quarta-feira, 26 de junho de 2019

Corrupção

Corrupção, sim, é preocupante, mas...
A Matemática é uma ciência, sim, mas... os mesmos números passam a ser outros - permitem diferentes leituras, mais ou menos ínvias, conclusões várias, umas mais iguais do que as outras.
E os jornais adoptam ou adaptam leituras e alinham conclusões que nos deixam dúvidas.

Observador


Expresso
Se os países que integram o Greco (Grupo de Estados Contra a Corrupção) são 49, por que razão o gráfico só traz 35?
A República Checa, onde se prolongam as manifestações contra a corrupção no Governo e se pede a sua demissão, e a Hungria, onde os relatórios sobre o assunto nem têm divulgação pública, não fazem parte dos 49?
Qual é o grau de não concretização para se considerar que pertencem ao grupo dos que não cumprem (neste caso 16 países)?
A nossa vizinha Espanha nem uma medida tem implementada, mas essa leitura não é feita. Realça-se a maior percentagem de medidas por implementar em Portugal.
Quanto ao que diz respeito aos deputados, a TSF afirma que 60% dessas recomendações não estão cumpridas de todo, o Expresso diz 75%. Em ambos os casos será muito, mas como se podem recolher números diferentes para a mesma questão?
Mark Twain (acho que era ele) dizia que há as grandes mentiras, as pequenas mentiras e... a estatística.
A corrupção de uns pode ser melhor do que a corrupção de outros?
Seria bom que os meios de comunicação fossem mais rigorosos nos títulos e no desenvolvimento da informação - muitas vezes parece haver, apenas, um copy and paste de um texto inicial.

Mas, sim, a corrupção é preocupante.
Não sabemos se tem aumentado ou se tem diminuído.
Temos a percepção de que há mais corrupção, mas tal poderá acontecer porque mais casos são tornados públicos.
Antes não existia (ou só existia à boca pequena) porque não havia a sua divulgação. Agora, ao menos, fala-se. Água mole...

O estudo da corrupção abrangida pelo Greco diz respeito à acção dos deputados, dos juízes e dos magistrados do Ministério Público.
No caso de Portugal, é relativamente aos juízes que não foi aplicada nenhuma das recomendações do Conselho da Europa - talvez porque o respeitinho seja bonito e não se queira ofender a corporação. Pela medida aprovada, por maioria, em Maio, os juízes conselheiros vão poder auferir de uma remuneração mensal superior à do primeiro-ministro. O tecto salarial será o salário do Presidente da República. Falta encontrar uma maioria para aplicar as ditas recomendações.

Os magistrados, neste momento, estão em greve, mobilizados contra as propostas de alteração do Estatuto do Ministério Público (MP), acordado pelo PS e pelo PSD. Pode ser que acordem mais qualquer coisa. Os magistrados temem o controlo político do MP. O Presidente da República, no meio destas notícias e de vários discursos troantes sobre corrupção, declarou o seu apoio à Procuradora-Geral. Os deputados, a tratar da revisão do Estatuto do Ministério Público, procuram resolver a questão do paralelismo remuneratório entre magistrados do MP e juízes, impondo unicamente como tecto salarial a remuneração do Presidente da República.

Quanto aos deputados, dizem que estes estão a andar muito devagarinho no que diz respeito ao seu próprio controlo. Há uma Comissão a tratar da transparência e coiso e tal... Há poucos dias ficámos a saber que o Parlamento, embora tenha acabado com as subvenções vitalícias em 2005, deixou “um enredo legislativo” que permite aos antigos titulares de cargos públicos e políticos acumularem, sem limite, pensões mensais vitalícias com pensões de reforma ou aposentação. Quem chama a atenção para o imbróglio são os juízes.

Neste caldinho contexto, e porque já só faltam 3 meses para as eleições legislativas, não parece haver oportunidade para tratar da aplicação das recomendações do Conselho da Europa.
O relatório do Greco relativo a 2019 não será diferente no que diz respeito a Portugal.


A Mosca, de Luís Afonso, no fb da Antena1


«Quando meus olhos estão sujos da civilização, cresce por dentro deles um desejo de árvores e pássaros»
Manoel de Barros




Ou, voltando à nossa frase iniciadora:

«Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros.»
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano 

ou para o sorriso das vacas...


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