quarta-feira, 28 de março de 2018

Espólios - o poder não se move pela cultura

Li
e partilho.

ESPÓLIO DE ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA
Confesso que me repugna a atitude dos familiares que leiloam o que constituiu para os seus pais a obra de uma vida. Sim, que a obra não consiste apenas no que se escreve, pinta e esculpe mas também em colecções de livros e de objectos que o defunto levou a vida a juntar. Se a mim, defunta, me fizerem o mesmo, juro que hei-de arranjar maneira de me insurgir contra! Isto a propósito do leilão dos livros e dos pertences de José Hermano Saraiva que agora aconteceu. Alguém que lá foi contou-me. Os comerciantes abutres lá estavam, a arrematar os objectos que ele juntou com tanto amor: entre tantos outros, a olaria de Estremoz, agora património da humanidade, foi muito disputada. (Olho para as minhas peças, que há muito reúno, e fico apreensiva…). E todos os preciosos livros, claro. Essa pessoa que foi ao leilão soube, pela leiloeira, que iam fazer o mesmo à biblioteca do irmão, António José Saraiva – e fiquei estarrecida. Os livros de que se servia eram suculentamente anotados, e não dava posteriormente forma escrita a esses textos. Pergunto-me se irá também a leilão o seu espólio, que até agora não foi encaminhado para a Biblioteca Nacional, onde teria o seu útil assento. Por onde andarão tantos escritos inéditos, tantos documentos de que se serviu para a sua monumental História da Cultura e para toda obra de uma vida inteira dedicada ao estudo e à escrita? E a correspondência recebida de tantas pessoas – que guardaram a dele e a deram à estampa (Óscar Lopes, Luísa Dacosta)? É um século da nossa cultura que não foi ainda arrecadada! Perder tudo isso seria um crime de lesa-cultura que urge evitar – diz a leiloeira que o leilão de A. J. Saraiva está previsto até ao Verão! Por mim farei o que puder para o evitar – mas posso tão pouco! Não me movo nas esferas do poder que cuidam da nossa cultura e que se deviam sentir na obrigação de acudir a este perigo iminente. Quem dá uma mãozinha? Partilhar já ajuda.
Teresa Rita Lopes


Senti o mesmo em relação ao espólio de José Hermano Saraiva (apesar de não ser pessoa da minha simpatia) e à sua própria casa, em Palmela.
O poder não se move pela cultura.
(e as televisões estão mais preocupadas com a derrota da seleção e a não expulsão dos diplomatas russos)


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