prévia à deste projecto garantindo, deste modo, a preservação destes achados singulares para gerações vindouras.
A academia está aliás, como sempre esteve, disponível para ajudar a encontrar as melhores soluções.»



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