«Sentia em mim uma natureza rebelde e dócil ao mesmo tempo, um fartar vilanagem na própria altura em que tudo o que nos rodeia está a saque. E, destes escombros, eu sabia que um sentido de equilíbrio me aguentaria nas cristas das ondas. Cada exagero que cometia, sobretudo quando comecei a jogar à batota nos vários casinos, abria-me uma panorâmica que sempre me fornecia algo de benéfico. A coisa que mais me custa na vida é ser normal. E sou obedientemente normal, dramaticamente normal. Todos os dias faço esforços heróicos para ser normal. Preparava-me para a vida sem saber o que era a vida, mas sempre na certeza de que eu era capaz de realizar, arrancar, acordar o morto País cujo cemitério pisava todos os dias. Triste Ilusão! E como iam aos soluços desabando os entusiasmos. E sem perceber, sem nada que me pudesse dar indícios - como se apresentava claro o caso poético da Sophia, flagrante, do cerne - eu era dirigido para a matéria escrita, ia ser escritor por falhar naquilo que era a minha verdadeira vocação – uma carreira de homem público.»
«O homem desempenha na modelação da paisagem um papel muito
importante; pode ser considerado, neste aspecto, como um autêntico criador de
beleza. Toda a actividade humana tem como fim a satisfação das suas
necessidades, quer espirituais, quer materiais. (…) A paisagem terá de ser
considerada como um todo orgânico e biológico em que cada elemento é
interdependente, influenciando e sofrendo da presença dos restantes
participantes. A reciprocidade é a lei fundamental da natureza.»
Gonçalo Ribeiro Telles (1956)
Gonçalo Ribeiro Telles
“sempre nos ensinou que a democracia para se consolidar precisa de cuidar da
memória e da cultura, como factores de humanização – de modo que o ser
prevaleça sobre o ter e que a dignidade humana seja o denominador comum da vida
em sociedade.” (Guilherme d'Oliveira Martins)
Surpresa por encontrar Maria Velho da Costa na música de Jorge Palma.
Fez a tradução (ou recriação) de poemas para as canções da peça Carta a uma Filha, de Arnold Wesker.
Às vezes não damos pelas coisas, e depois começamos a tropeçar nelas sistematicamente.
Escrevemos juntas as "Novas Cartas Portuguesas": Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e eu. Então, foi uma aventura única, nas nossas vidas. Hoje,com a morte da Maria Velho da Costa, há em mim esta queda, esta incredulidade, este imenso vazio..
«Na adolescência, vivemos com naturalidade no sublime. E se aí ele não nos eleva um pouco acima de nós mesmos, corremos o risco de o falhar para sempre. Foi dessas alturas que eram da vida, de sonhos vagos, de vertigem inocentes e duradouras do coração que o ‘Tempo da Guarda’ foi feito para mim.»
Eduardo Lourenço (entrevista ao JL, 8 de Maio de 1996)
A Europa da Comunidade Europeia?
Que Comunidade?
Qual "sobressalto"?
Europa e o Touro - fresco da cidade de Pompeia
Botero, O rapto de Europa
Da Declaração Schuman (9 de Maio de 1950): «A paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criadores à medida dos perigos que a ameaçam. A contribuição que uma Europa organizada e viva pode dar à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacificas. (...) A Europa não se fará de um golpe (...): far-se-à por meio de realizações concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto.»
Exactamente há 75 anos terminava a guerra na Europa.
8 de Maio de 1945, às 23.45 h, em Karlshorst (subúrbio de Berlim), o marechal-de-campo Wilhelm Keitel assinou a capitulação incondicional da Wehrmacht.
Foi a formalização do fim da II Guerra Mundial na Europa.
No dia anterior, na cidade francesa de Reims, já tinha sido declarada a "capitulação incondicional de todas as tropas de terra, água e ar (...) diante do supremo comandante da Força Expedicionária Aliada". As operações bélicas iriam ser suspensas às 23.01 h do dia 8.
Mas em Reims não estivera nenhum representante do alto escalão do exército soviético.
Teria sido esse o motivo para a formalização (repetida) da rendição nazi.
S'ajuntórum las três comadres...
(não consigo escrever o u com til...)
A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria
Gaiteiros de Lisboa, La Sarandillera em Invasões Bárbaras (1995)
Miranda do Douro
Né Ladeiras, La Çarandilhera em Traz os Montes (1994)
Canção da zona de Vimioso.Çarandillera (ou çarandilleira, ou sarandilheira, entre o mirandês e o português) é a mulher que usa a saranda, instrumento com crivo utilizado na eira para separar o cereal da palha.
Sarandear (çarandar) tem o significado de peneirar com saranda, mas também de vadiar; andar de um lado para o outro; mexer-se. Ver dicionário português/mirandês.
«Estudiosos (poucos) que calcorrearam Trás-os-Montes, última província musical a ser civilizada, registaram em papel ou fita magnética estes sons seculares que, furando a história, chegaram ao nosso conhecimento. (...) nos cantares de Trás-os-Montes encontramos os valores estéticos que só a Memória cristaliza. Demos-lhes a nossa leitura impregnando-os das linguagens de sons de que é feito o nosso tempo.» (do disco de Né Ladeira, Traz-os-Montes)
A língua que mamei é esta doce portuguesa que me dizem fechada na boca mastigada pela cárie dos pobres e vai-se a ver cantante no meu beiço como flauta de cana vós chamareis-me o bronco da Europa porém o jeito leve na garganta o trilo modulado quem há por essas raias eu pergunto que melhor o conheça? eu sou nesta canção igual que um pássaro nem a crítica aceito do latim vulgar estropeado por um fundo ibérico malsão cá vou dizendo tudo sobretudo a alegria estes espantos com o que tenho à mão, o coração
«Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: — todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; — e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna, com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do Verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter.»
Eça de Queirós, A correspondência de Fradique Mendes