quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Antonio Tabucchi

 «... Tu nem sequer imaginas como podem acabar subitamente certos Agostos que esbarram contra um Setembro temporão, como um automóvel contra uma árvore, e se encarquilham, esmorecem como uma concertina sem fôlego. Tanta bazófia na canícula da Assunção ou quando o céu nocturno solta os fogos-de-artifício de São Lourenço e os sentidos parecem tão repletos e a vida uma caverna de abóbadas altíssimas, quatro gotas de chuva, porém, o tempo de um corisco, e basta um só dia para engolir esse mês inchado e convencido... A vida também é assim, é como Agosto, dás-te conta que se finou num abrir e fechar de olhos, quando menos esperavas, o elástico encolheu e nunca mais voltará a esticar e o corvo assoma a um canto para te dizer o seu “nevermore”...»

Antonio Tabucchi, Tristano morre


Antonio Tabucchi nasceu em Pisa, a 24 de Setembro.


terça-feira, 22 de setembro de 2020

Tristão e Isolda

Sobre o mar de Setembro velado de bruma
O sol velado desce
Impregnando de oiro a espuma
Onde a mais vasta aventura floresce.

Tristão e Isolda que eu sempre vi passar
Num fundo de horizontes marítimos
Trespassados como o mar
Pela fatalidade fantástica dos ritmos
Caminham na agonia desta tarde
Onde uma ânsia irmã da sua arde.

Tristão e Isolda que como o Outono,
Rolando de abandono em abandono,
Traziam em si suspensa
Indizivelmente a presença
Extasiada da morte.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar



Setembro

«Fica uma quinzena em que setembro executa suas crueldades: o mar acinzenta-se despovoa-se o areal (...) na sala ficamos confrontando o mar perseguindo a viagem dos alísios de verão: minúscula tribo que somos compondo a espera de outro verão muito distante.»

Mário Cláudio, As Máscaras de Sábado



segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Anatomia de Setembro I

«estranha na cidade é a permanência de setembro instantes de suspensão de não se saber onde o quê; presumo que conheça a cidade mas não tão longe como eu nem em iguais rotas de vida já lhe aconteceu os membros desligarem-se do corpo a cabeça levitar transformada em lua? na cidade desse tempo era isto na cidade um esquecimento um túnel onde nenhuma luz cintilava;               ouça; setembro não tem na cidade a mágoa estridente das terras que a natureza preparou para o outono trata-se ainda aqui de uma estação de oiro se me consente o ordinário da frase quando falo em oiro quero que entenda assim na cidade a permanência de setembro é como direi trabalhada a cinzel a bistre;»

Mário Cláudio, Um Verão Assim


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Já posso ser Secretário de Estado!

«Tenho por hábito antigo cumprimentar os meus alunos em Setembro e também os professores, dizendo "Feliz Ano Novo". Faço-o por saber e sentir, enquanto professor que também sou, que, em cada Setembro, vivemos aquele misto entre a ansiedade e o entusiasmo por um ano que começa com novas caras, novos alunos e com muitas sementes de conhecimento por cultivar.»

João Costa (Sec. Estado da Educação)

Assino por baixo
(embora o entusiasmo já tenha conhecido melhores dias, 
consumido pelos anos e por desencantos vários...)



terça-feira, 15 de setembro de 2020

A Democracia apanhou-me de surpresa!

Tão surpreendente como a fosfina, também não sabia que existia um Dia Internacional da Democracia.

Descobri-o, por mero acaso, a escassos minutos de acabar...

«DEMOCRACIA. Tomando como pretexto um dos sublimes frescos de Piero della Francesca na Basílica de San Francesco em Arezzo (meados do século XV), onde a harmonia do Renascimento reside em todo o seu esplendor, recordo que hoje se celebra o Dia Internacional da Democracia. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas em 2007 para destacar, justamente, aquela que é conquista fundamental: o sistema que permite aos cidadãos o pleno exercício de seus direitos, assegurando conquistas sociais, laborais, culturais e políticas, com a sua carta inalienável de direitos e deveres. Luta difícil: recordo os muitos que já sofreram, e que continuam a sofrer, pela sua implementação e desenvolvimento. O dia 15 de Setembro é, por todas estas razões, um acontecimento a assinalar. Com um aviso: a Cidadania democrática, tão aviltada nos nossos dias pelos populismos mais ultramontanos, precisa de ser desenvolvida, melhorada e, como tal, preservada. Não a estraguem: aprofundem-na!»

Vítor Serrão (na sua conta do fb)


Não me parece que muita gente saiba (ou se tenha lembrado) deste dia...


Vénus com vida

 
Uma equipa de cientistas, incluindo a portuguesa Clara Sousa e Silva, divulgou na revista Nature Astronomy que foi detectada fosfina (um gás) nas nuvens de Vénus (a cerca de 50 km da superfície do planeta).

Na natureza (terrestre) a fosfina está associada à presença de organismos vivos.
No ar (na atmosfera de Vénus) paira a pergunta:
Como se terá formado fosfina em Vénus?

Haverá vida para além do défice da Terra?



Luz de Setembro...

 


... o Verão que vai chegando ao fim... 


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Embalando a minha biblioteca

Alberto Manguel fez doação da sua biblioteca - cerca de 40 mil livros - ao futuro (esperemos que próximo) Centro de Estudos da História da Leitura, a ser instalado pela Câmara Municipal de Lisboa no Palacete dos Marqueses de Pombal.


Que seja verdade o seu pensamento:
"Hoje não vais perder uma biblioteca, vais ganhar uma cidade mágica."
E que essa cidade continue a ser "refúgio para o diálogo civilizado"...



Ana Rocha Sousa

Ana Rocha Sousa, nome e personagem que desconhecia de todo, foi consagrada como uma das figuras do Festival de Veneza, ao receber 4 prémios: Leão de Ouro para o Futuro (melhor primeira obra) e o prémio do júri do Orizzonti.
Recebeu ainda o Bisato de Ouro de melhor realizadora e o prémio Sorriso Diverso, da crítica independente.

Listen, o primeiro filme que realizou, aborda a história de uma família portuguesa emigrada em Inglaterra, a quem os serviços sociais retiraram 3 filhos por suspeitas de maus-tratos.

Melhor era difícil!...


Votos de muito sucesso!


Pedro Caldeira Cabral, fadista

Num telejornal da RTP, há pouco, em texto de rodapé, Pedro Caldeira Cabral foi apresentado como... fadista!

O fortuna


domingo, 13 de setembro de 2020

Natália Correia (e Nikias Skapinakis)

 

Encontro de Natália Correia, Fernanda Botelho e Maria João Pires 
(pintura de Nikias Skapinakis, 1974)


As três graças
(como as pintou Nikias Skapinakis)

Mistério três vezes carne
maneira de estar na cor
pondo devagar no tempo
a graça plural de ser
três vezes a mesma flor
homem em tripétalo estado
de entreabertas amadas
em campo de linho sendo
verdadeiras de inventadas

As três graças a que Natália Correia se refere é outro quadro de Skapinakis (sem Natália; quem serão as 3 graças? Uma é Fernanda Botelho, as outras...)


Natália Correia nasceu a 13 de Setembro.


Mestre Aquilino

«Meus queridos camaradas, olhem sempre em frente, olhem para o sol, não tenham medo de errar sendo originais, iconoclastas, o mais anti que puderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do Restelo. Cultivem a inquietação como uma fonte de renovamento. E, enquanto vivermos, façamos de conta que trabalhamos para a eternidade e que tudo o que é produção do nosso espírito fica gravado em bronze para juízes implicáveis julgarem à sua hora.»
Aquilino Ribeiro (num discurso em Março de 1963)


Aquilino Ribeiro nasceu a 13 de Setembro

Por isso, brindei hoje com um Terras do Demo branco...



quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Festa do Avante (ainda)

Voltei à Festa, por causa desta fotografia que encontrei publicada:

Jornalistas - que tanto "ajudaram à festa" -
mantêm o distanciamento físico adequado para conseguirem
entrevistar Jerónimo de Sousa, durante a Festa do Avante.
Como tanto gostam de dizer, Jerónimo devia "estar a reagir"!

«(...) na raiz da maioria dos ataques à realização da festa, tem pouco ou nada a ver com preocupações de saúde pública, e tem muito, ou quase tudo, com razões de natureza política e ideológica.»

Já não sei de onde copiei a frase, mas acho que foi isso.


No tempo em que os jornais ainda eram jornais

«Mas depois há aqueles, como Vicente Jorge Silva, que largam tudo para concretizar o que imaginaram. Que entusiasmam gente e os desviam do seu caminho em nome de uma ideia nova, grande e um pouco louca. Que metem os pés ao caminho para negociar a sua ideia com o mundo real e fazê-la verdade. Que juntam equipas, que as lideram, que têm as dores de cabeça e a pulsação acelerada para que a ideia que poderia não ter passado de sonho esteja nas mãos de toda a gente como realidade.
E depois é preciso mais do que isso. É preciso começar a pensar em nunca acabar depois de se ter nascido. É preciso querer ser mais do que a ideia tornada real, há que querer ser a ideia tornada real dia após dia, todos os dias (menos no Natal e no Ano Novo) ano após ano. É preciso saber fazer nascer, crescer e tornar-se a ideia numa instituição.»
Rui Tavares

Vicente Jorge Silva faleceu ontem
(saudades do Público do seu tempo...)