domingo, 16 de setembro de 2018

Mau exemplo de jornalismo

Nada altera a opinião do director do Público, Manuel Carvalho.
Por isso escreveu o editorial do passado dia 12.

No dia anterior tinham sido divulgadas as conclusões do relatório anual Education at a Glance, da OCDE.
Verificou-se que dados desse relatório, fornecidos pelo Ministério da Educação (quem mais o poderia ter feito?), são falsos.
Verificou-se que a primeira leitura feita e editada pela comunicação social não só publicitava esses dados de forma acrítica, como fazia uma leitura apressada que distorcia os dados já por si falsos, pervertendo as análises - a comunicação online a isso obriga!

Manuel Carvalho, director do Público, escreveu um editorial sobre o assunto, no dia seguinte: os factos são diferentes, metemos água nas análises (isto não é dito explicitamente)...
«Pode haver de facto alguns erros na informação de base que afectam de forma irremediável as conclusões do estudo, como sindicatos e professores trataram de revelar.»... mas a conclusão é a mesma!

A asneirada jornalística (comum a muitos meios da comunicação social, que nem a reconheceram!) não interessa ao director de um jornal dito de referência.
O que interessa? Fazer vencer a ideia da falta de justeza da luta dos professores pela contagem integral do seu tempo de serviço.
«Ora, os cidadãos terão dificuldade em entender a justeza dessa luta, se souberem que os docentes são relativamente bem pagos e se suspeitarem que as suas exigências são incomportáveis para as finanças públicas.»

A questão concreta da contagem do tempo de serviço é polémica, pelas verbas que envolverá a mais longo prazo, apesar de não acreditar que sejam tantos milhões como os 600 que foram declarados pelo Governo. E nunca se negociou seriamente a medida e os prazos!

Para os professores dos primeiros escalões - que até o relatório e os jornalistas (mesmo os apressados) reconhecem ser os mais mal pagos -, é extremamente injusta a não contagem do tempo: são criadas situações que, não sendo corrigidas ao longo da carreira, limitarão inexoravelmente a vida desses professores - nos vencimentos, na impossibilidade de atingirem os escalões mais altos e nos valores das reformas.
Assim se limitarão, no futuro, os vencimentos dos professores. Existirão vencimentos fictícios, pela não existência de professores nos escalões mais altos.

A opinião, sobre este assunto ou qualquer outro, deve ser livre, mas uma opinião livre deve basear-se em premissas verdadeiras.
Não há verdadeira liberdade de opinião se não houver uma informação livre e verdadeira.
Nos comentários dos media online e nas redes sociais são inúmeros (já o eram antes) aqueles que contestam a luta dos professores e acrescentam comentários de pouco apreço sobre o seu trabalho e os seus (supostos) "privilégios", embora revelem grande desconhecimento - criticam-se, frequentemente, realidades inexistentes - e muitos espíritos ressabiados.

Quando aqueles que deviam informar não se preocupam com a informação que fazem passar... (ao serviço de quem ou de que interesses?) como se costuma dizer: estamos falados!
Como afirmam os nossos (supostos*) críticos "os professores estão velhos, ganham muito dinheiro, trabalham menos que os outros e inventam doenças."
Como afirmava Galileu, "quanto menos alguém entende, mais quer discordar".


* Supostos, na medida em que a maioria dos críticos ignora a realidade sobre a qual se pronuncia. 

P.S. - Ainda serei capaz de assistir à situação da falta de professores... 


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