E pró ano, já amanhã, estarão de volta!...
sábado, 31 de dezembro de 2016
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
Retábulo da Natividade
Raro por apresentar apenas uma cena - a adoração dos pastores ao Menino Jesus -, o retábulo, de origem flamenga, do século XVI, tem a marca de uma das melhores oficinas de Antuérpia.
«Trata-se do melhor exemplar deste género existente em Portugal, já de uma fase adiantada estilisticamente, onde são visíveis os ecos do Renascimento nascente. Há gosto pelo pormenor, pelo pitoresco, e as figuras humanas estão cabalmente individualizadas. A policromia, bem conservada, é igualmente de categoria, abundando o ouro que tudo cobre.»
Retábulo da Natividade - Museu Machado de Castro (Coimbra) |
«Trata-se do melhor exemplar deste género existente em Portugal, já de uma fase adiantada estilisticamente, onde são visíveis os ecos do Renascimento nascente. Há gosto pelo pormenor, pelo pitoresco, e as figuras humanas estão cabalmente individualizadas. A policromia, bem conservada, é igualmente de categoria, abundando o ouro que tudo cobre.»
Pedro Dias
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
O Cristianismo e a História
«As formas como vivemos o Natal não são indiferentes à História, até porque o cristianismo é uma religião vertiginosamente histórica. Há outras tradições religiosas para quem a História é mais ou menos indiferente, porque apostam tudo na superação ou numa espécie de intervalo em relação à História. O cristianismo pega na História de frente. E, por isso, tudo o que é o fluxo histórico tem uma tradução na vivência do cristianismo. O próprio Natal, em si mesmo, é este cruzamento do eterno com a História e é sempre através daquilo que a História pode ser em cada momento que nós conseguimos olhar para o mistério da fé.»
José Tolentino Mendonça (em entrevista ao Público, hoje)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Entrada do Inverno no rio
Junto ao rio, sobre o rio...
Nascer do Sol
Nascer do Sol
P.S. - E faltava o rio de Camané, que completa hoje 50 anos.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Centenário do nascimento de Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel de Barros
Nomeio o mundo
Com medo de o perder nomeio o mundo,
Seus quantos e qualidades, seus objectos,
E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.
Nomeei as coisas e fiquei contente:
Prendi a frase ao texto do universo.
Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação, um verso.
Vitorino Nemésio
Vitorino Nemésio nasceu a 19 de Dezembro de 1901.
Sobre Vitorino Nemésio afirmou Manuel Nemésio, seu filho: «O meu pai era um amante da vida. Era uma espécie de Internet antes de tempo, com tudo o que tinha lá dentro, embora nunca deixasse de usar o seu lápis e a sua agenda.»
sábado, 17 de dezembro de 2016
O que os rankings não mostram
Texto de João Costa, Secretário de Estado da Educação, no jornal Sol, a propósito dos rankings das escolas que a comunicação social adora (como adora qualquer classificação, porque uma lista ordenada simplifica o que é complexo e a comunicação social parece que tem tendência a só compreender o que é básico!).
E como parece que (finalmente?) temos um Secretário de Estado que percebe de educação...
Não tenho dúvidas de que é interessante para a comunidade saber qual o alinhamento da sua escola com um perfil nacional ou regional de desempenho. Tenho a certeza de que o interesse de uma lista ordenada de escolas é nulo. Mal comparado, é interessante para uns pais conhecerem o percentil de desenvolvimento do seu filho, mas é irrelevante saber qual a sua posição relativa em relação aos bebés todos do país.
Conhecer a qualidade de uma escola implica um olhar muito mais abrangente, pelo que são precisos mais indicadores e é necessário um olhar sistémico. Para isso, o Ministério da Educação tem vindo a disponibilizar mais indicadores, de que destaco: os Percursos Diretos de Sucesso, que medem o quanto a escola contribuiu para a progressão dos alunos; o indicador de desigualdades, que mede a dispersão de notas numa mesma escola; os indicadores por disciplina, que permitem uma análise comparada entre as disciplinas da mesma escola, estabilizando assim variáveis sociodemográficas, que a comparação entre escolas não permite controlar.
Mas há muito mais no trabalho das escolas que não tem sido valorizado e que os rankings não mostram. Trabalho que é essencial para o cumprimento da missão da educação:
1. Inclusão: há escolas que se destacam pelo trabalho absolutamente notável que fazem com alunos com deficiência, valorizando-os e incluindo-os.
2. Mobilidade social: a pobreza ainda é o principal preditor de insucesso, mas há escolas que se destacam por garantir que a correlação entre nível socioeconómico das famílias e resultados escolares não é tão forte.
3. Educação humanista: se os melhores resultados não estiverem associados ao desenvolvimento de um perfil que leva os alunos a colocar os seus conhecimentos ao serviço da construção de uma melhor sociedade, a escola não está a formar bem. Há escolas que desenvolvem um trabalho admirável na promoção de projetos de cidadania, serviço social, trabalho cooperativo. Um 17 a biologia de quem não considera os outros vale menos do que um 15 de um aluno respeitador e solidário.
4. Formação artística e desporto: há escolas que deixam florescer talentos artísticos, que promovem um trabalho notável na promoção da saúde e do desporto. Estas são áreas fundamentais na estruturação dos indivíduos e para as quais não temos ainda indicadores.
A reflexão em curso sobre a avaliação externa das escolas no Ministério da Educação pondera como alargar o leque de dimensões a valorizar. Uma educação integral envolve atingir metas em muitas dimensões. Nem todas se expressam numa nota. Mas sobre todas é preciso obter dados e valorizar o que de melhor se faz. Por isso, precisamos de vários olhares sobre a escola, para que, aos poucos, seja possível tornar visível o que leituras apressadas ocultaram.
Sol, hoje - aqui
domingo, 11 de dezembro de 2016
Elton John ao vivo
O hábito vício que se tornou captar/divulgar o momento, filmar, gravar espectáculos... já me levou várias vezes, esta noite, para o concerto de Elton John (por causa do hábito vício que se tornou estar nas redes).
O som é fraquinho, as imagens péssimas, mas, com meia dúzia de amigos a captarem o momento, já me apercebi que as canções são as que eu ouvia (e, às vezes, ainda ouço) há mais de 40 anos atrás.
Mas faz muito bem em cantar essas, porque são as que valem a pena!...
O som é fraquinho, as imagens péssimas, mas, com meia dúzia de amigos a captarem o momento, já me apercebi que as canções são as que eu ouvia (e, às vezes, ainda ouço) há mais de 40 anos atrás.
Mas faz muito bem em cantar essas, porque são as que valem a pena!...
Todos se PISAm
E todos se empurram para ficar à frente no retrato...
«Na edição do PISA 2015, os alunos portugueses melhoram os resultados em todas as áreas (Matemática, Leitura e Ciências), confirmando a consistência da evolução positiva dos resultados em Portugal que se verifica desde 2000 (a primeira edição do teste internacional PISA). Considerando apenas os 35 países/economias que integram a OCDE, dos 72 participantes no estudo, Portugal alcança agora as seguintes posições: 17.º a Ciências com 501 pontos, 18.º em Leitura com 498 pontos e 22.º a Matemática com 492 pontos, ficando acima da média da OCDE em todos os domínios.»
Quase que me atrevo a dizer, "contrariando algumas loucuras dos últimos ministros da Educação, os resultados (que, como as sondagens, valem o que valem) melhoraram."
É melhor subir do que descer.
O problema é se continuarmos a querer imitar os finlandeses. É que eles estão a descer...
«Na edição do PISA 2015, os alunos portugueses melhoram os resultados em todas as áreas (Matemática, Leitura e Ciências), confirmando a consistência da evolução positiva dos resultados em Portugal que se verifica desde 2000 (a primeira edição do teste internacional PISA). Considerando apenas os 35 países/economias que integram a OCDE, dos 72 participantes no estudo, Portugal alcança agora as seguintes posições: 17.º a Ciências com 501 pontos, 18.º em Leitura com 498 pontos e 22.º a Matemática com 492 pontos, ficando acima da média da OCDE em todos os domínios.»
Informação do Conselho Nacional de Educação
Quase que me atrevo a dizer, "contrariando algumas loucuras dos últimos ministros da Educação, os resultados (que, como as sondagens, valem o que valem) melhoraram."
É melhor subir do que descer.
O problema é se continuarmos a querer imitar os finlandeses. É que eles estão a descer...
Livraria Culsete (afinal) não fechou
#Xmas …16 dias
DECEMBER 10, 2016 ~ ONE SMALL DETAIL
DECEMBER 10, 2016 ~ ONE SMALL DETAIL
Esta sugestão é, especialmente, para todos os setubalenses: este Natal vão à Culsete comprar os livros que querem oferecer!
A “nossa” mítica livraria, que esteve em vias de facto para fechar portas, abriu com nova gerência. Continua tal e qual estava, porque não havia tempo para obras antes do Natal, mas em janeiro vai renovar o seu aspeto.
A “nossa” mítica livraria, que esteve em vias de facto para fechar portas, abriu com nova gerência. Continua tal e qual estava, porque não havia tempo para obras antes do Natal, mas em janeiro vai renovar o seu aspeto.
Retirado daqui
Ao contrário do que escrevi dois posts abaixo, a livraia Culsete (Setúbal) não fechou.
Ainda bem!
Felicidades para quem assumiu agora a sua gerência.
sábado, 3 de dezembro de 2016
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Dia da Livraria e do Livreiro
Desde 2012 que se comemora o Dia da Livraria e do Livreiro, assinalando o aniversário da morte de Fernando Pessoa e de Fernando Assis Pacheco, este último... precisamente numa livraria.
Livraria Culsete, montra que assinalava este dia, no ano de 2013.
A histórica livraria de Setúbal, entretanto, já encerrou...
abriu muito os olhos e as suas mãos pararam sobre o lençol
«Fernando Pessoa pousou a face na almofada e fez um sorriso cansado.
Meu caro António Mora, disse, Proserpina quer-me no seu reino, é tempo de partir, é tempo de deixar este teatro de imagens a que chamamos a nossa vida, se soubesse as coisas que vi com os olhos da alma, vi os contrafortes de Oríon, lá de cima no espaço infinito, caminhei com estes pés terrenos sobre o Cruzeiro do Sul, atravessei noites infinitas como um cometa cintilante, os espaços interestelares da imaginação, a volúpia e o medo, e fui homem, mulher, velho, menina, fui a multidão dos grandes boulevards das capitais do Ocidente, fui o plácido Buda do Oriente ao qual invejamos a calma e a sabedoria, fui eu próprio e os outros, todos os outros que podia ser, conheci honras e desonras, entusiasmos e desânimos, atravessei rios e inacessíveis montanhas, guardei plácidos rebanhos e recebi na cabeça o sol e a chuva, fui fêmea em calor, fui o gato que brinca na rua, fui Sol e Lua, e tudo porque a vida não basta. Mas agora basta, meu caro António Mora, viver a minha vida foi viver mil vidas, estou cansado, a minha vela gastou-se, faça-me um favor, dê-me os meus óculos.
António Mora ajustou a túnica. Prometeu urgia-lhe.
Ó céu divino, exclamou, velozes ventos alados, nascentes dos rios, sorriso inumerável das ondas marinhas, terra, mãe universal, a vós invoco, e ao globo do Sol que tudo vê, vede a que estou sujeito.
Pessoa suspirou. António Mora tirou os óculos de cima da mesa-de-cabeceira e pô-los na cara de Pessoa. Pessoa abriu muito os olhos e as suas mãos pararam sobre o lençol. Eram exactamente vinte horas e trinta.»
Meu caro António Mora, disse, Proserpina quer-me no seu reino, é tempo de partir, é tempo de deixar este teatro de imagens a que chamamos a nossa vida, se soubesse as coisas que vi com os olhos da alma, vi os contrafortes de Oríon, lá de cima no espaço infinito, caminhei com estes pés terrenos sobre o Cruzeiro do Sul, atravessei noites infinitas como um cometa cintilante, os espaços interestelares da imaginação, a volúpia e o medo, e fui homem, mulher, velho, menina, fui a multidão dos grandes boulevards das capitais do Ocidente, fui o plácido Buda do Oriente ao qual invejamos a calma e a sabedoria, fui eu próprio e os outros, todos os outros que podia ser, conheci honras e desonras, entusiasmos e desânimos, atravessei rios e inacessíveis montanhas, guardei plácidos rebanhos e recebi na cabeça o sol e a chuva, fui fêmea em calor, fui o gato que brinca na rua, fui Sol e Lua, e tudo porque a vida não basta. Mas agora basta, meu caro António Mora, viver a minha vida foi viver mil vidas, estou cansado, a minha vela gastou-se, faça-me um favor, dê-me os meus óculos.
António Mora ajustou a túnica. Prometeu urgia-lhe.
Ó céu divino, exclamou, velozes ventos alados, nascentes dos rios, sorriso inumerável das ondas marinhas, terra, mãe universal, a vós invoco, e ao globo do Sol que tudo vê, vede a que estou sujeito.
Pessoa suspirou. António Mora tirou os óculos de cima da mesa-de-cabeceira e pô-los na cara de Pessoa. Pessoa abriu muito os olhos e as suas mãos pararam sobre o lençol. Eram exactamente vinte horas e trinta.»
Antonio Tabucchi, Os três últimos dias de Fernando Pessoa
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Columbano
«Retratista psicológico, pretende cunhar a força ou a singeleza dum carácter na beleza sólida, preciosa da cor. Que outro retrato português tem o vigor, a majestade da "Luva Cinzenta"? Nenhum. Não é retrato: é efígie. É profundamente Pintura e é profundamente Arte.»
Nuno de Sampayo
Columbano Bordalo Pinheiro nasceu a 21 de Novembro.
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
José Saramago
«Na verdade, nasci no dia 16 de Novembro de 1922, às duas horas da tarde, e não no dia 18, como afirma a Conservatória do Registo Civil. Foi o caso que meu pai andava nessa altura a trabalhar fora da terra, longe, e, além de não ter estado presente no nascimento do filho, só pôde regressar a casa depois de 16 de Dezembro, o mais provável no dia 17, que foi domingo. É que então, e suponho que ainda hoje, a declaração de um nascimento deveria ser feita no prazo de trinta dias, sob pena de multa em caso de infracção. Uma vez que naqueles tempos patriarcais, tratando-se de um filho legítimo, não passaria pela cabeça de ninguém que a participação fosse feita pela mãe ou por um parente qualquer (...).
Em relação à data de nascimento que tenho no bilhete de identidade morrerei dois dias mais velho, mas espero que a diferença não se note demasiado.»
José Saramago, As Pequenas Memórias
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Amadeo
«Tudo mexe, tudo vive e palpita e se transforma rapidamente. Um perfil nunca nos aparece imóvel; aparece e desaparece sem cessar. Os objectos em movimento deformam-se em vibrações precipitadas no espaço que percorreram. Nada é absoluto em pintura. Aquilo que ontem era natureza-morta é hoje matéria viva. Os seres animais e vegetais têm uma vitalidade de explosão para fora. Os objectos têm uma vitalidade de concentração para dentro.»
Amadeo nasceu a 14 de Novembro.
Amaeo de Souza-Cardoso
Amadeo nasceu a 14 de Novembro.
sábado, 12 de novembro de 2016
Grantchester Meadows
Ou uns Pink Floyd (e passarinhos...) menos conhecidos.
Ummagumma - grande disco (desvalorizado)!
Ummagumma - grande disco (desvalorizado)!
(...)
Hear the lark and harken
To the barking of the dog fox
Gone to ground
See the splashing of the kingfisher
Flashing to the water
And a river of green
Is sliding unseen beneath the trees
Laughing as it passes through the endless summer
Making for the sea
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
Leonardo Cohen
Entrar no lugar comum...
mas é impossível deixar passar em branco, para quem está nos 50-60 (pelo menos para esses!).
Faz já muito que me deram a conhecer Songs of Love and Hate, que me falaram de Leonardo Cohen e da sua poesia, que o punha a tocar com frequência e que ouvia "alguém" dizer-me: "Lá tens tu essa lesma a cantar!".
Passaram os anos, houve muitas mais canções, mas o meu Leonardo Cohen dificilmente deixará de estar colado a Songs of Love and Hate.
mas é impossível deixar passar em branco, para quem está nos 50-60 (pelo menos para esses!).
Faz já muito que me deram a conhecer Songs of Love and Hate, que me falaram de Leonardo Cohen e da sua poesia, que o punha a tocar com frequência e que ouvia "alguém" dizer-me: "Lá tens tu essa lesma a cantar!".
Passaram os anos, houve muitas mais canções, mas o meu Leonardo Cohen dificilmente deixará de estar colado a Songs of Love and Hate.
Agora reforçamos aquele pensamento de que poderia ter sido ele a vencer o Nobel da Literatura.
Pela mesma ordem de razões por que Bob Dylan o ganhou, poderia ter sido Leonard Cohen o distinguido - fim de carreira.
Como se isso fosse importante...
Com todas as diferenças e alguma semelhança, os dois são uma referência e uma memória.
Se um é "o fanhoso do Minnesota" (Alexandre O'Neill), o outro é "essa lesma" (Clotilde de Jesus)!
Continuo a ouvir os dois.
(e ainda "aquele que tem dores de barriga", mas esse - não identificado - é outra história!)
A castanha
«Mas o fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias, que, puras como vestais, parecem encarnar a virgindade da própria paisagem. Só em Novembro as agita uma inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver numa cama fofa a maravilha singular de que falo, tão desafectada que até no próprio nome é doce e modesta: a castanha. Assada, no S. Martinho, serve de lastro à prova do vinho novo. Cozida, no Janeiro glacial, aquece as mãos e a boca de pobres e ricos. Crua, engorda os porcos, com a vossa licença...»
Miguel Torga, Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes)
Fotografias de Georges Dussaud
Trás-os-Montes - Montezinho (2013-2014)
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
A ninguém preciso dizer adeus
A ninguém preciso dizer adeus:
todos têm suas ocupações, e estão longe, embebidos
em seus enganos, que a felicidade imitam.
A ninguém preciso dizer adeus:
nenhum espaço formará lugar de ausência,
pois a presença nunca formou nenhum espaço.
A ninguém preciso dizer adeus:
parece triste partir assim, sem lembrança nem lágrima.
Não é, porém, mais alegre, desaparecer ao longe
sem ter deixado atrás nem lágrimas nem lembrança?
todos têm suas ocupações, e estão longe, embebidos
em seus enganos, que a felicidade imitam.
A ninguém preciso dizer adeus:
nenhum espaço formará lugar de ausência,
pois a presença nunca formou nenhum espaço.
A ninguém preciso dizer adeus:
parece triste partir assim, sem lembrança nem lágrima.
Não é, porém, mais alegre, desaparecer ao longe
sem ter deixado atrás nem lágrimas nem lembrança?
Cecília Meireles, Dispersos
Cecília Meireles nasceu a 7 de Novembro.
Web Summit
Eu gosto do optimismo...
mas isto parece-me muito "festa e copos"...
não percebo nada de economia moderna...
sou um "bota de elástico"...
Mas estes tipos são piores do que eu!
Estes tipos é que deviam passar por Lisboa...
E beber uns copos...
Bem precisam!
domingo, 6 de novembro de 2016
Valha-nos S. Miguel e o D. Sebastião...
... porque a prática da arte fotográfica pelo povo parece estar a pôr em risco o património.
O dragão contra o qual S. Miguel combateu não lhe provocou tantos estragos...
Mas vamos acreditar na sua recuperação.
«Nesse tempo, aparecerá o poderoso anjo Miguel, que protege o teu povo.» Daniel 12:1
Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de Novembro.
Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar,
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.
Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que tu respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.
Coral
Bibliotecas
«Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.»
Jorge Luís Borges
«As bibliotecas, sejam as minhas, sejam as que partilhei com um público mais vasto de leitores, sempre me pareceram lugares agradavelmente loucos.
Sinto um prazer aventureiro em perder-me entre estantes apinhadas, supersticiosamente confiante de que qualquer hierarquia estabelecida de letras ou números me conduzirá, um dia, a um destino prometido.»
Alberto Manguel
sábado, 5 de novembro de 2016
José Rodrigues - Um corpo
«Um corpo. Um corpo anda por aqui, obsessivamente, é a alma dos desenhos de Rodrigues. Um corpo opulento e magnífico, um corpo trémulo e desamparado. Da desordem instaurada por um Eros errante, a sua mão recolhe, com apaixonada atenção, um seio onde sentiu um coração opresso, a linha ampla de umas ancas friorentas, a curva adolescente e terna de uns ombros nus, a sombra expectante de um sexo, uns dedos abandonados ao acaso das carícias.»
Eugénio de Andrade
Aurélia de Sousa - Interiores
Das exposições comemorativas dos 150 anos do nascimento de Aurélia de Sousa.
Aurélia de Sousa, Cena de interior com senhora |
Aurélia de Sousa, Interior com figura feminina |
Aurélia de Sousa, Interior com mãe e irmã da artista |
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
Germano Silva Doutor
Aos 85 anos, não é preciso que o afirme em letra de forma no currículo.
Basta o trabalho de uma vida, iniciado bem cedo - logo após a 4.ª classe - num percurso feito a pulso, com perseverança, saber e seriedade.
Será difícil encontrar alguém que conheça melhor a cidade do Porto.
Mais do que merecido!
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
terça-feira, 25 de outubro de 2016
Encasacados
Memória de uma ida ao Altinho, junto à Pousada de S. Gens (Serpa), recentemente reaberta agora (2016).
A perna arqueada, estilo extremo, que terá herdado dos tempos de futebolista.
Pouco tempo passaria do 25 de Abril, pelo meu aspecto...
Mas Verão é que não era...
A perna arqueada, estilo extremo, que terá herdado dos tempos de futebolista.
Pouco tempo passaria do 25 de Abril, pelo meu aspecto...
Mas Verão é que não era...
sábado, 15 de outubro de 2016
A literatura é uma fisionomia interior
«Nasci adulta morrerei criança.»
Agustina Bessa-Luís nasceu a 15 de Outubro
«A literatura é uma fisionomia interior. (...) A literatura tem que criar o rosto; manifestar nela a marca que está no fundo de todos os seres e que é a inteligência. Por isso digo que a literatura é uma ciência, uma ciência encíclica em que a arte da palavra origina a tão bela cultura externa que os gregos admiraram. Quanto mais a alma humana estiver distribuída por harmoniosos laços de pensamento, vontade e paixões, mais a literatura será obra digna dos homens e das mulheres que a fizerem.»
Agustina Bessa-Luís, Caderno de Significados
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
Sociedade Recreativa Musical de Carcavelos
Foi fundada a 13 de Outubro de 1901, com o nome de Sociedade União Capricho Carcavelense. A nova designação é de 1912.
1929
Confesso a minha ignorância
Tem sido muito comentado o Prémio Nobel da Literatura atribuído a Bob Dylan.
Isso também se deverá ao facto de os comentadores só conhecerem o Bob Dylan e não conhecerem os vencedores do prémio da Física, da Química, da Economia... e de não compreenderem satisfatoriamente o que foi importante no seu trabalho para terem ganho o Nobel. São áreas difíceis!
Eu estou na mesma!
Bob Dylan?
Houve quem recordasse, na década de 50 a entrega deste prémio a Winston Churchill e a Bertrand Russel. Também fogem ao padrão do escritor...
Fico a pensar nas probabilidades de Sérgio Godinho chegar, também, ao Prémio Nobel.
E Chico Buarque, no outro lado do Atlântico...
O Império dos Pardais
Confirma-se.
(...)
Enquanto os pombos tinham seu império no centro, os pardais continuavam a dominar zonas periféricas da praça. Em sua circulação, carregando gravetos e migalhas, eram por vezes molestados pelas aves maiores, que até chegavam a tirar-lhes a comida que transportavam. Apesar disso, os pardais não desarmavam, e numa ruela contígua a S. Domingos, tinham-se aliado aos estorninhos contra os melros, e ganhavam território, enquanto nas imediações da Rua Nova d'el-rei juntavam-se aos rouxinóis para afrontarem os piscos e as incursões das gaivotas. Outros refaziam aliança com as andorinhas recém-chegadas e dominavam áreas que as pegas tinham por suas e que os pombos também cobiçavam.
Rodrigo olhou demoradamente para os movimentos da passarada. O império estava mudado: adaptara-se à concorrência e reestruturara-se, e os pardais não pareciam perturbados por tais mudanças. Sofriam com paciência as bicadas dos pássaros grandes, pois como era próprio dos animais, eles nunca haviam confundido sua natureza e sempre tinham sabido que eram apenas os pequenos, mas bravos pardais.»
(João Paulo Oliveira e Costa, O Império dos Pardais)
Excerto do início e do final do romance.