«La photographie est devenue un prétexte pour aller vers l’autre, vers ceux qui par leur mode de vie simple, communautaire et chaleureux, me sont proches.»
Georges Dussaud
«Trás-os-Montes é muito fotogénico. É teatral. Os interiores são rústicos, com a luz crua da pintura holandesa, como nos interiores de Vermeer. Trás-os-Montes é uma região autêntica. Autêntica, mas não folclórica. Miguel Torga dizia que quando os camponeses saem para o campo com o rebanho parece que levavam uma constelação de estrelas atrás do capote. É isso. É essa poesia.»
(Georges Dussaud, quando da inauguração do Centro de Fotografia com o seu nome, em Bragança)
Georges Dussaud foi homenageado, há dias, em Bragança.
«Os pobres só têm uma utilidade para o nosso país, votar com diploma de burro no bolso.» A fazer fé na comunicação social, frase proferida por Jair Bolsonaro, entretanto eleito Presidente da República Federativa do Brasil.
«Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.»
Nelson Rodrigues
Não chamo idiota ao eleito, esse é "chico-esperto", se aproveita dos idiotas.
Exposição que celebra os 90 anos de idade de João Abel Manta e os 40 anos da publicação do conjunto de desenhos Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar.
A exposição inclui, também, trabalhos em que o autor reflecte sobre Portugal e a sua História, abrangendo o período pós-Salazar e o PREC.
«Nascido em Lisboa em 1928, João Abel Manta alinhou desde cedo
pela oposição ao Estado Novo enquanto dividiu a sua vida profissional e
artística pela arquitectura, a gravura, o desenho, o cartoon, a cenografia, a
ilustração e o design gráfico. Premiado no país e no estrangeiro, os seus
desenhos e colagens para a imprensa durante o marcelismo e o período revolucionário
de 1974-75 deram-lhe fama duradoura. Deixou-nos uma obra-prima chamada
Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar (1978).»
«Um individualista assim, de tamanhas ferocidades contra o
fácil e o demagógico; um artista tão trabalhado e paciente como uma pétala de
mil nervuras; e sempre que necessário tão directo (às vezes em perfil grosso,
sublinhado). A recusa de João Abel às seduções do habitat dos artistas
contentados vem daí, do traço natural da sua exigência.»
«(...) em vez da galeria foi-se ao jornal e ao cartaz, em vez do
investimento plástico do cheque e da glória à vista, empenhou-se na crítica
imediata da nossa realidade de todos (...)»
O historiador Borges Coelho parece ter sido (re)descoberto, agora que cumpriu os 90 anos de vida (7 de Outubro).
Foi ouvido pela Agência Lusa (e citado em vários jornais) a propósito do Museu das Descobertas ou da Expansão ou qualquer que seja o nome que venha a ter, são reeditadas obras suas e a Editorial Caminho promove um ciclo de palestras em sua homenagem, durante a próxima semana, na Livraria Buchholz (R. Duque de Palmela), sob o título O Trabalho do Historiador (sessões com entrada livre).
Recordo o seu poema Paisagem, musicado e cantado por Luís Cília (1967), poema escrito na prisão de Peniche, onde esteve detido entre 1957 e 1962 O porto e a vila eram a paisagem possível de quem estava naquela prisão.
«Escrevo, sim, mas soberana é agora a modéstia com que escrevo. Há uma discrição fundamental em tudo o que tenho a dizer. A minha voz deverá ser extremamente ténue, delicada, fiel a esse "quase nada" que é a minha parte inalienável.»
«Começo por visitar a casa onde Agustina nasceu. (...) Passamos pela antiga Câmara do concelho, pelo velho pelourinho, e descemos a rua até uma casa de pedra, de fachada ampla, erguida mesmo rente à estrada. Tem portas de armazém e um portão de ferro pintado de prata, que deita para um pequeno patamar lajeado, a partir do qual dois pequenos lanços de degraus de pedra dão acesso à casa. Está quase em ruínas e prestes a ser vendida, anuncia o meu guia. (...) O dono cumprimenta-nos e abre-nos as portas. Acedemos ao pátio, subimos ao andar superior. Atravessamos um largo corredor envidraçado, onde a claridade levanta uma poalha luminosa. Ao fundo, transpondo uma porta pintada de amarelo ocre, há um quarto forrado de papel azul, com uma janela sobre o pátio, onde o sol se reflecte especialmente. Foi aqui, noutro Outubro, que Agustina nasceu. Sei que nessa tarde chovia torrencialmente, "aquela chuva do fim do Verão, ríspida e quase alegre". Virado a Sul, era o quarto mais iluminado e aquecido da casa, mas, nesse fim de tarde chuvosa, lá dentro já devia estar escuro. Suponho que os candeeiros de azeite iluminassem frouxamente o espaço. Que já tivessem caído as folhas das glicínias. E que a água formasse poças no estreito patamar lajeado. Pelas seis da tarde, estando o vento de feição, deviam ouvir-se os sinos do mosteiro de Travanca. Sem que se soubesse, aquela casa convertia-se num lugar.»
Isabel Rio Novo
Agustina Bessa-Luís nasceu a 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã.
«Remodelação ministerial. De surpresa. Mas logo saltam à praça as feras televisivas. São os comentadores e os intérpretes do dia. Eles sabem tudo, dizem tudo, não deixam que ninguém pense pela própria cabeça. Estão todos em grande, em triunfo e em glória - mesmo os poucos que não lutaram por uma causa nem tiveram uma finalidade pessoal na sua ânsia de doutrinação política. Sendo assim, o pobre de mim dispensa-se de pensar, de dizer, de discutir o óbvio e o obscuro.»
«A demissão de Azeredo Lopes é uma derrota do Governo e uma Grande Derrota do Estado. O que deveria ter sucedido era uma GRANDE VASSOURADA numa instituição que goza em Portugal de um estatuto fortemente desajustado da realidade. As Forças Armadas tornaram-se uma casta intocável, um submundo onde tudo pode acontecer impunemente. (…)»
«Nessa Calçada do Sol que só tinha casas construídas de um lado para se ver o longo panorama de Lisboa em que, certa madrugada, ouvi um tiro de canhão para o povo se reunir na Rotunda e descer aos tiros até à Câmara onde se proclamaria a República. Muitos revolucionários usavam chapéus altos e outros, mais radicais, chapéus de coco. (...) Mas a palavra República é que nos apaixonava. Tinha lá tudo dentro e resolvia todos os problemas do mundo - esperança de barrete frígido.»
José Gomes Ferreira, Calçada do Sol
Miradouro do Monte Agudo (ali perto da antiga Calçada do Sol)