sábado, 16 de fevereiro de 2019

Os rankings das escolas

«Todos os anos as escolas portuguesas são ordenadas pelas classificações médias dos alunos nos exames nacionais. Do ponto de vista técnico, estes rankings são uma fraude. Em termos práticos, produzem efeitos contraproducentes. Não é o seu rigor nem as suas implicações que explicam o destaque que os media lhes dão. Os rankings são visíveis porque são polémicos e uma polémica acesa é sempre motivo de notícia. Mas, além de atraírem audiências, para que servem? 
Quando surgiram em Portugal, em 2001, os rankings das escolas reflectiam uma tendência internacional na condução das políticas públicas. A ideia era simples. Numa sociedade complexa em que a comunicação é tudo, os decisores políticos só dão atenção aos temas que aparecem nos media. Para conquistarem o palco mediático, as mensagens têm de ser simples e curtas. Se puderem ser transmitidas em números, tanto melhor.
(...)
Os rankings das escolas ajudaram de facto a atrair as atenções para o problema da qualidade da educação em Portugal. E mudaram o comportamento dos actores do sistema de ensino (alunos, professores, encarregados de educação, directores escolares). Menos óbvia é a bondade destas transformações.»
Eduardo Paes Mamede, DN



De Paulo Guinote, em O Meu Quintal:
  • Prefiro que exista alguma (ou mais) informação do que nenhuma ou excessiva (o chamado Big Data) por vezes destinada a baralhar tudo.
  • Dados apenas dos exames são redutores, em especial no Ensino Básico quando ficaram reduzidos a duas provas no 9.º ano, pois não permitem qualquer tratamento ao longo do tempo, ao nível da coorte de alunos.
  • Os rankings reflectem apenas uma dimensão do desempenho dos alunos das escolas e devem ser enriquecidos com variáveis de contexto (que as escolas privadas não fornecem) que já são divulgadas há alguns anos, antes deste mandato, com destaque para o trabalho do Público nesse particular.
  • Há no ME informação muito vasta que permite caracterizar de forma adequada a realidade de cada escola de forma estatística, mas não a forma como, internamente, se desenvolvem “micro-políticas de avaliação/sucesso”.

«Há três espécies de mentiras: as mentiras, as mentiras sagradas e as estatísticas.»
Mark Twain


Nesta fase, os rankings já "não me aquentam nem me arrefentam"...
Preocupado estou, com o caminho que a educação leva, na esteira daquele que a sociedade segue. 
A realidade escolar não é uniforme - os meios em que as escolas se inserem são múltiplos, mas, numa escola básica da zona metropolitana de Lisboa, consigo antever determinados comportamentos por parte de alunos meus: egocentrismo, desrespeito pelos outros, por princípios e regras fundamentais, violência.

A facilidade de acesso aos meios de informação é confundida com conhecimento. As aulas não lhes agradam, por serem uma forma antiquada de aprendizagem de conteúdos sem interesse - "uma seca", quando eles "já sabem tanto" - têm o mundo nas falangetas! 
Pondo as coisas de forma mais radical, a sensação que tenho, cada vez mais frequentemente ou com um número cada vez maior de alunos, é que estou a pretender que "cavalgaduras" aprendam, o que não é possível, por se considerarem já "puros-sangues". 
Perdoem a linguagem cavalar, quando o desajustado serei eu!...

Escreveu Afonso Cruz, "é muito difícil, senão impossível, explicar a um néscio a importância da cultura, pois ele não tem cultura para perceber a falta dela." 

Talvez por isso, à escola é apontado o caminho da "pedagogia fofinha".
Será o reconhecimento de que não os podemos vencer e, por isso, nos devemos juntar a eles.
Escreveu Daniel Sampaio (JL-Educação, 2 de Janeiro): "Dos jovens 29,6% diz não gostar da escola, a matéria escolar é demasiada para 87,2%, aborrecida para 84,9% e difícil para 82%. Estes dados mostram a necessidade urgente de revisão curricular".
Proponho que sejam os jovens a fazê-la.
Não se esqueçam de chamar aqueles meus alunos que acima referi.
Sejamos inclusivos!


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