terça-feira, 10 de março de 2020

Boris Vian no dia dos seus 100 anos

Há uns anos adoptei uma definição do que é um bom livro: é aquele que nos faz passar da paragem em que devíamos descer.
Nunca me aconteceu tantas vezes como quando andava a ler O Outono em Pequim.
Devia ser porque andava mentalmente no autocarro 975.

«Amadis Dudu seguia sem convicção nenhuma pela estreita ruela que representava o atalho mais longo para chegar à paragem do autocarro 975. Todos os dias tinha de apresentar três bilhetes e meio, pois descia, com o autocarro em andamento, antes da paragem; tacteou o bolso do colete para ver se ainda tinha algum bilhete. Sim. Viu um pássaro empoleirado num monte de lixo, a bicar em três latas de conserva vazias o que conseguia reproduzir o início dos Barqueiros do Volga; parou, mas o pássaro deu uma fífia e, furioso, levantou voo, resmungando, entre bico, umas obscenidades à pássaro. Amadis Dudu retomou o caminho, cantando o resto da música; mas deu também uma fífia e começou a praguejar.»
Boris Vian, O Outono em Pequim

Boris Vian, o centenário do dia!, engenheiro, escritor (de poesia, novelas, contos, teatro), tradutor, músico de jazz, autor de canções, cantor, crítico musical... E morreu tão cedo!...



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