sábado, 2 de novembro de 2019

Epígrafes

«A residência no estrangeiro, abraçado a um exílio com tanto de voluntário como de empenhado, contribuía sem dúvida para a escassa validação do escritor no seu berço pátrio, sempre disposto a esquecer os filhos que transpõem as fronteiras, votando-os ao silêncio em que se detecta o amuo da imaturidade, ou o castigo da independência. Respeitado pelos seus pares como uma voz importantíssima, se bem que no entusiasmo algo tépido, autorizado pela inveja que não se contém, Sena lutaria contra semelhante ostracismo, usando a tenacidade risonha com que retrucava, ao acusarem-no de falar demasiadamente de si mesmo, "Se não for eu a fazê-lo, quem o fará por mim?"»
Mário Cláudio, A Alma Vagueante


«Tenho horror de falsas modéstias, de facto. Mas tenho ainda maior horror da mediocridade que se compraz em recusar-se a reconhecer o que a excede. Não, não sou um dos meus mais seguros admiradores. Se o fosse, seria como a maioria dos membros da vida [literária] portuguesa, tão satisfeitos de si mesmos [que escrevem sempre um livro pior que o anterior]. O problema não está em eu me considerar muito grande - mas sim em os outros serem, na maioria, tão pequenos. (...) O mais que fazem é louvar às vezes um medíocre ou desenterrar um morto, com medo da sombra que lhes seja feita. A diferença entre mim e eles é que não temo o juízo do futuro, e não procuro tapar o sol com uma peneira. Não: a minha segurança é total e absoluta: ninguém pode destruir-me senão eu mesmo.»
Jorge de Sena, Entrevistas


Nesta data centenária, a RTP epigrafa Jorge de Sena como "um dos intelectuais mais influentes do século XX português". Para compensar...




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