segunda-feira, 16 de março de 2020

À espera das andorinhas


«Portugal, nos primeiros dias de primavera, é coberto de asas e o céu azul chilreia. Toda a gente espera as andorinhas. As rústicas escolhem os campos; e as outras procuram as vilas, as cidades, a convivência dos homens e os velhos beirais a cair para uma banda. Conhecem as pessoas, entram pelas janelas com familiaridade, e na antiga casa da aldeia até dentro da sala constroem o ninho. […]

Conhecem Portugal a palmos: as eiras do Minho, com alguns punhados de milho, e as vastas eiras do “monte” alentejano; os descampados do sul com alguns pinheiros mansos isolados, e o homem do Algarve que desbrava a terra a fogo e pesca o atum na costa. São elas que põem Portugal em comunicação com o céu, e que fazem a primavera nos primeiros dias de Março. Não há verdadeira primavera nos países onde não há andorinhas.»
Maria Angelina e Raul Brandão, Portugal Pequenino (1930)


Manet, As andorinhas


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